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Escritor inglês é autor da obra que serve de base para a nova série sensação, "American Gods", da Amazon

Ian McShane (Mr. Wednesday) e Ricky Whittle (Shadow Moon), protagonistas de "American Gods"
Neil Gaiman foi um dos artistas de quadrinhos britânicos que, nos anos 1980, tornaram-se sensação no mercado norte-americano. O episódio entrou para a história da nona arte como "Invasão Britânica" - uma referência ao apelido dado à conquista dos EUA, duas décadas antes, por grupos de rock como Beatles e Rolling Stones.

O também inglês Alan Moore e o escocês Grant Morrison eram os outros dois nomes de maior peso desta turma. Dos três, Gaiman sempre foi o autor mais palatável e, apesar da pose de gótico suave, há um otimismo em suas tramas que faltam ao seus companheiros.
Moore, curiosamente, caiu no gosto dos estúdios de Hollywood - o contrário, não aconteceu, diga-se. Filmes como "V de Vingança", "Watchmen", "Liga Extraordinária" e "Constantine" têm em comum duas coisas: seu trabalho como referência e tornar ruim algo que, originalmente, é repleto de engenhosidade e brilho. De qualquer forma, as adaptações fizeram dinheiro e, por conta disso, Moore continuou a ser importunado por produtores.
A obra de Gaiman, ao contrário do que se poderia esperar, sempre teve dificuldades no terreno das adaptações. Ou os produtos derivados do que ele escreveu tiveram pouca relevância ou continuaram no papel, como projetos que nunca se concretizaram.
Sua obra-prima, as 75 edições de "Sandman", vez por outra vira notícia, não apenas por reedições, mas pelo interesse de algum produtor de convertê-la em filme ou série de TV. A última notícia que se teve, no ano passado, deu conta de que o roteirista Eric Heisserer havia abandonado o projeto, pensado como longa-metragem para o cinema. Gaiman disse, à época, que "Sandman" só funcionaria como série de TV.
Bem avaliado
Neste meio tempo, o romance "Deuses Americanos", de 2001, serviu de base para uma série homônima ("American Gods"), com oito episódios planejados. Bryan Fuller e Michael Green são os criadores do programa, produzido pelo canal a cabo Starz (EUA) e distribuído em outros territórios (Brasil incluso) via Amazon Prime Video, o serviço de streaming audiovisual da Amazon. O primeiro episódio foi exibido nos Estados Unidos no domingo passado, tendo entrado no catálogo do APV no dia seguinte. A periodicidade da exibição - e da inclusão pelo Amazon - é semanal.
A estreia foi precedida por um hype que, de certa forma, já garantia o sucesso do programa. A métrica no site Rotten Apples - site que faz a média das críticas de séries e filmes - contabilizava 91% de avaliações positivas, tendo por base o episódio-piloto, "The Bone Orchard".
David Slade, cineasta britânico, comandou este e os próximos dois capítulos.
Desafio
"American Gods", a ser avaliada por seu episódio de estreia, não é um programa imbatível, como têm alardeado seus comentaristas mais exaltados. Contudo, não lhe faltam méritos. Um deles é o estilo. A série tem uma linguagem visual própria e um tom narrativo peculiar - é sangrento (exagerada e irrealisticamente), mas tem humor. Não o tipo de humor de filmes violentos como "Deadpool". É algo mais numa linha britânica, como se fossem toques de "Monty Phyton".
Boas canções, elenco afinado e boa performance de Ian McShane, que rouba a cena como "Mr. Wednesday", garantem interesse para que se continue acompanhando a série.
O sucesso desta primeira temporada de "American Gods" (e ele parece ser inevitável a esta altura) deve impor uma dificuldade a "Sandman". Tanto a saga dos quadrinhos como o romance "Deuses Americanos" são representativos do tipo de história que Neil Gaiman gosta de contar: uma mistura de grandes forças cósmicas, místicas, com a banalidade do cotidiano, com homens e mulheres comuns.
Enquanto "Deuses Americanos" traz suas ações para o nosso mundo, "Sandman" faz um ziguezague entre a realidade e dimensões astrais (ou algo do tipo). Isto impõe uma enorme dificuldade para qualquer adaptação audiovisual.
Para piorar, como ambos partilham o mesmo clima místico, cheio de deuses e outras figuras de um mundo mágico, corre-se o risco de um "Sandman", na TV ou nos cinemas, parecer demais com um derivado de "American Gods".

Diário do Nordeste

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