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Tibério Azul lança "Líquido", título de seu segundo álbum e livro de poemas

Tibério Azul: artista compara o processo de composição de um álbum ao da escrita ( Foto: Fabiano Cafure )
Com o lançamento de "Bandarra" (2011), seu primeiro disco solo, o pernambucano Tibério Azul começou a cavar espaço no cenário da música brasileira. Envolvido, também, por sua vocação à literatura, ele passou a preparar o segundo álbum, há três anos, e agora lança disco e livro, intitulados "Líquido ou a vida pede mais abraço que razão" e "Líquido ou o homem que nasceu amanhã", respectivamente.
O repertório do disco já está disponível nas plataformas digitais. Segundo Tibério Azul, em entrevista ao Diário do Nordeste, o álbum foi finalizado primeiro que o livro, mas ele mesmo não consegue distinguir onde um começa, e o outro acaba. O músico e escritor conta que começou sua carreira pela literatura. A música veio depois, e virou profissão.
No caso de "Líquido", Tibério pontua que "quando terminei o disco, fiquei com uma sensação de que não tinha escoado toda a água. Sabe quando a mulher está grávida de gêmeos, pariu um, e sabe que ainda falta sair o outro?", reflete ele.
O pernambucano situa que começou a escrever algumas coisas para agregar ao disco, mas, quando viu, tinha um livro nas mãos. A ideia de "líquido" trata-se de um símbolo para evocar uma oposição ao concreto. A noção de que, com a água, não se forma nada fixo e o homem, assim, pode desapegar da moldura dos quadros que enxerga.
Sobre a semelhança do conceito com a análise do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, falecido no início deste ano, Tibério diferencia as ideias, pontuando que, no seu caso, "falo do homem para dentro. A minha lógica é da construção do mundo a partir de uma pessoa. Não conhecia a obra dele, mas ganhei um livro (sobre a "liquidez" de Bauman), e vejo que ele fala das relações sociais", observa o músico, anotando o viés mais racional do cientista europeu. "E eu falo justamente em oposição a essa racionalidade", destaca o pernambucano.
Sobre a construção do repertório do novo álbum, Tibério lembra que faz disco como quem escreve um livro. Em relação ao "Bandarra", o ciclo foi finalizado e, dessa forma, todas as nove faixas de "Líquido..." foram compostas já alinhadas ao conceito do segundo disco.
Ele comenta o que chama de uma "característica literária muito forte" na maneira como faz música. "Geralmente, busco uma temática, construo uma narrativa, e começo a compor para aquilo. Uma música do 'Bandarra' poderia ter fomentado este. Tenho umas 10 canções na gaveta, e que provavelmente não vou usar, porque o próximo disco já tem outro caminho", detalha Tibério Azul.
Parcerias
Produzido por Yuri Queiroga, o novo álbum também traz um time de "notáveis" do circuito independente. Com o pianista Vítor Araújo ("Faz favor", "Deixa assim" e "Dindim"), Tibério Azul recapitula outras obras em parceria com o conterrâneo e declara que "enquanto ele deixar, vai estar nos meus discos", brinca.
Outra participação "determinante" aconteceu com a atriz e cantora Clarice Falcão, que canta em "Chover". O encontro combina afinidade artística e amizade: quando mudou-se do Recife para o Rio de Janeiro, ela e o ator Gregório Duvivier (que assina o release do álbum) "me receberam com muita alegria. E como sou um cara muito sentimental, isso teve um peso grande pra mim", lembra Tibério.
Elogiado por Tibério Azul como um letrista peculiar e figura extremamente gentil, Pedro Luís (nome à frente de Pedro Luís & A Parede) canta em "Nem a pedra é dura". O pernambucano celebra a composição feita com Zé Manoel, de quem, brinca Tibério, "roubou" o direito de gravar primeiro a música ("Líquido").
O autor fala também do "sócio" Castor Luiz, presente na concepção de metade do repertório do álbum: "tudo tem um dedo dele, direto ou indireto", observa.
Rio de Janeiro
Tibério Azul conta que a mudança para o Rio de Janeiro foi motivada pelo nascimento de sua única filha até então. Para passar um período sabático de dois anos, dedicado à criação dela, ele e a companheira decidiram buscar um ambiente na capital carioca onde se pudesse andar a pé pelo bairro (de Laranjeiras, na Zona Sul) e aproximar a criança do espaço urbano.
"Quando você consegue criar seu filho com lucidez, você mesmo se recria: é a sua criança que está ali (em processo). Isso me revolucionou tanto... E Recife é uma cidade incrível, poética, mas a urbanidade da cidade é muito opressora", atesta o músico.
Tibério admite que agora precisa ralar para voltar ao cenário musical com mais força. No entanto, além da carreira solo, ele já tratou de reativar projetos como o "Seu Chico", ao lado de Vítor Araújo, revisitando o cancioneiro de Chico Buarque.
O grupo tinha pausado suas atividades - ao mesmo tempo que o pianista trabalhava no elogiado "Levaguiã Terê", seu último álbum solo - e voltou, agora, fazendo um show privado em Olinda. Pepê da Silva (violão de sete cordas), e os percussionistas Juca, Amendoim e Aduni completam a formação atual do projeto.
Diário do Nordeste

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