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Taxista cadeirante supera dificuldades e roda há cinco anos pelo Rio

Márcio Santana é motorista de táxi há cinco anos (Foto: Cristina Boeckel/ G1)
árcio Santana é motorista de táxi há cinco anos (Foto: Cristina Boeckel/ G1)
O taxista Márcio Santana chama a atenção dos passageiros mais atentos que entram em seu carro diariamente. Alguns se espantam, outros elogiam e ainda há os que confundam até com uma arma a adaptação que o permite trabalhar. Márcio é paraplégico há 28 anos e guia seu táxi pelas ruas do Rio há cinco, e se intitula como o único cadeirante taxista da cidade. Porém, em breve, ele deve encontrar outros colegas cadeirantes pelas ruas.
Em atendimento à Lei de Acessibilidade, a Secretaria Municipal de Transportes do Rio publicou, no Diário Oficial da última quarta-feira (23), que outros dois motoristas de táxi com deficiência possuem autorização para guiar. Por outro lado, 57 táxis possuem adaptação para receber cadeirantes como passageiros.
Para Márcio, a vida guiando o táxi é a realização de um sonho de independência. Ele sofreu o acidente que o deixou dependente da cadeira de rodas para se locomover em 1988.
“Eu vinha de moto, de Benfica para Bonsucesso, quando um caminhão atravessou na minha frente e, para não pegá-lo no meio, eu desviei. Foi embaixo da Linha Amarela. Fiquei 15 dias em coma. Depois fiquei internado um ano e meio”, explicou o taxista.
Após o acidente, ele teve que reaprender a fazer coisas que, para quem nunca sofreu um acidente de grandes proporções, são triviais. Márcio explica que o trabalho da Associação Brasileira Beneficiente de Reabilitação (ABBR), foi fundamental para que ele retomasse a própria vida. “Eu tive que me reeducar. Aprender a me calçar, aprender a me vestir”.
O motorista parou dois anos sem guiar. Mas depois disso, ele decidiu retomar as rédeas da própria história. “No início é muito difícil. Você sofre muito e a sua vida muda totalmente. Você pensa em várias coisas ruins. Mas eu tive uma coisa boa: uma hora eu disse chega. Já que Deus me deu essa oportunidade, eu vou viver”, contou Márcio.
A partir daí, Márcio fez de tudo um pouco. Mas tudo, nesse caso, sempre esteve relacionado à paixão pelo volante. Ele criou o próprio negócio e teve um bufê infantil, no qual transportava os brinquedos das festas para todos os lados em uma Kombi. Quando o bufê deixou de dar lucro, a Kombi passou a ser usada no transporte de passageiros, após ser legalizada para isso. Mas foi como motorista de táxi que ele afirma que se encontrou.
“Sou meu próprio patrão, trabalho a hora que quero. Eu tenho uma independência. É uma profissão muito legal. Você conhece pessoas maravilhosas. Trato sempre o passageiro com carinho”, explicou o taxista.
A maior dificuldade de Márcio é na hora de sair e voltar para o automóvel. Ele precisa da ajuda de alguém para retirar e guardar a cadeira de rodas que fica no porta-malas. Para driblar o problema, ele segue uma rotina. Vai sempre aos mesmos estabelecimentos, onde já o conhecem e o ajudam. Na garagem do prédio onde mora, ele tem uma vaga reservada e com uma cadeira de rodas ao lado.
Aos 52 anos, Márcio se considera feliz e acredita que agora só falta um grande amor. “Estamos aí! Qualquer dia aí, quem sabe, eu caso de novo”, explicou o motorista.
Na vida, ele acha que, parado, não dá para ficar. “Imagina eu fechado no quarto o tempo todo. Não tenho condição. Dá neura. Cada dia eu tento ser melhor do que fui ontem.”
*colaborou Daniel Silveira
    G1

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