Padre Geovane Saraiva*
Em Belém, numa cidade pequena,
nasce uma pobre criança, aliás, nem nasce na cidade, e sim no campo, como tão
bem sabemos, numa manjedoura, entre animais e pastores. Essa criança veio com a
missão de dar a vida por suas ovelhas, chamando a atenção para a realidade do
seu mundo: antagonismos e mundo envolto em mistério. Nasce no meio da noite, na
escuridão, mas na condição de luz ou estrela, guiando e iluminando os passos da
humanidade. Ninguém melhor do que Dom Helder Câmara para assimilar a riqueza do
mistério da encarnação: “Se eu pudesse sairia povoando de sono e de sonhos as
noites mal dormidas dos desesperados”[1].
Estamos diante do eixo da nossa
fé pelos anjos, que anunciam aos pastores o nascimento do Salvador da
humanidade, ao mesmo tempo em que no Oriente, distante e longínquo, surge uma
estrela, com a missão de comunicar aos magos o nascimento da verdadeira Estrela
da humanidade[2]. É
forte o significado paradoxal da estrela, vista como um instrumento estranho e,
ao mesmo tempo, belo e maravilhoso. Percebe-se, pedagogicamente, a ação de
Deus, ao se manifestar através da estrela, desaparecendo-se, em seguida, e não
sendo causa de preocupação para aqueles homens de Deus: os magos.
Deus se revelou há mais de dois
mil anos naquela criança. O inaudito e misterioso encontro dos magos com o
Menino Jesus não deixa dúvida da verdadeira Estrela, a luz da vida, que quer
sempre mais iluminar e aquecer os que andam na escuridão e na sombra da morte[3].
Como seguidores ou discípulos de Jesus
de Nazaré, somos convidados a dar continuidade à obra por Ele iniciada. Sabemos
que Jesus está junto do Pai, mas, ao mesmo tempo, presente e caminhando com seu
povo, inspirando-nos com mentes férteis e corações renovados, deixando-nos
claro que temos que nos deixarmos guiar pela estrela do nosso feliz destino: a
glória.
Que no espírito do Natal, no
exemplo dos magos, que se deixaram ser guiados pela estrela, busquemos a
ternura de Deus neste ano de 2017, no convite feito às pessoas de boa vontade,
de “participar da divindade daquele que uniu a Deus nossa humanidade”[4],
manifestando-se como luz a iluminar todos os povos no caminho da salvação[5].
Saibamos experimentar misteriosamente “a troca de dons entre o céu e a terra”[6]
de um Deus que, como luz, ilumina a história da humanidade.
*Pároco de Santo Afonso e Vice-Presidente da Previdência
Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com
[1] Livro “Rezar
com Dom Helder”, p. 127, Padre Geovane Saraiva.
[2] Diante de Deus
com Dom Aloísio Lorscheider, p. 49.
[3] Anúncio do nascimento e a visita dos magos (cf. Lc
2, 9-11; Mt 2, 1-12).
[4] Oração sobre as
oferendas, na missa do Natal.
[5] Prefácio da
Epifania do Senhor.
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