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Razão e sobrenatural se chocam no romance "Coração satânico", de William Hjortsberg, recém-lançado no País

por Dellano Rios - Editor de área
O ator Mickey Rourke, como o detetive Harry Angel, na adaptação para o cinema do livro mais conhecido do escritor norte-americano William Hjortsberg
William Hjortsberg tinha 76 anos quando morreu, em abril passado. Os obituários dedicados ao escritor norte-americano, invariavelmente, elegeram dois marcos em sua vida e obra: o romance "Falling Angel" (1978) e o roteiro de "A Lenda" (1985), uma fantasia mediana que Ridley Scott dirigiu, tendo Tom Cruise como protagonista.
O primeiro diz mais das capacidades de Hjortsberg. O romance é uma história de detetive, com elementos sobrenaturais. Os dois domínios constantemente se encontram, na literatura, nos quadrinhos e no cinema, quase sempre pendendo mais para o clima de terror extraordinário. Mas Hjortsberg não é um ficcionista qualquer. É de um tipo caro às letras dos EUA: não é um gênio, nem tem cacife para criar um clássico, mas domina a técnica com poucos. É, por isso mesmo, o tipo de autor que Hollywood corteja (e deveria cortejar cada dia mais). Dito isso, vale lembrar que uma história de detetive é um exercício de lógica (vide o exemplo de Sherlock Holmes, um dos arquétipos do gênero). E o escritor sustenta a lógica nesta história: seu narrador protagonista se nega a adotar uma explicação fantástica para o mistério que busca elucidar, mesmo quando atravessam seu caminho praticantes de vodu, cartomantes e adoradores do diabo.
O livro foi levado aos cinemas nove anos depois, numa produção dirigida por Alan Parker. Cioso da obra que lhe serviu de base, o cineasta preferiu mexer no título, que se tornou "Angel Heart" (no Brasil, "Coração satânico"). Foi o nome, aliás, que a nova edição do romance, da Darkside Books, tomou emprestado.
Seriado
A edição da Darkside, especializada em derivados de filmes de terror, é caprichada. E a escrita segura Hjortsberg garante que não seja apenas um caso de literatura ruim numa embalagem bonita.
A trama difere do filme e seu modelo narrativo também. Parece mais com um seriado do que com um longa-metragem. A história acompanha o detetive Harry Angel, contratado por um ricaço chamado Louis Cyphre, para investigar o desaparecimento de um antigo ídolo da música. Na Nova York do fim dos anos 1950, assassinatos, ritos mágicos e figuras singulares cruzam o caminho de Angel e ameaçam sua sanidade e segurança, sem que a grande metrópole pareça se importar.

Livro

Coração satânico
William Hjortsberg
Tradução: Carla Madeira
Darkside Books
2017, 320 páginas
R$ 54,90

Diário do Nordeste

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