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Teatro infantil é importante para o desenvolvimento das crianças

O teatro é um importante recurso didático pedagógico para o desenvolvimento da criança, dando suporte para sua trajetória na vida social e proporcionando experiências novas que contribuem para o seu crescimento integral sobre vários aspectos. A pedagoga e atriz Alinne Santos, inclusive, defende a inserção da atividade no currículo escolar.
Ainda de acordo com a profissional, autora do artigo "O teatro e suas contribuições para educação infantil na escola pública", publicado em 2012, os principais benefícios da prática na educação são: contribui para o desenvolvimento e formação do caráter, melhora e favorece a dicção, faz crescer a autoestima, combate a timidez e a vergonha, ensina a relacionar-se com outras crianças e trabalhar em grupo, socializar ideias, favorece o autoconhecimento, desperta a consciência corporal e a coordenação motora, reforça o interesse pela leitura, literatura e poesia, ensina a controlar suas emoções, motiva o exercício do pensamento, além de permitir que as crianças brinquem com o mundo da fantasia.
"O que é realmente importante é que a criança apresente-se da melhor forma possível e divirta-se, invente e interprete personagens curiosos e faça amigos. É fundamental que os pequenos se sintam bem nos jogos teatrais, na encenação, para tornar estas atividades espontâneas. Quanto mais livre e espontâneo for o processo, mais divertido o resultado será", completa Alinne.
Em Fortaleza, uma série de companhias teatrais dedica-se a criar e interpretar histórias voltadas para os pequenos. Em celebração ao Dia Mundial do Teatro, comemorado nesta segunda-feira (27), contamos a história de três. O grupo Mirante de Teatro, da Universidade de Fortaleza, surgiu em 1984 e é um dos mais tradicionais na cidade. Nasceu a partir de uma cadeira de língua portuguesa, ministrada pela professora Francilda Costa, que teve a ideia de colocar seus alunos para interpretarem textos. O projeto tornou-se de fato uma companhia com a chegada de Nazaré Fontenelle, que propôs encontros regulares.

Teatro no DNA

O grupo Comédia Cearense também tem uma história tradicional em solo cearense, já que foi fundado em 1957 e este ano comemora o aniversário de 60 anos. A companhia trabalha com repertório voltado tanto para o público infantil como para o adulto. A primeira peça do grupo foi "Lady Godiva", em 1957. Já no ano seguinte estreou "A revolta dos brinquedos", o primeiro espetáculo para as crianças, de acordo com informações de Hiroldo Serra, atual presidente da companhia e filho de Haroldo e Hiramisa Serra, fundadores da Comédia Cearense. "A ideia de montar espetáculos infantis surgiu com o objetivo de formação de plateia. A criança que frequentasse o teatro poderia ser tornar um adulto que também gostasse de espetáculos e tivesse o hábito de levar os filhos. No nosso currículo temos praticamente a mesma quantidade de peças adultas e infantis. No total, são 97 espetáculos e 180 montagens ao longo desses 60 anos. Podemos dizer que temos uma tradição no teatro infantil em Fortaleza", explica.
Hiroldo confessa que o teatro infantil está mais difícil, já que as crianças estão mais distantes das artes de um modo geral em função da tecnologia, o uso excessivo do celular, computador e jogos eletrônicos. "Isso realmente dificulta, mas eu atribuo a responsabilidade aos pais. Eu vejo que tem pais que levam seus filhos ao teatro e na hora do espetáculo em que poderiam tá ali conversando, interagindo com as crianças, eles estão usando o smartphone, mexendo no WhatsApp e Facebook. Não é a toa que no início da peça, as companhias geralmente pedem para que os espectadores desliguem o aparelho ou deixem no modo silencioso, porque pode até desconcentrar os atores ou atrapalhar o vizinho, devido a claridade. É preocupante, mas não é por conta da tecnologia que nós podemos deixar de fazer. Os grupos têm que fazer mais teatro infantil para que a criançada tenha uma programação contínua e efetiva. A Comédia Cearense nunca passou um semestre sem fazer pelo menos um espetáculo, seja de criança ou adulto. Em 2015 a gente fez, inclusive, um projeto chamado Repertório Infantil e montamos seis espetáculos em um ano só. Em 2016, foram dois espetáculos e em 2017 pretendemos voltar com o Repertório Infantil em comemoração ao aniversário do grupo".
A peça A peça "Dona Onça Pintada e seu Bode Cheiroso" integra o repertório infantil da Comédia Cearense Foto: Divulgação
O teatrólogo explica que a companhia funciona em um formato aberto. Não tem um número de integrantes fixos. "Hoje a gente conta que aproximadamente 600 pessoas tenham passado pelo grupo. Quando a Comédia celebrou 45 anos, fizemos um levantamento com o nome das pessoas e contabilizamos que até então, 500 pessoas tinham participado do grupo em algum espetáculo. O elenco fixo da Comédia somos nós, a família Serra, que sempre participa. Nós nunca exigimos também nenhuma exclusividade dos nossos atores, até porque o mercado não favorece. Além dos atores veteranos, contamos com a presença dos alunos oriundo das oficinas que ministramos na Casa da Comédia Cearense". O complexo é mantido pela família Serra no bairro Rodolfo Teófilo e oferece cursos, oficinas e palestras, salas de ensaio de teatro e dança, além de ter biblioteca,videoteca e um teatro com capacidade para 200 pessoas.
Hiroldo ainda relata que a Comédia Cearense se preocupa com cada detalhe por trás de cada montagem do grupo, desde a criação do figurino até a estrutura usada para o cenário. Hiramisa, mãe do teatrólogo, é a responsável por partes das roupas usadas pelos atores, desde o início da companhia. "Ela cria e executa, costura e administra costureiras, além de também ser aderecista. Ao longo desses anos também tivemos figurinos criados pelo Flávio Phebo, tanto dos espetáculos como das operetas. É tão importante esse trabalho com o figurino que este ano vou lançar um livro com o registro da vida e obra do Flávio. Como temos mais de 150 croquis originais feitos por ele, nós vamos fazer também uma exposição no primeiro semestre em locais com movimentos teatrais".
O clássico O clássico "Cinderela" também ganhou adaptação da Comédia Cearense Foto: Divulgação
 
Com relação ao teatro infantil, Hiroldo pontua que o grupo trabalha com adaptações, a partir do livro ou filme. É ele que desenvolve a função de adaptador. O teatrólogo, inclusive, tem quatro livros lançados com adaptações infantis. A coleção se chama "Teatro na escola". Recentemente, a companhia fez peças como "A noiva cadáver", "Cinderela", Pinóquio" e "Chapeuzinho Vermelho". As funções de Hiroldo não param por aí. O profissional ainda é professor em duas escolas cearenses, que colocaram o teatro como disciplina curricular, atua, dirige, produz e é uma espécie de "Raimundo faz tudo", como se intitula. "Ajudo no figurino, fotografia, divulgação, cartazes, ingresso, etc. Meu pai, Haroldo, ainda dirige. Tenho um irmão, Haroldo Júnior, que é artista plástico e ajuda nos cartazes, maquiagem, etc. Nossa característica é ser um grupo familiar".
Vale destacar que a Casa da Comédia Cearense tem uma oficina permanente de teatro para crianças a partir de 10 anos, adolescentes a partir de 13 anos e adultos a partir de 18 anos. O espaço funciona às quartas-feiras. Larissa Góes, aliás, atriz cearense que integrou o elenco da novela global "Velho Chico" em 2016, iniciou sua carreira aos 10 anos no complexo. Ela também integra atualmente o elenco do musical "Ceará Show", espetáculo que conta a história do Ceará, em cartaz de quinta-feira a domingo, no teatro de mesmo nome, no Meireles. Lucas Cavalcante é outro aluno do grupo, que integrou um especial da Globo, em homenagem ao Renato Aragão. Ele também atua no "Ceará Show" atualmente, como protagonista da história.
Larissa Góes participou de Larissa Góes participou de "Velho Chico" e começou a carreira na Casa da Comédia Cearense Foto: Globo
Em abril, "Pinóquio" estará em cartaz na Casa da Comédia Cearense, aos sábados, às 17h30. "Em abril e maio devemos estrear no Teatro Arena Aldeota a peça Peter Pan. Também fazemos há 16 anos a Paixão de Cristo, mas ainda não tem lugar definido para esse ano", adianta Hiroldo.

Trajetória Recente

O grupo Comedores de Abacaxi S/A tem uma história recente. Surgiu em 2014, dentro do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Ceará e é composto, atualmente, por seis atores. No entanto, já tem algumas peças em seu repertório, como "Calígulas" e "Entra na Roda" e a performance "Perecível". "Ainda este semestre estrearemos o espetáculo 'Restos cavam janelas', que teve uma pesquisa desenvolvida dentro do Laboratório de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes. Também estamos em processo de montagem de um infantil e de uma contação de história", conta Débora Ingrid, diretora do espetáculo "Entra na Roda", que retoma o universo das canções e brincadeiras da cultura popular cearense.
"Ao pensar em montar um espetáculo infantil, a primeira ideia que nos veio a mente foi as brincadeiras que fizeram parte da nossa infância. Cantigas que serviam para implicar com os colegas,que terminavam em gargalhadas e as que davam em algum jogo. As crianças ou qualquer pessoa que assista o espetáculo pode reconhecer nele as músicas que escutaram em algum momento de sua infância. Em certo momento, a peça permite que os espectadores cantem e se envolvam nas brincadeiras que vão acontecendo. E mesmo hoje, com todas as outras informações e tecnologias, percebemos como os pequenos se envolvem e se divertem com cantigas e jogos populares. Na verdade, eles só precisam de um convite para a brincadeira", explica.
Ela ainda conta que o grupo prefere focar em textos autorais e, a cada espetáculo, os integrantes se revezam entre os cargos de atuação, direção e produção. Para quem quer se aperfeiçoar no teatro, Débora indica os cursos modulares e oficinas que acontecem na Escola Porto Iracema das Artes e na Vila das Artes. "Fortaleza está com um movimento cultural muito interessante e vivo", elogia.
A integrante do grupo Comedores de Abacaxi S/A ainda adianta que a próxima temporada da peça "Entra na Roda" será em maio, no Teatro Sesc Emiliano Queiroz.

Diário do Nordeste

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