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Livro da britânica Lucy Mangan, que celebra os 50 anos da "Fantástica Fábrica de Chocolate", chega ao Brasil

por Adriana Martins - Editora assistente
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Com o perdão do trocadilho, é um livro para se devorar. O texto é fluido, bem escrito e as páginas são repletas de imagens que dialogam bem com ele. A pesquisa é rica, com falas de diferentes fontes e documentos. Quando menos se espera, a leitura já avança, assim como a vontade de um docinho - chocolate, mais precisamente.
Lançado em 1964, "Charlie and the chocolate factory" - no Brasil, "A fantástica fábrica de chocolate" -, do britânico Roald Dahl, segue como um dos mais famosos títulos da literatura infantil moderna. A depender da geração do espectador, é mais conhecido por suas adaptações cinematográficas, "Willy Wonka and the Chocolate Factory", de 1971, e "Charlie and the Chocolate Factory", de 2005 - aqui traduzidos com o mesmo nome da edição nacional do livro.
Em 2014, quando a obra completou 50 anos, a jornalista britânica Lucy Mangan lançou "Por dentro da fantástica fábrica de chocolate", que agora, com um pouco de atraso, chega ao Brasil pela Martins Fontes. O título é um deleite para fãs do universo criado por Dahl, capitaneado por Willy Wonka e sua fantástica fábrica.
O termo se repete simplesmente por ser o mais adequado - antes de um elogio à fictícia empresa Wonka, define o próprio gênero no qual se encaixa o livro. Apenas na literatura de fantasia poderia existir um inventor tão cativante e, ao mesmo tempo, lunático como nosso protagonista, com suas balas que duram eternamente, chicletes com gosto de sopa, papel de parede "lambível" sabor frutas e as mais variadas e cremosas versões de chocolate.
Além, claro, dos indizíveis Umpa-Lumpas, os misteriosos funcionários anõezinhos vindos da "Loompalândia" e autores das canções críticas sobre as crianças malcriadas que visitam a fábrica.
Descobertas
Seja no livro, nas adaptações para o cinema ou até para uma ópera, a história é a mesma: Charlie é um garoto muito pobre que encontra um dos bilhetes dourados colocados por Wonka em cinco barras de chocolate. O prêmio é uma visita à fábrica - na verdade, descobre-se ao final, o empresário e inventor procurava um herdeiro para seus negócios, uma criança amável e pura de coração.
Ao longo do passeio, as personalidades terríveis das crianças (e do pai ou da mãe que as acompanham) são reveladas. Como consequência do mau comportamento, ela se metem em problemas e precisam abandonar a visita. Até sobrar apenas Charlie e sue avô.
Pela imaginação de Dahl - reconhecido pela sua produção voltada ao público infanto-juvenil (são deles títulos como "O bom gigante amigo", "Fantástico senhor raposo", "Matilda", "James e o pêssego gigante" e "As bruxas") - o mote virou uma exuberante, eletrizante e um tanto sombria aventura.
Esse último aspecto dá-se, muito, pelo caráter do protagonista Willy Wonka, que, embora generoso, não deixa de ter um lado perverso com as crianças e uma relação ególatra com suas criações. Isso fica claro, por exemplo, nos castigos que cada uma recebe por suas condutas reprováveis - o que sentir frente a Augustus Gloop sendo sugado por um tubo após cair no rio de chocolate? Ou a mimada Veruca Salt despencando na calha de lixo, sem saber se ele termina em um incinerador ativo? Sobra até para o bondoso Charlie, que precisam passar por um impiedoso teste de honestidade antes da recompensa.
Ainda assim - ou exatamente por isso - a trajetória do livro foi estupenda, com milhares de cópias vendidas em traduções para mais de 50 países, além de adaptações não apenas de cinema, mas teatro, musical e os mais diversos produtos licenciados.
Detalhes
Tudo isso e mais é explorado na obra de Lucy Mangan, dividida em capítulos temáticos, dedicados aos filmes e ao espetáculo de ópera derivados do livro, às ilustrações originais, análises de críticos e fãs, breve biografia do autor (com delicioso prefácio da neta, Sophie Dahl) e ao impacto da "Fábrica de Chocolate" na cultura pop - sem falar de material específico sobre o doce-título.
É no primeiro capítulo, por exemplo, que entendemos um pouco mais sobre o doloroso processo criativo de Dahl, que por vezes pensou em desistir da história, especialmente após ser atingido por duas grandes tragédias pessoais - um grave acidente com o filho caçula Theo e a morte de uma das filhas, Olívia.
Livro
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Por Dentro da Fantástica Fábrica de Chocolate
Lucy Mangan
Tradução: Maria do Carmo Zanini
Martins Fontes
2017, 214 páginas
R$ 80

Diário do Nordeste

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