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Máquina com sentimento é futuro da inteligência artificial, diz 'pai' do 'robô sensível'

Sean McKelvey, desenvolvedor da Softbank Robotics e 'pai' do Pepper, robô capaz de identificar emoções humanas. (Foto: Divulgação/Wired Festival)
Sean McKelvey, desenvolvedor da Softbank Robotics e 'pai' do Pepper, robô capaz de identificar emoções humanas. (Foto: Divulgação/Wired Festival)
Ele é fofo, cativante, divertido, tem 1,2 metro, pesa 28 kg e se sensibiliza quando alguém próximo chora ou sorri. A descrição poderia ser a de uma criança, mas se trata de uma máquina, o Pepper, o “robô sensível”, criado pela empresa japonesa SoftBank Robotics. Sean McKelvey, o orgulhoso “pai” dessa criança de metal, chips e fios está no Brasil para participar do Wired Festival, que ocorre entre esta sexta-feira (2) e sábado (3), no Rio de Janeiro.
Serviços que possuem assistentes pessoais como “Allo” (Google), Siri (Apple) e Cortana (Microsoft) até que têm inteligência, diz ele, mas de outro tipo. O psicólogo acredita ainda que o futuro da inteligência artificial é aliar raciocínio lógico com capacidade emocional. Isso, no entanto, não está próximo de acontecer. O lado bom é que, quando isso acontecer, não será nada próximo de robôs inescrupulosos como o Hall 9000, de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. Ufa.
Leia abaixo a entrevista concedida ao G1 por e-mail:
G1- Reconhecer emoções humanas a partir de expressões faciais e outras manifestações é algo difícil até para seres humanos. Como um robô pode fazer isso sem parecer artificial?
McKelvey - A tecnologia do Pepper permite a ele reconhecer emoções por meio de mudanças em expressões faciais e da entonação da voz. Há um alto índice de confiabilidade mesmo entre pessoas diferentes e de várias culturas. A dificuldade é como mostrar ao usuário que o Pepper entende o que ele está pensando ou sentindo de um jeito significativo.
G1 -O Pepper já é usado em hospitais. Quais as outras aplicações dele?
McKelvey - O Pepper trabalha como vendedor em lojas, como recepcionista em pequenos escritórios, levando clientes para lojas de shopping, apresentando informações financeiras em bancos, e dando informação a viajantes estrangeiros em estações de trem e quiosques turísticos.

G1 - Alguns serviços como Allo, Google Now, Siri e Cortana já têm sistemas de aprendizado de máquina. O que eles fazem é o máximo que inteligência artificial pode fazer no dia a dia?
McKelvey - Há dois tipos de inteligência artificial: as limitadas e as generalistas. As AI limitadas focam em um subconjunto de funções e são moldadas para executar essas ações. Esses serviços são ótimos em operar funções, usam ‘aprendizado de máquina’ para garantir agilidade e precisão ao identificar as necessidades dos usuários. Entretanto, verdadeiras inteligências artificiais generalistas estão um pouco adiante. Mas a tecnologia está avançando rapidamente. E eu acredito nós veremos mais tipos de inteligências artificiais generalistas e maduras nos próximos anos. E, à medida que evoluem, serão capazes de fornecer experiências mais significativas para o cotidiano.
G1 - Entender sentimentos é a última fronteira da inteligência artificial? Quão perto a tecnologia está dessa barreira?
McKelvey - Eu acredito que uma chave essencial para a próxima geração de inteligência artificial generalista é ser integrada a um sistema de inteligência emocional. As coisas que criarmos no futuro serão máquinas pensantes que também usam raciocínio emocional para aprender e interagir com o mundo. É difícil, no entanto, dizer quão próximos estamos de chegar a essa tecnologia. Com o Pepper, demos grandes passos nessa área, ao digitalizar o processo neuroquímico do cérebro que cria emoções em seres humanos. Só que conectar criar verdadeiras inteligências artificiais generalistas capazes de se emocionar é um passo enorme, já que, tecnologicamente, estamos ainda compreendendo como criar inteligências artificiais que não sintam nada.
G1 - Já há robôs que conseguem, além de entender, imitar emoções humanas e passar em testes de Turing, como no filme 'Ex-machina'?
McKelvey - Não, ainda não.
G1 - A Softbank pretende trazer o Pepper ao Brasil? Como está o processo de internacionalização do robô?
McKelvey - Não posso comentar planos de expansão global da SoftBank Robotics ainda não anunciados. Mas eu viajei por Europa, América e Ásia com o Pepper e eu estou feliz porque as pessoas de todo mundo acham o Pepper fofo, cativante e divertido.
G1 - Alguns sistemas de inteligência artificial aprendem a partir de interações com humanos. Haverá um ponto em que os robôs não terão mais o que aprender com os humanos? O que acontecerá conosco quando isso ocorrer? Uma rebelião pela sobrevivência à lá 'Eu, robô' e Hall 9000?
McKelvey - Eu acredito que os robôs violentos que vemos na ficção científica são inteligências que carecem de compreensão emocional, empatia e senso de moralidade. Tendemos a pensar que inteligência e emoção são funções apartadas, mas ambas são controladas pelo cérebro, assim como formas de aprendizado e importantes sistemas de tomada de decisão para os seres humanos.
As histórias sci-fi nos lembram como uma inteligência pura pode ser. E é assustador quando são colocadas em um contexto em que um corpo robótico poderoso é associado a uma mente de inteligência artificial.
Mas eu acredito que inteligências que criaremos terão emoção e moralidade porque é disso que uma verdadeira inteligência é feita. Espero que nós criemos inteligências que sejam extremamente espertas, mas que tenham profunda compreensão de humanidade e possam tomar decisões que sejam, ao mesmo tempo, sábias e gentis.
G1

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