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Elis Regina é tema de curso em Porto Alegre

Zuza Homem de Mello acompanhou de perto a carreira de Elis Regina e o nascimento do que conhecemos como música popular brasileira. O jornalista e musicólogo volta a Porto Alegre esta semana justamente para compartilhar seu vasto conhecimento sobre Elis em um curso no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440), quarta e quinta-feira. São dois encontros, das 19h30min às 21h30min, no valor de R$ 320, nos quais Zuza mostrará gravações, vídeos e trechos de entrevistas com a cantora. Inscrições no site do instituto.
De Nova York, onde participava da gravação de um documentário, Zuza respondeu a três perguntas sobre Elis.

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Quais gravações são as melhores para se conhecer Elis Regina?
O período áureo dos discos de Elis inclui os gravados enquanto Cesar Camargo Mariano foi seu pianista e diretor musical. São os LPs, depois CDs, na Philips/Polygram, destacando o primeiro, de 1972, o da capa dela na cadeira de balanço, e o Elis & Tom(1974), que pode ser considerado o top, reunindo o melhor compositor com a melhor cantora. Incluo ainda o Elis ao Vivo(gravado em 1977), lançado (em 1995) originalmente pela Velas e depois pela Eldorado. Foi um show no Anhembi, do qual fui o produtor. Em alguns casos suas interpretações superam as gravadas em estúdio (Vida de Bailarina, por exemplo).

O senhor viu o filme Elis? Foi um tributo à altura?
Gostei do filme, foi um tributo na medida certa e o grande mérito foi deixar as gravações originais com sua voz em lugar de serem cantadas pela atriz. Chegou a ser aplaudido após a exibição em algumas salas de São Paulo. O ator que fez o personagem do Cesar Camargo Mariano, Caco Ciocler, deu uma interpretação impressionante. Era o próprio Cesar.

Quais são os elementos que sustentam ainda hoje a afirmação de ser Elis Regina a maior cantora que o Brasil já teve?
Sua musicalidade é imbatível. Elis canta como um músico e tem a qualidade de voz de uma cantora. Sua excepcional sensibilidade foi a chave de sua capacidade em detectar nas canções dos compositores que trouxe à tona seu valor e seu futuro. Casos de Milton, João & Aldir, Ivan & Vitor, Belchior, Zé Rodrix, Renato Teixeira, entre muitos. Acertou em todos. Não teve receio de incluir Tim Maia num disco, bem como cantar o praticamente desconhecido Guinga. Soube regravar sambas consagrados no passado comoÉ com Esse que Eu Vou e Na Batucada da Vida, nos quais encontrou o ponto certo para valorizar tais canções, como não acontecera nas gravações originais. Assumiu uma postura política contra a ditadura e uma participação importante na defesa dos direitos dos músicos. Elis defendia os músicos, reconhecia seu valor sabendo que sem eles não poderia chegar onde chegou. Nesse sentido, ela se iguala aos maiores da história, como Sinatra, Nat King Cole e Ella Fitzgerald. Finalmente, não tinha papas na língua, dizendo na lata o que pensava sem fazer média com o politicamente correto. Era de uma bravura sem par. E viveu intensamente como quem pudesse imaginar que sua vida seria breve. Foi mesmo. Deixou uma obra sem paralelo. Quem viu, viu. Quem não viu tem os discos. Por isso continua no pedestal.

Zero Hora

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