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Pesquisadores atualizam o legado de Lima Barreto

© walter craveiro
© walter craveiro
Que ecos e novas vertentes de pesquisa nos proporciona hoje a obra de Lima? Qual a fortuna crítica em torno do autor e que novas abordagens ela inaugura? Lado a lado, os pesquisadores Beatriz Resende, Felipe Botelho Corrêa e Edimilson de Almeida Pereira abriram a quinta-feira no Auditório da Matriz debruçados sobre o legado do Autor Homenageado.

Professora da UFRJ, Beatriz Resende pertence à geração pioneira que estudou Lima Barreto na universidade. "Precisamos hoje no Brasil retomar a crítica de Lima Barreto [...] Muito do que fez com que a vida fosse difícil para Lima continua existindo. "Ainda assim, insiste a pesquisadora, é necessário desconstruir o mito da exclusão. "No final da vida, especialmente, Lima era uma figura importante. Era alguém reconhecido pelos seus pares."

Felipe, professor no King’s College de Londres, falou principalmente sobre as crônicas de Lima escritas sob mais de uma centena de pseudônimos em revistas populares da época – “Careta”, “Fon-Fon”, entre outras - e ressaltou o papel importante das publicações para a circulação de ideias fora do Rio. “Para Lima, a literatura tem que ter muita clareza. E tem que ser muito sincera [...] Ele tinha um projeto claro de falar pro maior número possível de pessoas”, lembrou o pesquisador, que desenvolveu verdadeira arqueologia ao identificar quais textos eram (ou não) de sua autoria. “Com a obra digitalizada, comecei a tentar achar pistas. Queria fazer uma pesquisa sistemática.”

Especialmente aplaudido, Edimilson, poeta e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, ressaltou a importância de se pensar a história da literatura brasileira e o imaginário nacional sob perspectiva menos eurocêntrica, conferindo mais espaço, por exemplo, à oralidade - “Nós temos um cânone oficial e um cânone negativado [...] Os campos de referência teórica também precisam ser deslocados”, sugeriu. Ele frisou ainda o fato de Lima escrever a partir da perspectiva de um corpo mulato, num Rio de Janeiro não muito distante da abolição. “Lima escrevia com assombro, escrevia com susto”, disse, referindo-se a essa escrita que nasce de “um corpo em risco, [um] corpo ameaçado”. E lembrou que “segundo estatística de 2016, a cada dia 63 jovens negros são mortos no Brasil”.

Os desafios do presente também foram abordados quando Beatriz lamentou a crise que assola boa parte do serviço público no Rio. “Não posso deixar de lastimar que não estejam presentes pesquisadores do Rio de Janeiro, colegas meus da UERJ, porque há quatro meses não recebem salário”, protestou, amplamente endossada pela plateia.

FLIP

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