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A Funarte lança coleção inédita, em seis volumes, da obra teatral do autor de "Navalha na carne"

por Iracema Sales - Repórter
Plinio Marcos
A iniciativa de editar a obra teatral de Plínio Marcos (1935-1999) partiu do próprio ator, diretor e dramaturgo paulista, quando, em 1997, bateu à porta da Fundação Nacional de Artes (Funarte) com o projeto que agora se torna realidade. Materializado em coleção inédita - formada por seis volumes, com 29 textos, dos quais 10 nunca foram publicados - o compêndio reúne as últimas edições das peças do autor de "Dois perdidos numa noite suja" e "Navalha na carne".
O lançamento aconteceu nesta terça (5), no Rio de Janeiro. A publicação pode ser adquirida, em todo o Brasil, pelo endereço livraria@funarte.gov.br.
> Funarte tem poucos projetos engatados 
Plínio Marcos é "um dos mais importantes e originais dramaturgos brasileiros", assegura Filomena Chiaradia, gerente de Edições da Funarte. Ele chegou a acompanhar parte do projeto da coleção, mas ficou doente e morreu em 1999, sem ter visto o resultado. O trabalho de reconstrução de memória era desejo "do próprio Plínio, que queria fazer ainda em vida", lembra Chiaradia, completando que, em 2015, os herdeiros do dramaturgo procuraram a fundação para mais uma vez tentar levar a ideia em frente.
A organização coube ao crítico e professor de literatura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alcir Pécora, que assina trabalhos de autores como Hilda Hilst e Padre Antônio Vieira. Cada um dos textos ganhou análise sua, numa "contribuição que engrandece ainda mais a coleção, por ser um dos nomes mais respeitados da área no Brasil", observa Chiaradia.
Pécora debruçou-se sobre a obra de Plínio Marcos e analisou 29 textos em menos de três anos. "Dá para imaginar?", indaga ele, ao realizar pesquisa minuciosa e de fôlego com o objetivo de trazer a dramaturgia do paulista à cena atual. Quanto à organização, as obras foram divididas a partir do estudo de cada texto.
Atual
A produção cênica de Plínio Marcos chega ao público em momento delicado da vida política brasileira, numa demonstração da atemporalidade de suas peças. Alcir Pécora afirma que "toda obra de arte vive num período, digamos, de longa duração. No momento atual brasileiro, de perplexidade e desesperança, a obra dele reafirma o poder da arte para evidenciar as misérias do tempo e interpretá-las de maneira dura, radical, mas humana e jamais banal".
Durante a pesquisa, o crítico admite ter optado não por textos revistos pelo dramaturgo, mas sim por aqueles cujos originais estivessem em condição mais íntegra, viabilizando "trabalhar não apenas com cópias, mas com datiloscritos e manuscritos". A tarefa de estabelecer o final dos textos foi realizada por Walderez de Barros, atriz e ex-esposa do autor.
"Fora dessa condição mais preservada, outros textos do Plínio podem ser tratados no futuro, mas seguramente não serão fundamentais em sua bibliografia", adverte Pécora.
Quanto às dificuldades para a execução do projeto, o crítico revela: "foram tantas que, olhando hoje para trás, mal acredito que os volumes estão prontos". Com a sensação de dever cumprido, ele enumera os obstáculos enfrentados nesses quase três anos, começando pela reduzida equipe para preparação e edição; dificuldades de fixação final dos textos, com base na última versão em vida do autor; de identificação e autorização de imagens; e produzir ensaios originais para cada um dos textos num tempo mínimo. "Meu plano original era editar em torno de quatro peças por ano, no máximo. Acabei fazendo 29 em menos de três anos".
Completa
A publicação condensa os textos mais relevantes da carreira do dramaturgo, que construiu grande parte de sua obra teatral entre os anos 1960 e 1970, período em que o Brasil viveu sob o signo da ditadura militar (1964-1985) - daí os embates que precisuo enfrentar com a censura.
Suas criações abordam temáticas que continuam atuais até hoje, sendo bastante revisitadas por novos diretores, que serão presenteados - assim como o público - com a coleção. "Ele publicava por conta própria e também em jornais", salienta Filomena Chiaradia, lamentando o pouco interesse das editoras comerciais em lançar obras de teatro.
"Um autor como Plínio Marcos não conseguiu publicar nesse circuito, indo buscar apoio em uma instituição do Estado", admira-se, ressaltando a importância do papel das Edições Funarte.
O caso de Plínio Marcos ilustra bem o difícil caminho percorrido, sobretudo, pelos novos dramaturgos, servindo para referendar a necessidade das políticas culturais públicas. Em resposta a essa demanda, a Funarte está preparando chamada pública para diversas linguagens artísticas, incluindo visuais e dramatúrgica, com o objetivo de suprir essa lacuna.
O órgão adianta, no entanto, que ainda não há data para o lançamento, justificando que o orçamento da instituição para o próximo ano sequer foi definido. Mas a disposição é continuar com os projetos editoriais. Os trabalhos são selecionados por conselhos interno e externo, explica Chiaradia, completando não existir edital específico para área de publicações.
Mais informações:
Promoção de lançamento da Coleção Plínio Marcos pela Funarte: R$ 120 pelos seis volumes ou R$ 20 por volume, válida até 31/12/2017. Preço normal: R$ 35 por volume. Encomendas e informações sobre compra pelo e-mail livraria@funarte.gov.br
Contato: (21) 2279.8071. Envio (cobrado frete) para todo o Brasil

Diário do Nordeste

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