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Dois livros contam a história das artes cênicas do Ceará

Uma simbiose entre memória, arte e documentação é o que move os novos trabalhos de Marcelo Costa, um dos artistas mais respeitados na seara das artes cênicas do Estado: trata-se dos livros "A História do Teatro Cearense" e "Quem é quem no Teatro Cearense".
Ambos serão lançados neste sábado (20), a partir das 19h, no Teatro Ibeu Marcelo Costa, instituição que, desde 2014 - pelo forte apreço ao trabalho do realizador, um de seus ex-gestores -, resolveu homenageá-lo adotando seu nome.
O evento deve movimentar a cena local, visto que ambas as publicações oferecem um rico panorama daquilo que efetivamente compõem o teatro do Ceará, sobretudo aquele realizado nos séculos XIX e XX.
Assim, funcionam como uma espécie de enciclopédia, já que o intento de seu autor é esmiuçar detalhes relacionados ao setor, desde especificações técnicas inerentes ao trabalho no tablado até os principais nomes e grupos que despontaram em diferentes épocas.
Temporalmente, o recorte da temática vai até 2005, o que abarca boa fatia de artistas e produções também do século XXI, ampliando referências e solidificando percepções sobre um fazer artístico crescente.
Particularidades
Apesar de interligados pelo mesmo eixo temático, os dois livros complementam-se a partir de informações distintas. Enquanto "A História do Teatro Cearense" enfoca, de forma direta, processos que culminaram no espectro de trabalho que podemos acompanhar hoje, "Quem é quem no Teatro Cearense" revela 500 rostos que se dispuseram a construir a trajetória das artes cênicas em Fortaleza.
Este último, inclusive, versa tanto sobre a vida e o ofício de nomes como o dramaturgo Carlos Câmara (1881-1939) - destaque por ter fundado o Grêmio Familiar em 1918 e produzido espetáculos de grande apelo popular nos teatros da Capital no começo do século XX - quanto sobre a trajetória de grupos como o Bagaceira de Teatro, fundado em 2000.
Outras figuras que despontam na publicação são o jornalista, escritor, teatrólogo e pesquisador Eduardo Campos (1923-2007), autor de alguns dos mais célebres espetáculos do Estado, tais como "O Morro do Ouro", "A Rosa Lagamar" e "A Donzela Desprezada e Nós"; e José Maria Bezerra de Paiva (B. Paiva), com mais de 65 anos dedicados aos palcos e tendo dirigido mais de 350 montagens Brasil afora.
"História do Teatro Cearense", por sua vez, é publicação antiga, que agora chega reinventada, atualizada. Marcelo Costa lançou a primeira edição em 1972, na altura de seus 24 anos, então já um grande admirador da área que escolheu trilhar na vida.
"Naquela época, parti da estaca zero. Foi um processo mesmo de garimpagem, até porque tudo sempre foi custeado por mim e partiu de meu próprio interesse", conta o artista. "Com o tempo, porém, vi que alguns outros aspectos deveriam ser abordados, aí decidi fazer uma reedição, que agora chega nas mãos do público interessado", completa.
Apesar das 726 páginas da publicação, Marcelo Costa diz ainda estar de busca de outros aspectos, outras fontes e histórias. "Pretendo atualizá-la ainda mais, porque continuo achando que não está totalmente suficiente", confessa. Sinal de que, em breve, talvez possamos ter acesso a mais conteúdos referentes ao tema.
Ensaio teatral
Além do lançamento das duas obras, haverá também a pré-estreia, no sábado, do espetáculo "A Prima Donna", encenado pela Cia. Dionisyos. Com texto original do dramaturgo carioca José Maria Monteiro, a peça é composta por apenas um ato e pode ser encarada como um ensaio de teatro, com todas as peculiaridades intrínsecas ao ofício no palco.
"Na montagem, a gente preza muito pelo humor, até porque o tema pede isso. Fazemos a representação dos atritos entre os envolvidos, de atores que não decoram suas falas, dessas coisas. É um retrato hilariante de um teatro no passado", detalha Marcelo.
Assim como "História do Teatro Cearense", a apresentação também advém de outros tempos, e mantém forte relação com o autor. Em 1965, por exemplo, Marcelo Costa foi um dos atores do espetáculo, realizado como trabalho de conclusão do curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará (UFC); já em 1993, retornou aos tablados com o referido trabalho, desta vez associado ao Grupo Balaio e assumindo a direção. De acordo com ele, "essa montagem já foi, por sinal, reencenada por vários outros atores e diretores, caso de João Falcão e Augusto Abreu, que puderam fazer suas leituras do mesmo tema".
No caso de Marcelo, cabe ainda a menção a uma importante informação: é a 99ª peça que envolve seu nome, dentre as tantas que pôde participar na carreira assumindo diferentes ocupações, de intérprete a produtor. Depois de passar pelo Teatro Ibeu, "A Prima Donna" ficará em cartaz no Teatro Antonieta Noronha, de 27 de maio ao final de junho, somente aos sábados, às 19h.
Perspectivas
Indagado sobre os sentimentos que o atravessaram na organização dos trabalhos - especialmente na seara dos livros, posto que as ocupações de Marcelo são plurais, como ator, diretor, dramaturgo, produtor, professor e historiador - ele é honesto. "Achei o processo um pouco sofrido. Principalmente porque, no primeiro lançamento do material, em 1972, eu apenas tinha escrito os livros; desta vez, construí-me com eles", destaca.
"Foi também algo muito difícil porque é como tirar leite de pedra. Tem gente que não compreende a proposta. Sinto muito a falta de autocrítica por parte de muitos profissionais do Estado", reitera.
Quanto ao panorama atual do teatro no Ceará, Marcelo tece algumas críticas. "Acho que o teatro cearense está numa maré baixa atualmente. Estamos na fase da esquete, dos festivais. Dificilmente, algum grupo engendra uma temporada de apresentações. E estamos meio que duelando com o humor no Estado, o que é complexo para nós".
"Falta também dinheiro para realizar espetáculos e sensibilização por parte das autoridades. No entanto, avaliando a história que está nos livros e a que acompanhamos agora, é tempo mesmo de resistência. Não devemos parar", finaliza.
Mais informações:
Lançamento dos livros sobre o teatro cearense e apresentação do espetáculo "A Prima Donna". Neste sábado (20), às 19h, no Teatro Ibeu Marcelo Costa (R. Nogueira Acioly, 891, Aldeota). Publicações disponíveis para venda apenas com o autor. Ingressos para a peça: R$ 10 (inteira - apenas para quem não adquiriu os livros). Contato: (85) 4006-9999
Livro
História do Teatro Cearense
Marcelo Costa
Image-0-Artigo-2243458-1
Independente
2017, 726 páginas
R$ 50
Quem é quem no Teatro Cearense
Marcelo Costa
Image-1-Artigo-2243458-1
Independente
2017, 530 páginas
R$ 50
Diário do Nordeste

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