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O rei dos murais gigantes que embelezam as cidades

Eduardo Kobra começou a desenhar com nove anos de idade e encontrou no grafite um meio de expressão e de sobrevivência, ganhando fama mundial após um projeto de preservação da memória por meio das tintas ( Daniel Tavares )
Nesta segunda-feira, o muralista e grafiteiro mais famoso do Brasil e um dos maiores do mundo, o paulistano Eduardo Kobra, de 41 anos, pisa pela primeira vez em território cearense. Ele vai dar boas-vindas aos novos alunos da Universidade de Fortaleza (Unifor) em uma palestra sobre arte urbana, a partir das 17h, na biblioteca do campus, no bairro Edson Queiroz. O evento "Telas da Cidade" é aberto ao público, mas as vagas são limitadas.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, Kobra disse que nunca teve a oportunidade de visitar o Estado e que não terá hoje muito tempo para conhecer Fortaleza, já que retorna a São Paulo no fim do dia.
"Basicamente, tenho a imagem do Ceará como um dos paraísos brasileiros", diz o artista urbano, que adoraria ter um mural ou painel de sua autoria em algum espaço do Estado.
A assinatura Kobra é disputada pelas principais capitais do mundo. No segundo semestre deste ano, ele planeja fazer uma sequência de 28 murais em diversos pontos de Nova York.
"Os Estados Unidos são o país para onde mais tenho voltado. A demanda pelo meu trabalho lá é igual ou até maior do que no Brasil", diz o grafiteiro.
A última obra do brasileiro na América foi um mural de 60 metros de altura e 18 metros de largura do cantor inglês David Bowie (1947-2016), feito com spray e tinta acrílica, em prédio em Jersey City, cidade do Estado de Nova Jersey.
Mas o trabalho mais emblemático da sua carreira está em Nova York, no descolado e estiloso bairro de Chelsea: é um mural baseado na famosa fotografia de um marinheiro beijando uma enfermeira em plena Times Square no dia em que os Estados Unidos venceram o Japão na Segunda Guerra.
"Este mural é muito importante. Foi um divisor de águas na minha carreira", avalia.
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Guinness
Entre suas obras mais relevantes, ele cita ainda o mural "Etnias" no Boulevard Olímpico da Praça Mauá, uma das atrações da Olimpíada Rio 2016, que retrata os cinco rostos indígenas de cinco continentes. O Guinness Book o registrou como o maior grafite do mundo.
"A missão da arte de rua é revitalizar áreas degradadas. Acompanhei todo o processo do projeto do Boulevard. Era um viaduto abandonado, tomado por usuários de drogas".
No Nordeste, Recife é única capital que exibe o traço do grafiteiro. Em 2015, ele fez um painel de 77 metros de altura no prédio da Prefeitura de Recife retratando Luiz Gonzaga, o rei do baião.
Na palestra que dará aos novos alunos da Unifor, Kobra vai falar sobre o "Muro das Memórias", seu projeto mais antigo, que o tornou famoso em São Paulo e, daí, ganhou projeção internacional.
"Criei este projeto quando tive a ideia de fazer murais com base em fotos antigas de São Paulo das décadas de 1920 e 30. O objetivo era mostrar a importância do patrimônio histórico. Comecei a colorir essas imagens históricas, a misturar elementos clássicos com a street art", conta.
Ele explica que o projeto o ajudou a criar uma identidade própria para o seu trabalho. Antes, ele se sentia insatisfeito artisticamente, porque apenas fazia cópias. Foi o contato com os livros da fotógrafa americana Marta Cooper, especializada em street art, e com a obra do famoso grafiteiro nova-iorquino Jean-Michel Basquiat, que despertou Kobra para a necessidade de dar um toque autoral a seus desenhos.
"Comecei a desenhar em cadernos com nove anos de idade. Meu contato com a rua foi aos 12 anos, na periferia de São Paulo, em Campo Limpo, na zona sul. Comecei na pichação. Em 1990, comecei a grafitar, autodidata, mas de forma ilegal, sem permissão dos donos dos espaços. Foi um começo bem difícil. Minha família não me apoiava. Cheguei a ser detido três vezes", relembra.
O começo
O apelido "Kobra" vem dessa época, quando ele era o mascote de uma turma de pichadores (ou "crew", como os artistas urbanos falam, citando um termo do hip hop).
"Meus cadernos eram cheios de desenhos. Aí falavam que eu era cobra nos desenhos. Gostava de desenhar super-heróis como Batman e Homem-Aranha", recorda.
Ele diz que alguns dos seus amigos dessa época juvenil eram envolvidos com o crime, com drogas. "Mas meu caminho sempre foi a arte".
O pai era dono de uma oficina de reforma de móveis e tapeçarias. Já a mãe era apenas uma dona de casa.
"Aos 18 anos, fui morar sozinho devido aos problemas com meus pais. Cheguei a trabalhar como office boy em agência da Caixa Econômica. Mesmo assim, todo dia eu pintava", destaca Kobra.
Seu primeiro grande trabalho veio em 1994, quando passou a pintar os brinquedos do lendário Parque Playcenter. "Todo mês eu ganhava uma grana. Dava para ter uma vida estável e comprar tinta para o grafite", relembra.
Já são 28 anos de carreira, sendo os últimos anos pintando bastante pelo mundo e virando referência mundial.
"Não imaginava que eu chegaria tão longe", reconhece o grafiteiro.
Mais informações:
"Telas da Cidade" - Palestra de Eduardo Kobra. Hoje, às 17h, na biblioteca da Unifor (Avenida Washington Soares, 1321 , Edson Queiroz). Vagas limitadas.
Contato: (85) 3477.3377

Diário do Nordeste

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