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Clássico da bibliografia de Parsifal Barroso, "O Cearense" é reeditado pela Escrituras, com lançamento em Fortaleza no próximo dia 8

Clássico da bibliografia de Parsifal Barroso, "O Cearense" é reeditado pela Escrituras, com lançamento em Fortaleza no próximo dia 8
 
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O intelectual Parsifal Barroso; abaixo, com Papa João XXIII e o presidente Juscelino Kubitschek
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Um jeito de falar, de se movimentar. De enfrentar o mundo com a coragem de um explorador. De fazer humor e rir de si mesmo, sabendo que só assim a vida é possível. De comer e seduzir o outro pela barriga. De contar histórias, de rezar, de se relacionar com a natureza - com o "bonito pra chover".
Isso é só um pouco do que cabe na chamada "cearensidade", neologismo tão querido por nos garantir uma pertença cheia de orgulho e bem querer.
Embora tenha ganhado contribuições diversas ao longo das décadas para ampliar seu significado - de escritores, artistas e outros conterrâneos ligados à cultura -, o termo possui, sim, um momento inicial, um responsável por lançá-lo à luz de maneira decisiva. "Cearensidade" não seria o mesmo sem José Parsifal Barroso.
Intelectual de relevância na história do Estado, o fortalezense, nascido em 5 de julho de 1913, dividiu sua vida entre muitas paixões profissionais. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Ceará, foi professor, advogado, jornalista, político e escritor, deixando um legado importante nessas diferentes áreas.
Ao longo da carreira, exerceu importantes cargos na vida pública, como deputado federal, ministro do Trabalho, Indústria e Comércio no governo de Juscelino Kubitschek, senador, governador do Ceará (1959- 1963) e presidente do Tribunal de Contas do Distrito Federal (1979).
Sua bibliografia inclui títulos diversos como "Pedro, nosso irmão", "Na casa do barão de Studart", "Um francês cearense", "Senador Pompeu, um cabeça-chata autêntico" (separata da Revista do Instituto do Ceará), "Vivências Políticas" e "Uma história política do Ceará".
Tratado
Mas nada define melhor a contribuição de Parsifal Barroso para o universo da cultura cearense e sua difusão do que "O cearense" (1969), seu mais famoso título e verdadeiro tratado sobre a "civilização cearense", a partir da observação de modos muito particulares de vida e comportamento.
"Embora o cearense se pareça com o brasileiro a muitos respeitos, sua presença sempre se assimila por uma modalidade própria de ser, de falar, de agir e de afirmar-se, que se não confunde com qualquer outra", diz ele no livro.
Arguto, preciso e imersivo, o trabalho revela-se uma minuciosa investigação sobre nossas origens, formação e história. Ou, nas palavras do neto Igor Queiroz Barroso, no prefácio da reedição que sai agora pela Escrituras: "um ensaio antropológico em que se vê claramente a figura de um Parsifal Barroso cientista social, com um pé na antropologia, especulando - a partir de consistentes referências da estirpe de um Gilberto Freyre e de um Djacir Menezes - sobre os elementos constituintes da morfologia do cearense". Com lançamento marcado para esta quinta-feira (3) no Rio de Janeiro e o próximo dia 8 (terça) em Fortaleza, o livro já está disponível nas livrarias do País.
Professor e jornalista, Luís- Sérgio Santos destaca uma observação de Persifal Barroso sobre a conformação geográfica do Ceará. "As chapadas em forma de ferradura teriam insulado o Estado, deixando-o relativamente apartado do resto do Nordeste. Isso teria resultado em características culturais distintas, como hábitos alimentares, a relação atávica com a seca, o semiárido", ressalta o professor, que lançará em outubro deste ano uma biografia sobre o intelectual.
Embora a reedição de "O Cearense" ajude a mobilizar leitores até lá, Luís-Sérgio reconhece um objetivo muito mais importante para esta segunda edição. "Apesar de sua importância, Parsifal é relativamente desconhecido do público, uma lacuna nas bibliografias. Então essa reedição é importante para restaurar sua memória".
E por que a escolha deste título, frente à vasta produção do autor? "Suas outras obras são leituras mais específicas, por vezes para iniciados. 'O Cearense' é uma leitura acessível, que pode interessar a um leque maior de leitores".

Livro

O cearense
Parsifal Barroso
Escrituras
2017, 136 páginas
R$ 35

Fique por dentro

Contribuição da família enriquece segunda edição
A primeira edição de "O Cearense" contava com prefácio do sociólogo, jurista e economista Djacir Menezes. Para a reedição, não apenas esse texto foi resgatado, mas outras duas importantes contribuições acrescidas. Um segundo prefácio é assinado pelo neto de Parsifal Barroso, o presidente do Instituto Myra Eliane, Igor Queiroz Barroso, enquanto a contracapa abriga texto do filho, Roberto Parsifal Barroso. "Ao longo de sua vida distribuiu afetos e colheu amizades. Uma prova disso foi sua sessão de despedida da Câmara dos Deputados, em 1977. A sequência de apartes varou duas horas de depoimentos ininterruptos", recorda Igor. Roberto, por sua vez, resgata uma fala que define bem o caráter do pai: "Napoleão dizia que, se você esfregasse um russo, aparecia um cossaco. Raspe um cearense e você encontra um israelita ou um cigano, com as melhores características que essas raças possuem", disse o educador Roberto de Carvalho Rocha ao citar Parsifal Barroso.
Mais informações:
Lançamento do livro "O Cearense", de Parsifal Barroso. Dia 8 de agosto, às 19h, na Assembleia Legislativa do Ceará - Plenário 13 de Maio (Av. Desembargador. Moreira, 2807, Dionísio Torres). Contato: (85) 3277.2500

Diário do Nordeste

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