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Convivência com a estiagem é tema de palestra na Unifor

A intervenção Vacas Magras, esculturas dos animais subnutridos, símbolos da seca, pode ser vista no Campus da Unifor ( Foto: Yago Albuquerque )
De uma coisa é consenso: a seca é um fenômeno climático natural que sempre existirá. A questão é quais os mecanismos, alternativas e estratégias para se conviver com ela, principalmente uma população de 23 milhões de pessoas do Semiárido nordestino. O assunto foi o principal indutor do debate realizado na Universidade de Fortaleza (Unifor), na manhã de ontem e integra a programação da intervenção Vacas Magras, em exibição no Campus da Instituição até o dia 30 de abril.
Na história do Brasil, desde o seu descobrimento, a região semiárida, que inclui oito estados nordestinos (com exceção do Maranhão) e mais o Norte de Minas Gerais, com pouco mais de 982 mil km², registra 72 anos de seca, sendo 32 delas plurianuais ou seja com mais de um ano com chuvas abaixo da média. "As temperaturas são altas, a evaporação é grande e todo ano corremos 60% de riscos de o ano ser mais um seco", aponta o coordenador da Articulação do Semiárido no Ceará (ASA/CE), Marcos Jacinto.
Ele acrescenta que desde o ano de 2012, mais de 1,4 mil municípios da região amargam as consequências da falta de precipitações. "E se não fossem as várias ações implementadas, estaríamos contando mortes, como as ocorridas antes da década de 90", aponta Jacinto.
É nesse contexto que se insere o trabalho desenvolvido pela artista plástica Márcia Pinheiro. Ela é idealizadora e autora da intervenção Vacas Magras, que objetiva chamar atenção fomentando o debate e conscientizando sobre os efeitos da estiagem, em especial, nos animais. Seu trabalho, esculturas em tamanho real dos animais subnutridos, símbolos da seca no sertão, pode ser visto na Unifor.
Ao todo, serão expostas 10 vacas, construídas em fibra de vidro e resina, durante todo o ano de 2016. Elas já ficaram expostas em várias avenidas de Fortaleza. "A seca é natural, mas não podemos ficar inertes perante seus efeitos", analisa a artista que informa o desenvolvimento de outro projeto, intitulado Água de Chuva, cujo objetivo é ativar poços em 20 comunidades rurais do Ceará.
A necessidade de políticas que fortaleçam a descentralização do uso da água foi destacada durante as falas de Marcos Jacinto, de Márcia Pinheiro e reconhecida pelo meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), David Ferran. "Nunca enfrentamos um momento tão crítico quanto o que estamos vivenciando agora, com quase seis anos com chuvas abaixo da média. É preciso guardar essa água e aliar às políticas públicas que garantam seu uso de forma sustentável", destaca.
Segundo Ferran, o Semiárido é uma região que precisa de um olhar diferente. "Em uma quadra que chegamos a 800mm (de chuva), por exemplo, a evaporação chega a três metros de toda água acumulada", comenta. Ferran frisa que Fortaleza é a única Capital da região abastecida pelo Semiárido. "As outras, como Recife, Salvador, recebem água da Zona da Mata", compara.
Para Marcos Jacinto, talvez esteja aí a razão da briga pela água. "O açude Orós, que já ajuda o Castanhão, está com pouco mais do que 11% da capacidade e essa água vem para a Capital. E aqui, a população não tem noção e desperdiça".
Importância
O vice-reitor de Extensão da Unifor, professor Randal Pompeu, destacou o tema das palestras e ressaltou a importância de colocar foco em um tema fundamental para o cearense. "E a Academia não pode ficar fora desse debate", pontua.
De acordo com o coordenador do Grupo de Estudos Organizacionais do Semiárido (Geosa) e professor do programa de Pós-Graduação em Administração da Unifor, Fábio Marquesan, que mediou o evento, a iniciativa representa uma oportunidade ímpar de envolvimento com a comunidade. "A palestra é uma chance de enriquecer o diálogo entre a Universidade e a comunidade local, reforçando o compromisso da Instituição em chamar a atenção para um fenômeno que afeta diretamente a população cearense há cerca de seis anos", pontua.
Diário do Nordeste

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