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Nelson Motta lança guia da música popular brasileira

Nelson Motta lança guia da música popular brasileira daniela dacorso/DivulgaçãoNão são as melhores, nem as mais conhecidas. Mas é uma mistura das duas coisas, temperada pelo gosto pessoal de um dos mais conhecidos críticos de música do país. Assim é a lista das 101 canções que tocaram o Brasil, recém-lançado livro de Nelson Motta.
A seleção abrange um período que vai de 1899, com Ó abre alas, de Chiquinha Gonzaga, até 2003, com À procura da batida perfeita, de Marcelo D2, em parceria com Davi Corcos. Entre uma e outra, Motta repassa quase cem anos de música popular brasileira, abrangendo os primórdios do samba, os anos da bossa nova, o movimento tropicalista e o boom do rock dos anos 1980. Cada faixa selecionada é acompanhada de um texto de uma página, contendo detalhes sobre sua criação e repercussão.
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– Tive uma preocupação de selecionar faixas de diferentes décadas. Não pensei em contemplar várias regiões do país, mas o Rio Grande do Sul está bem representado com Lupicínio Rodrigues – conta Nelson Motta, que incluiu Nervos de aço na seleção.
A maior dificuldade da empreitada de escrever o livro foi não superar o número de canções do título:
– Com a qualidade de nossos compositores, daria para selecionar 1.001 canções com facilidade.
Para abarcar canções importantes que faltaram, Motta preparou um posfácio com o título Bônus track, no qual cita músicas que ficaram de fora, como É o amor, de Zezé di Camargo & Luciano, Você não soube me amar, da Blitz, e Paciência, de Lenine. "Pode-se fazer várias listas de 101 canções", escreveu.
Entre os compositores efetivamente escolhidos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes aparecem em dupla (com Chega de saudadeEu sei que vou te amar e Garota de Ipanema) e sozinhos ou em parcerias com outros autores – não à toa, estão retratados juntos na capa do livro. Ary Barroso, Dorival Caymmi, Cartola, Chico Buarque, Caetano Veloso e Roberto Carlos são outras presenças recorrentes.
Motta admite que o gosto pessoal influenciou as escolhas, mas teve cuidado para não transformar o livro em uma lista de suas preferidas. Segundo ele, uma das escolhidas é uma canção da qual não gosta nada – mas cujo título prefere manter em segredo.
Compositor de sucesso, o autor não se deixou de fora. Entraram dois hits seus: Dancing¿ days, composta em parceria com Ruban Barra e gravada pelas Frenéticas; e Como uma onda, com Lulu Santos. Ao tratar dessas duas canções, Motta escreve sobre si próprio na terceira pessoa: "Nelson começou como letrista na era dos festivais, com 21 anos".
– Foram músicas que realmente tocaram. Não vi motivo para deixá-las de fora – justifica.
Com um texto repleto de curiosidades, de quem viveu ou viu de perto muitas das histórias narradas, 101 Canções que tocaram o Brasil é uma leitura capaz de orientar quem ainda conhece pouco a música brasileira e surpreender ouvintes mais experientes, com detalhes que enriquecem a fruição de músicas que já são previamente conhecidas. Em uma época em que até as mais raras gravações do passado estão facilmente acessíveis a um clique, este livro é um bom guia o leitor começar a fazer sua própria lista de 101 (ou quem sabe 1.001?) preferidas.
10 Canções de 10 épocas diferentes
E a palavra de Nelson Motta sobre elas

1. Ó abre alas, de Chiquinha Gonzaga (1899)
"O sucesso desta canção abriu alas para as marchinhas, gênero que continua vivo no Brasil, e também para o choro e o samba."

2. Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida (1916)
"Sucesso imediato em sua época, este samba de terreiro, nascido numa roda no fundo do quintal da lendária Tia Ciata, estabeleceu o novo padrão que começou a vigorar nos carnavais do Rio."

3. Palpite infeliz, de Noel Rosa (1936)
"Se impôs pela bela melodia, fundamento em que Noel Rosa sempre foi um mestre, e por oferecer uma crônica do samba urbano carioca em seus primeiros anos."

4. Nervos de aço, de Lupicínio Rodrigues (1943) 
"Bastaria para consagrar Lupicínio e seu estilo, que se inspirava em suas próprias histórias de traições e amores desfeitos, em dramas que ouvia em mesas de bar nas noites frias de Porto Alegre."

5. Saudade da Bahia, de Dorival Caymmi (1957)
"Naquele fim dos anos 1950, Caymmi já podia se dar ao luxo de ser o primeiro intérprete de suas canções, antecipando o perfil do `cantautor¿ que se tornou o padrão da MPB nos anos 1950."

6. Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (1963) 
"Inicialmente batizada de Menina que passa, a canção tinha sido criada para um musical, Blimp, que Vinicius planejava mas não chegou a terminar."

7. Construção, de Chico Buarque (1971)
"Chico Buarque mostrou aos seus (poucos) críticos que era muito mais do que um continuador de Noel Rosa ou um ótimo letrista que também fazia música."

8. Inútil, de Roger Moreira, do Ultraje a Rigor (1984)
"Não foi feita com intenções políticas (¿). Mas, graças ao verso `A gente não sabemos escolher presidente¿, citado até pelo oposicionista Ulysses Guimarães, virou um hino da campanha pelas Diretas Já."

9. Resposta ao tempo, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, gravada por Nana Caymmi (1998)
"Virou um clássico que não para de atrair outras grandes vozes, como Milton Nascimento, Leila Pinheiro, Simone e Fafá de Belém."

10. À procura da batida perfeita, de Marcelo D2 e Davi Corcos (2003)
"A pergunta sem resposta é: por que, com a riqueza rítmica da música brasileira e a tradição do partido-alto e dos cantadores nordestinos, demorou tanto a aparecer um rap com base rítmica brasileira?"

101 CANÇÕES QUE TOCARAM O BRASIL
De Nelson Motta
Estação do Brasil, 224 páginas,R$ 59,90.

Zero Hora

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