Pular para o conteúdo principal

Náufragos do Porto

Grecianny Carvalho Cordeiro*

Náufragos do Porto, o recém lançado livro de Ednilo Soárez, nos apresenta uma bem delineada trama, tendo como pano de fundo a realidade do porto, através da qual o autor faz um recorte do mundo moderno e suas peculiaridades, ambições e tentações a permearem o cotidiano, com todas as suas nuances, comuns a cada um de nós.

Victor, um exemplar diretor do porto, sempre levou sua vida pautada pela dedicação à família e ao trabalho, até o momento em que as "asas da ambição" tocam seu espírito, levando-o a manter um relacionamento espúrio com o comandante de um navio, Pierre, que consegue arregimentá-lo para ser o responsável pela distribuição de cocaína na cidade.

A partir daí, Victor tem sua pacata e recatada vida dividida entre a ambição de ficar rico e o receio de ser flagrado numa atividade ilícita, envergonhando sua família e amigos.

O dilema de Victor, as suas aflições, os seus receios, são os mesmos de muitos homens que lutam por resistir à tentação de escolher entre uma vida modesta e de ostentação, entre a honestidade e a desonestidade, entre o certo e o errado, a eterna dualidade que acompanha o ser humano ao longo de sua existência. E ficamos a nos perguntar: qual o preço de um homem? O que o leva a fazer escolhas sombrias? Em que momento se perde a integridade?

Náufragos do Porto delineia os passos de um homem rumo à desfarçatez, à criminalidade, à completa perda de princípios éticos e morais, sucumbido pela ambição de enriquecer a qualquer custo, a qualquer preço.

Ao redor de Victor coexistem personagens instigantes e bem construídos, enriquecendo o bem construído enredo.

Além da trama envolvente, Náufragos do Porto nos mostra um escritor de fina e sensível escrita, que usa as palavras com maestria, pincelando frases com poemas de grandes poetas, como Mário Quintana e Fernando Pessoa; citando autores da grandeza de Oscar Wilde, Machado de Assis; com referências à mitologia grega e adágios populares, num encaixe perfeito.

"As emoções do Porto não cessavam. Tratava-se de um organismo vivo, palpitante, onde afloravam sensações exageradas, amores proibidos, ambições desenfreadas, anseios reprimidos e desonestidades sem limites."

Se no livro Desvendando a Ilíada, Ednilo Soárez nos brinda com a paixão pela mitologia grega, conduzindo o leitor pelo maravilhoso mundo homérico, em Náufragos do Porto, o autor nos presenteia com um choque de realidade, um romance policial intenso, inteligente e tocante.

*Promotora de Justiça  

Comentários