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Políticas da Ancine e dos governos estaduais rendem resultados positivos para o setor audiovisual

Pensar o audiovisual fora dos grandes eixos de fomento tem um papel fundamental na regionalização do setor, reconhecendo suas particularidades e expandindo o mercado enquanto estimula o desenvolvimento econômico, valoriza profissionais e estimula o encontro do público com a obra nacional. Os resultados iniciais do Programa Brasil de Todas as Telas, maior projeto do setor audiovisual já implementado no Brasil pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) em parceria com o Ministério da Cultura (MinC) foi tema do Seminário de Desenvolvimento Regional do Audiovisual - Brasil de Todos os Sotaques, que aconteceu nesta semana no Rio de Janeiro.

Dirigentes culturais de diversas regiões do Brasil se encontraram para discutir a eficiência do programa, dentro de suas respectivas realidades, e projetar objetivos para a produção nacional.
"O Brasil está em forte recessão há dois anos, com crise política e econômica. Isso dá mais destaque ao audiovisual, pois seguimos crescendo independente disso. Em 2016, foram vendidos 184 milhões de ingressos. Em 2017, até o fim do ano a estimativa é de195 milhões", reflete Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine.
O mercado aquecido é reflexo de uma produção audiovisual mais firme e diversa, representando as diferentes vozes e sotaques da produção nacional, que vão além da exibição nas salas de cinema em shoppings e aproveitam também as janelas do vídeo sob demanda e das obrigatoriedades de exibição de conteúdo nacional na televisão.
"Ao longo dos anos, a produção de filmes brasileiros quadruplicou com diversidade, qualidade e prestígio internacional. Em janeiro e fevereiro, tivemos um filme que fez mais de 9 milhões de ingresso. Outros 12 foram para o Festival de Berlim, 15 para Roterdã e um para Sundance, os três principais festivais do primeiro quadrimestre. É uma cinematografia com diálogo, relevância artística e capacidade de circulação", aponta Rangel.
Além de ocupar a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos Piúba também preside o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura. Ele atribui esse panorama otimista para o audiovisual brasileiro ao conjunto de iniciativas da Ancine nos últimos anos.
"A primeira premissa é da diversidade cultural que se expressa em sotaques e tons, a outra é a diversidade regional, essa vasta geografia cultural e humana, essas paisagens interiores e externas dessa diversidade regional. O Fórum vem defendendo a importância dessa ação federativa da política cultural e a defesa do sistema nacional de cultura. Nesse sentido, acontece o fortalecimento, a desconcentração dos recursos, o desenvolvimento e envolvimento regionais", pontua o secretário.
Arranjos
Por meio dos arranjos regionais, que suplementam recursos financeiros aportados pelos Estados, o Distrito Federal e as Capitais, financiando projetos de produção de conteúdos audiovisuais brasileiros independentes, a Ancine contempla produção de longas-metragens, telefilmes, obras seriadas, pilotos e curtas-metragens. A distribuição e a capacitação também são preocupações dos arranjos.
"Trata-se de ter a pluralidade do Brasil alimentando a economia. A curva de nacionalização de 2009 a 2016 é fruto de uma política que se organizou para isso, com ações cuja prioridade é o envolvimento em conjunto. A evolução do número de empresas fora do eixo Rio-São Paulo contempladas pelo Fundo Setorial do Audiovisual demonstra uma situação diferente e mais diversificada do que havia há três anos. Em todas as regiões do Brasil cresceu e isso significa uma política democrática, que dá amplo acesso a todos que desejam participar", diz Rangel.
A região Nordeste tem se destacado na linha de arranjos regionais, representando 43% dos valores totais disponibilizados. Por meio dos editais lançados ou a lançar, são previstos 860 projetos de produção e distribuição, de diversos formatos e gêneros.
Durante o Seminário, o crescimento do setor no Ceará foi motivo de elogio entre as outras capitais. O mais recente Edital de Cinema e Vídeo, que oferecerá um total de R$17 milhões, resulta do diálogo com a Ancine. "A Ancine, com os arranjos estaduais, possibilitou um exercício do sistema nacional de cultura, para que pudessem estar potencializando e ampliando os editais. Foi um processo de construção não de um edital, mas de uma política voltada para o Ceará", conta Fabiano.
A entrada de recursos fortalece o desempenho cearense no mercado nacional e estimula a participação dos profissionais do setor. "Quando a Ancine descentraliza recursos para os estados, ele não está fomentando apenas o cinema cearense, mas o brasileiro em geral. Por outro lado, é um cinema brasileiro produzido no Ceará, feito por cearenses, na paisagem cearense, com as percepções do estar, do ser, do perceber o mundo a partir do lugar onde se está que é o Ceará", afirma o secretário.
Distribuição
O aumento da produção coloca novos desafios diante da distribuição e movimenta o parque exibidor. Rangel afirma que as salas de cinema têm se expandido de forma desconcentrada, sendo mais expressiva e consistente nas cidades do interior e nas regiões Norte e Nordeste.
"De 2011 a 2014, foram incorporadas 149 salas por ano; de 2015 a 2016 a média foi de 177. O interior do País era um dos focos do programa Cinema Perto de Você e o crescimento se intensificou no último ano. Em 2016 tivemos mais salas abertas no Interior do que nas capitais".
A distribuição não pode ser menos importante nesse processo. Televisões abertas e pagas e o crescente serviço de vídeo sob demanda continuam no radar. A ideia é construir caminhos para a circulação dos conteúdo brasileiros, com implementação gradual, conforme o fortalecimento dos agentes econômico e do envolvimento dos governos. "Atingimos 143 filmes lançados em 2016. Em 2002 foram apenas 29. Em 2017, teremos um novo recorde com destaque para as animações que chegarão ao mercado. A distribuição tornou-se uma força expressiva e responsável pelos lançamentos brasileiros. Entendemos que era preciso construir um laço entre produtores e exibidores", finaliza Rangel.
*O repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite da Ancine.

Diário do Nordeste

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