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Indicado brasileiro para concorrer ao Oscar tem estreia nacional hoje

Em dado momento de Pequeno Segredo, filme selecionado para representar o Brasil na corrida pelo Oscar 2017, a revelação do segredo-título busca chocar a audiência e levá-la às lágrimas. Contudo, o tal “dado momento” deve ser compreendido como o filme inteiro, pois cada ação desempenhada pelos personagens tem o claro objetivo de arrancar lágrimas do espectador, da forma mais artificial possível.

Frágil e pequena para seus 12 anos, a pré-adolescente Kat (vivida pela estreante Mariana Goulart) lida cotidianamente com bullying e exclusão por parte dos colegas. Sempre acompanhada de remédios, seu grandes sonhos refletem os almejos de uma jovem em sua situação: se dar bem na apresentação de balé, não ser rechaçada pelos colegas e beijar o “crush”. A jovem é a filha adotiva e caçula de Heloísa e Vilfredo Schurmann (Júlia Lemmertz e Marcello Antony), família famosa internacionalmente por viajar o mundo em um veleiro.

A trama dos pais biológicos de Kat, o neo-zeolandês Robert (Errol Shand) e a brasileira Jeanne (Maria Flor) ocorre em paralelo a de Kat, até a inevitável conexão entre as duas famílias. A história é baseada no livro Pequeno segredo: A lição de vida de Kat para a família Schurmann, escrito pela própria Heloísa. O filme, por sua vez, é dirigido por David Schurmann, um dos filhos do casal e que surge na tela por, talvez, um segundo.

Entre uma cena dramática e outra, sempre acompanhada por uma trilha sonora das mais açucaradas, a vida marítima de Kat é deixada de lado, uma das escolhas acertadas do longa, pois evita cair nas histórias já tão exploradas pela mídia. Contudo, se consegue desviar desse clichê, acaba por se jogar em todos os outros. Planos-detalhe que revelam itens que serão importantes para a trama, a familiar que inferniza a vida das pessoas legais, as colegas fofoqueiras, entre outros.

Apesar de Júlia Lemmertz e Mariana Goulart desempenharem um trabalho competente, o roteiro dado às duas oferece muito pouco com o que possam brilhar. Os diálogos soam irreais, tornando as cenas artificiais, fazendo com que a intensidade almejada acabe ficando rasa. Errol Shand é como Steven Seagal: feliz, triste, apaixonado, ou em desespero, sua expressão é sempre a mesma, enquanto Marcello Antony poderia ser substituído por qualquer figurante, sem prejuízo à produção.

Contando com uma montagem um tanto diferenciada pela forma com que as histórias são contadas, Pequeno Segredo possui uma fotografia bem realizada, com imagens bem trabalhadas, ainda que óbvias: nos momentos alegres, tudo brilha, enquanto a tristeza é envelopada numa paleta azul.

Assim, Pequeno Segredo se mostra um filme sem grandes pontos positivos, com o único objetivo de molhar o rosto do espectador com lágrimas. Os clichês e o roteiro superficial acabam por reduzir a experiência a duas horas totalmente esquecíveis.

SAIBA MAIS

Disputa pelo Oscar
Pouco conhecido do grande público, Pequeno Segredo surpreendeu ao ser selecionado para representar o Brasil na indicação pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em setembro. Até então, Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, liderava as expectativas do público e da crítica, após sua boa recepção nas bilheterias e pela crítica em festivas de cinema ao redor do mundo. 

O Povo

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