Autor: Lucarocas
Vi sorrisos de meninos
Numa festa de quintal
Ouvi o tocar dos sinos
E hino celestial
Via um povo contente
Num debulhar de presente
Numa noite de natal.
Apurei minha visão
Do lugar que eu estava
Vi um mundo de ilusão
Onde se comemorava
A comida sobre a mesa
A fortuna e a riqueza
Do povo que ali morava.
Uma lágrima no olhar
Deu-me a visão uma lente
E eu pude observar
A tristeza dessa gente
E observando com calma
Eu vi que em cada alma
Havia um vazio ardente.
Na alma a inveja fingia
Ser uma capa de amor
O ciúme construía
Uma roupa de rancor
E naquele fingimento
O falso contentamento
Era ferida de dor.
Vi o ódio radiante
Se mostrando tão sereno
E o povo celebrante
Ter um amor tão pequeno
Que ficava sufocado
Pelo prazer celebrado
Numa taça de veneno.
Vi um riso falseado
Num teatrar de alegria
Vi o brilho do dourado
Enfeitar a fantasia
Vi o negrume da morte
Dando o destino da sorte
Para aqueles que eu via.
No brilho do meu olhar
Nessa lente de aumento
Vi um povo se abraçar
Com a força do fingimento
Mostrando naquele instante
O maquiar de um semblante
De quem não tem sentimento.
Na mão de homens vazios
Eu vi muito copo cheio
Que faziam desafios
Para tomar o alheio
E pela delicadeza
Eles notavam beleza
Onde eu via tudo feio.
Eu vi uma mulher risonha
Numa orgia natural
Contando história medonha
De uma transa sexual
E de quanto gastaria
Pra fazer a fantasia
Pra brincar no carnaval.
Vi a noite ir findando
Numa alegria forçada
E o céu acinzentado
Ali naquela morada
Não vi prece ou oração
Eu só ouvi a canção
Dessa gente embriagada.
O meu olhar ofuscou-se
E foi voltando ao normal
A lente neutralizou-se
Perdeu o brilho cristal
E eu ali em um canto
Tentei enxugar o pranto
Dessa noite de natal.
Ainda dei uma olhada
Num instante que busquei
Sem manjedoura nem nada
O Natal não encontrei
Eu não vi o meu Jesus
E segurando uma cruz
Fiz uma prece e chorei.
Fortaleza, 15 de
Novembro de 2016.
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