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Homens bonitos vão ao cinema

Romance de Marco Lacerda vai para as telas com produção internacional dirigida por Renato Falcão.
Renato Falcão e Marco Lacerda, diretor e autor de Clube dos Homens Bonitos
Renato Falcão e Marco Lacerda, diretor e autor de Clube dos Homens Bonitos (Beto Novaes/EM)

Por Charles Mascarenhas*
“Uma noite, pouco antes do fechamento do clube, Bruno entrou no escritório de Fred e Betsy equilibrando-se com desenvoltura nas alturas de um salto7. Vestia o longo penhoar de cetim preto e usava o colar de pérolas, as duas recordações da mãe que trouxera do Brasil. Dorothy o maquiara sem excesso, procurando ressaltar com batom carmim seus lábios rasgados. Enquanto as colegas usavam perucas, ele tinha cabelos naturalmente anelados caindo sobre os ombros com displicência.”
Capa do livro
Este é Bruno Fraga, personagem central do romance Clube dos Homens Bonitos, um dos livros do jornalista mineiro Marco Lacerda escrito na década de 90. Os outros são Favela High-Tech e As Flores do Jardim da Nossa Casa.
O romance é a história real de um jovem brasileiro, de Belo Horizonte, de família rica e influente na política, que vendo a ditadura militar acontecer e o seu pai sendo um grande carrasco naquilo tudo, decidiu largar a vida no Brasil e construir outra, completamente independente, em San Francisco, na Califórnia.
Por coincidência do destino, a história desse livro cruzou o caminho de Marco Lacerda quando ele, movido pelo desejo da busca existencial, foi morar nos Estados Unidos, sendo ao mesmo tempo correspondente internacional do Estadão e do Jornal da Tarde.
Lá, ele foi de um extremo a outro das emoções, conheceu Bruno Fraga pessoalmente, que lhe relata tudo que acontece nessa história. Desde a efervescência da cena gay dos anos 1970, até a adversidade da AIDS, que matou muitos amigos, inclusive do próprio autor, que se emociona ao lembrar as grandes perdas. “Teve um momento que eu não suportei mais a dimensão da calamidade. Vi amigos morrerem na plenitude da juventude, vítimas de uma doença, que ninguém sabia o que era”.
Marco Lacerda
Lacerda residiu na Califórnia, em San Francisco, e chegou a esta história, quando um dia lendo um jornal local, se interessou em desvendar um caso de assassinato envolvendo um jovem brasileiro. Mal sabia que quanto mais se aprofundasse na história, mais horrorizado ficaria.
Porém isso estava longe de ser um motivo de desistência do caso que havia lhe laçado em terras americanas.  O instinto jornalístico de Marco Lacerda viria anos depois fazer-lhe investigar uma rede de prostituição no Japão, e a publicação do seu primeiro livro: Favela High-Tech (1993).
Clube dos Homens Bonitos e Favela High-Tech são frutos de investigações livres e espontâneas de Lacerda, uma vez que tentou publicar uma matéria sobre uma doença até então conhecida como “câncer gay”, que foi rejeitada pelos editores de publicações brasileiras sob a justificativa de que aquilo era “coisa de viado”. A doença a que Lacerda se referia é hoje conhecida como AIDS.
Hoje os livros de Marco Lacerda, que traziam temas polêmicos para a época, estão sendo adaptados para o cinema. Os direitos para produzir Favela High-Tech foram comprados pela Gullane Filmes, e está em fase de produção com direção de Karim Ainouz. Já Clube dos Homens Bonitos teve seus direitos comprados recentemente pelo cineasta Renato Falcão.

Renato Falcão é do Rio Grande do Sul e atualmente é diretor de fotografia da Blue Sky Studios, em Nova York. Lá, foi responsável pela fotografia dos filmes de animação Rio (2011), Rio2 (2014) e A Era do Gelo (2012 e 2016).
No entanto, sua carreira começou em Porto Alegre, compondo trilhas para peças de teatro. Mais tarde dirigiu a peça O Homem da Flor na Boca, de Luigi Pirandello, e depois produções em que a abordagem de temas sociais estivessem presentes. O romance de Marco Lacerda caiu como uma luva para Falcão. “Gosto que meus filmes tenham conteúdo social forte. Presságio (1993) foi meu primeiro curta e aborda a questão da AIDS, fazendo uma campanha de prevenção. Quando li Clube dos Homens Bonitos, em 1996, decidi que seria o primeiro longa”.
Vendo o cinema brasileiro numa boa fase, com filmes incríveis produzidos em todos os estados do país, Renato Falcão que faz parte da nova geração que renovou o cinema nacional, se sente mais motivado em executar um projeto em parceria com o Brasil. E assim, movido por um desejo antigo de realizar Clube dos Homens Bonitos, ele revela que o filme será uma homenagem a um grande amigo e ator, Manoel Aranha.
Aranha foi ator da peça O Homem da Flor na Boca, dirigido por Falcão. A peça foi exibida em presídios e escolas do Rio Grande do Sul e funcionava como uma campanha de prevenção contra a AIDS de maneira poética, já que o governo da época estigmatizava a doença.
O Clube dos Homens Bonitos foi desativado no século passado em San Francisco mas se mantém vivo dentro de quem o conheceu. Não se preocupem os que não conheceram a famosa casa noturna: Homens Bonitos vão ao cinema!
SOBRE O LIVRO
Um jovem milionário mineiro foge da ditadura militar, do seu passado sombrio e do próprio pai. parte para uma aventura que começa nos loucos anos hippies, nos anos 60, na Califórnia americana - e só termina no Nepal, na década de 90, depois de uma viagem alucinante que o leva ao inferno das drogas e da prostituição. Esta é a trama alucinante de Clube dos Homens Bonitos, um romance explosivo baseado numa história real. O escritor e jornalista Marco Lacerda, autor do best-seller 'Favela Hi-Tech', investigou esta história, associando sua experiência de repórter internacional ao talento de um escritor moderno e afinado com seu tempo. No seu Clube dos Homens Bonitos, o escritor mergulha no mundo de um personagem fascinante - um jovem que busca a verdade sobre o seu passado com uma ânsia só comparável ao medo que ele tem de encontrá-la.

*Charles Mascarenhas é estudante de Comunicação Social em Cinema pela Puc-Minas, onde tem se dedicado à pesquisa sobre cinema.

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