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Vestígios do nosso tempo

A artista Thina Cunha e uma das obras da mostra "Resquícios de nós", em cartaz até o próximo dia 28 de outubro, na Galeria Mariana Furlani
As 25 obras, entre quadros e esculturas, em tamanhos variados, que compõem a mostra "Resquícios de nós" - pode ser visita até 28 de outubro na galeria Mariana Furlani Arte Contemporânea -, da artista plástica pernambucana Thina Cunha, mais do que encantar os visitantes tanto pela técnica utilizada quanto pela plasticidade dos trabalhos, lançam uma reflexão. "Esse trabalho fala muito sobre o nosso tempo, caracterizado pelo excesso em todos os sentidos. Tudo é demais. É muita gente", afirma a artista, explicando que os resquícios têm múltiplos significados.
Podem estar relacionados ao tempo presente ou com algo que deixamos no nosso passado, argumenta. No momento, a arista pensa em desenvolver novo projeto, que tem como ponto de partida a limpeza dos rios de Recife. A ideia da artista é criar obras com material retirado dos mananciais. "O lixo dos rios é um luxo", sentencia a artista plástica, cujas obras seguem os preceitos da arte contemporânea. Daí o diálogo que as criações tentam articular com a sociedade. "As pessoas continuam jogando lixo nos rios", atenta, completando que tem muita vontade de realizar trabalho usando a arte como meio de conscientização social.
Dessa maneira, a arte é colocada a serviço da vida e das questões que afligem à sociedade atual. Os reflexos da crise político-econômica, que afeta o Brasil desde 2014, atingem diretamente o mercado da arte. "Quando tem crise, as artes plásticas são as primeiras a sofrer. Ninguém vai deixar de pagar o colégio do filho para comprar um quadro", argumenta a artista, que admite seu trabalho ter boa aceitação e também a parceria com arquitetos. "A crise é para todos, mas sempre existem colecionadores dispostos a comprar novidades", opina Thina Cunha, dono de carreira consagrada, construída ao longo de quatro décadas.
Trajetória
Ela ingressou no universo das artes plásticas aos 18 anos, estudando na Escola de Belas Artes de Pernambuco, nos anos 1970. Nos Estados Unidos prosseguiu seus estudos em pintura e desenho, descobrindo, depois, a paixão pela escultura, embora já tivesse trabalhado com barro, material que trocou pelo metal. "Minhas pinturas assemelham-se a esculturas", afirma, sobretudo, os da última coleção, que formam a mostra que marca o retorno de Thina Cunha a Fortaleza, após 10 anos.
Dessa vez, traz na bagagem telas e esculturas inéditas, concebidas a partir de técnica nova, uma espécie de colagem. "Gosto muito de diversificar e de novidade, por isso, estou sempre buscando materiais diferentes. Meu trabalho tem como marca a pesquisa", justifica a artista que nasceu na cidade de Eire, Pensilvânia, Estados Unidos, radicada brasileira desde os primeiros meses de vida.
Técnica mista
No projeto atual, a artista resolveu usar técnica mista para compor as telas, cujos tamanhos variam entre pequenos e grandes, alguns chegam a medir 2mX1,5m. As esculturas também têm dimensões variadas. Com relação às telas, a intenção de Thina Cunha é dar uma aparência de metal às obras, pintadas em acrílico e óleo. Todos os trabalhos desse série, que levaram dois anos para ficar prontos, são experimentações da técnica, que tenta substituir o alumínio, material que deixou de usar nas esculturas devido à oxidação.
A artista usa fórmica e papel para evitar que as obras se oxidem. Grande parte de suas criações a é concebida em alumínio fundido, metal usado para criar suas esculturas, que estão espalhadas em prédios e equipamentos da capital pernambucana. "Fiz uma peça denominada rainha do maracatu que fica nos jardins de um shopping de Recife", relata Thina Cunha, que participou da abertura da exposição, que faz parte das comemorações dos 10 anos da galeria Mariana Furlani Arte Contemporânea, que investe na divulgação da produção nordestina.
A artista assume sua afeição com a escultura, daí tentar transpor elementos dessa linguagem para as telas. Especialmente nos trabalhos apresentados, o jogo de cores, o material utilizado, bem como a técnica tentam criar um simulacro de tridimensionalidade nas telas.
"Além da pintura, muito presente em sua obra, Thina Cunha traz para o plano bidimensional sua vivência como escultora, nas chamadas esculturas de telas, utilizando-se de técnica mista, que envolve amarrações, colagens, reciclagem de objetos e metais fundidos e retorcidos, criando ilusão de ótica e diferentes efeitos de luz dependendo do ângulo que se observa a obra", segundo informações da assessoria de comunicação da galeria Mariana Furlani.
Mais informações:
Exposição "Resquícios de nós", da artista visual Thina Cunha, pode ser visitada até o dia 28 de outubro, na galeria Mariana Furlani Arte Contemporânea ( Rua Canuto de Aguiar, 1401, Meireles). Visitação de segunda a sexta, de 10h às 19h, e sábado, de 9h às 13h. Contato: (85) 3242.2024
 
Diário do Nordeste

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