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Presas doam cabelo para confecção de perucas para mulheres com câncer

A fila de espera para o atendimento no salão de beleza estava longa para uma manhã de terça-feira. As 12 mulheres que ali estavam aguardavam a cabeleireira chegar. Em meio à espera, elas cochichavam sobre como desejavam o novo corte de cabelo. O salão de beleza: uma pequena sala do Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa (IPF), em Aquiraz (Região Metropolitana de Fortaleza). As mulheres: detentas da unidade. O corte: uma ação para doar as mechas a pacientes com câncer.
Enquanto algumas internas estavam com dúvidas quanto ao tamanho do corte, Antônia do Livramento, 39, não teve a mesma inquietação. “Eu sou mãe de seis filhos, tenho uma neta... Sempre penso que o cabelo pode estar indo para uma criança. A gente não sabe o dia de amanhã, né? Me coloquei no lugar de mãe”. Apesar de o cabelo ser “pouco”, na altura do ombro, Antônia cortou os 15 centímetros necessários para a confecção de perucas. “Fiquei chique”, comemorou o resultado.

As cabeleiras serão doadas a pessoas diagnosticadas com câncer que estão em tratamento no Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio). A iniciativa é parceria da Secretaria da Justiça e Cidadania do Ceará (Sejus) com a Associação Nossa Casa de Apoio a Pessoas com Câncer (antiga Assocrio).

A detenta Patrícia Marques, 40, fez a doação na semana passada, quando aconteceram as primeiras contribuições na unidade. Além dela, outras oito presas também participaram. Patrícia voltou à ação ontem “só para ajeitar as pontinhas”. A determinação de deixar o cabelo na altura do pescoço, antes na cintura, veio da lembrança da mãe. “Ela já teve câncer de mama. Eu acompanhei todo o tratamento, vi o cabelo dela cair. Então, decidi fazer minha parte. O cabelo cresce depois. Aliás, o cabelo e a alegria”. Para Patrícia, o ato é uma forma de liberdade — mesmo aprisionada.

A ação

A representante do Núcleo de Saúde da Sejus, Aline Cabral, conta que as internas demonstravam certo interesse em doação de sangue. “Como não é possível, então partimos para essa questão dos cabelos. Propomos, e elas adoraram a ideia”. A partir da iniciativa, Aline anunciou que o salão de beleza da penitenciária, espaço cedido para as presas uma vez por semana, ficará disponível para doações por tempo indeterminado. “Depois, a gente manda (as mechas) pra Nossa Casa”, assegura. 


Além das doações, as mulheres tiveram palestra com mastologista sobre a prevenção do câncer de mama.

Para a vice-presidente da associação Nossa Casa, Daniele Castelo Branco, a parceria com o órgão estadual foi inovadora. “É a primeira vez que isso acontece, de detentas se propondo a ajudar. Elas poderiam nem ligar para esse gesto, nem se sensibilizar com a causa… Foi uma surpresa pra gente”, afirma. As perucas são confeccionadas pelo projeto Um pedacinho de amor não dói.
Serviço
Para doações
Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio)
Endereço: Rua Francisco Calaça, 1300, Álvaro Weyne
Telefone: (85) 3521 1515

Um pedacinho de amor não dói
Telefone: (85) 9 8730 27220
O Povo

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