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Nesta sexta (10), no foyer do Theatro José de Alencar será lançado o livro Pós-colonialismo e Literatura

A palavra de ordem do colonizador é o "apagamento" de todos os traços identitários do povo colonizado, como se o protagonismo social não fosse importante para todos.
A reflexão é do professor Marcos Paulo Torres, do Departamento de Letras, Artes e Jornalismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e doutorando em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), destacando a importância do discurso pós-colonial na construção da alteridade dessas comunidades vítimas de aniquilamentos.
Conceito surgido depois da década de 1970, logo o pós-colonialismo foi incorporado à crítica literária, sendo colocado no contexto do discurso político, observa.
No artigo "O Eu e o outro ou 'eu quero saber se meu cabelo é igual ao seu'", faz parte dos 21 textos que compõem o livro Pós-colonialismo e Literatura: Questões identitárias nos países africanos de língua oficial portuguesa", o professor analisa a questão da negritude sob vários aspectos, tendo como ponto de partida a eleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
A análise diz respeito ao simbolismo de ter um negro candidato à presidência dos Estados Unidos, pondera.
O lançamento da obra acontece nesta sexta (10), às 18h30m, no Foyer do Theatro José de Alencar e tem como principal objetivo chamar a atenção para a realidade africana. "A África existe", provoca, atentando para as multiplicidades do continente.
Marcos Paulo Torres divide com os professores Francisco Wellington Rodrigues Lima, Kássio Moreira e Natália Fabiana da Costa e Silva a organização do livro, que utiliza a crítica literária para falar sobre a importância de saber como estão sendo trabalhadas as identidades nos países africanos de língua portuguesa.
Apagamento
"Não existe colonização sem apagamento", instiga, explicando que o pós-colonialismo constitui uma ação contra esse fenômeno, que continua vigorando mundo afora.
O autor compara essa tentativa de apagamento de identidades a um jogo de poder que cala e apaga o outro, como se eliminasse o protagonismo social de alguns.
A tese pós-colonialista cumpre o papel de quebrar esses discursos midiático e eurocêntrico, oscilando entre bem e mal. O discurso de negritude do Brasil é diferente do africano, numa demonstração de que "as questões de identidades são fluídas e os limites estreitos".
Voltando ao discurso pós-colonial, afirma ser uma maneira de retomar a terra invadida pelo estrangeiro. Ao chegar,o colonizador destrói os traços identitários da comunidade local, impondo a sua cultura.
A situação é verificada desde a época do império romano, lembra, completando que a língua, a religião e os costumes eram e continuam sendo afetados pelo invasor.
Puras
Adverte que as manifestações culturais não se tornarão puras novamente, atentando para a crítica sofrida pelo escritor africano Mia Couto - aparece em vários artigos do livro - por sua escrita ser mais próxima do português de Portugal.
"Não fica mais puro, por mais que se busque", reforça. São questões conscientes e inconscientes trazidas para a identidade do país que foi colonizado.
O estudioso destaca as semelhanças entre as realidades do Brasil e da Áfirica, citando a religião, a linguagem e os costumes. No entanto, grande parte do povo brasileiro não conhece a realidade desses países que estão passando pela mesma situação vivenciado pelos brasileiros no século XX.
"Há países que estão implantando hoje", observa, admitindo que a necessidade de conhecer "nossos irmãos" passa pelo princípio de alteridade. Essa terra é minha e as identidades estão presentes nos mínimos atos, reitera.
O livro reúne estudos e análises de obras e autores da literatura africana, passando por questões de gênero, política, entre outras. Seu projeto foi idealizado por Marcos Paulo Torres, em parceria com outras instituições de ensino: Unicamp, Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab). Participam autores de várias regiões do País.
O PDF do livro está disponível nos sites do Núcleo de Pesquisa da Unifap e da editora unifap, "porque nosso objetivo é tornar essa discussão pública e o mais acessível possível o conhecimento em torno dessa discussão", explica Marcos Paulo Torres.
A proposta é, a partir dessa contribuição, tornar mais conhecidos no Brasil autores africanos, "eles que são nossos vizinhos, que têm tanta influência na história de nossa cultura, com a religião, a música e outras manifestações", observa Marcos Paulo Torres.
Com o projeto esboçado, o passo seguinte foi definir o recorte do tema. Sendo muitos desses países ex-colônias (alguns emancipados há pouco tempo), os organizadores voltaram-se ao questionamento: como essas nações afirmaram ou buscaram reconhecer sua identidade na literatura do período pós-colonialismo?
A lista inclui desde escritores mais conhecidos no Brasil, como Mia Couto (destaque no livro), até os menos divulgados, como Ruy Duarte de Carvalho e Noémia de Sousa.
A pluralidade foi um aspecto desejado pelos organizadores desde o início. "Há autores que trabalham mais a questão da linguagem outros a política, outros ainda da mulher", pontua.
Entre a chamada para os artigos e até a publicação do livro, foram oito meses de produção. "Foi um processo bem trabalhoso", revela Marcos Paulo Torres, mas feliz com o resultado.
"Muito do material do livro, aliás, derivou de uma disciplina ministrada na UFC pela professora Sueli Saraiva, da Unilab", ressalta o organizador da obra.
Livro
Pós-Colonialismo e literatura
Marcos Pulo Torres, Francisco Wellington Rodrigues Lima, Kássio Moreira e Natali Fabiana da Costa e Silva (Org.)
Pós-colonialismo e Literatura
Unifap
2017, 360 páginas
R$ 50 (livro impresso)/ PDF disponível em www.unifap.br/editora/
Mais informações:
Lançamento do livro "Pós-Colonialismo e literatura - questões identitárias nos países africanos de língua oficial portuguesa". Sexta (10), no Foyer do TJA (R. Liberato Barroso, 525, Centro). Aberto ao público. Contato: (85) 3101.2583

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