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120 anos do fim da Guerra de Canudos contados pela história, literatura e religião

A secura da terra não foi suficiente para castigar um povo já sofrido pela falta de alimento. No fim do século XIX, sertanejos ainda viviam na miséria no interior do Nordeste. Não era raro encontrar famintos nos bolsões de pobreza naquela época. Brancos, negros, mulatos e caboclos à procura de um lugar para viver. Nesse contexto há quem tenha encontrado o sossego e a paz no sertão da Bahia, mais especificamente em Canudos.
Levas fugiam da seca. Gente da "terra de Iracema", como se referiu o historiador José Calasans, mas também dos sertões baianos, sergipanos, pernambucanos, alagoanos e potiguares. Gente atrás do tal taumaturgo Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro, que apregoava a fé.
Desconhecidos e esquecidos, "fanáticos", como dizia a imprensa, escravos libertos, gente à margem da sociedade elitista. Um povo sem posses, que desejara a terra para o sustento, que recusara trabalhos semiescravos, guiados pela promessa de salvação. Assim surgia um arraial, lugarejo de poucas posses e de muita fé.
 
Vista parcial de Canudos no fim do século XIX FOTO: FLÁVIO DE BARROS / MUSEU DA REPÚBLICA

Arraial da salvação

Canudos, cujo nome dado pelos habitantes era Arraial de Belo Monte, surge numa fazenda abandonada no seco e pobre norte baiano, em 1893. Estima-se que no seu auge, em 1897, viviam cerca de 25 mil habitantes. "Seu líder era uma figura histórica interessantíssima, o cearense Antônio Conselheiro, uma espécie de beato, muito comum e respeitado no Nordeste do século XIX", afirma o historiador Airton de Farias.
De acordo com ele, havia o que é chamado por autores de catolicismo popular, uma espiritualidade que mescla crenças cristãs vindas da Europa e práticas indígenas e africanas. "Essa espiritualidade é marcada pelo milenarismo, solidariedade, práticas muito próximas de um cristianismo primitivo e que, por não se submeter à hierarquia eclesiástica, foi vista por setores da cúpula católica como uma ameaça a ser destruída".
Seu líder era uma figura histórica interessantíssima, o cearense Antônio Conselheiro, uma espécie de beato, muito comum e respeitado no Nordeste do século XIXAirton de Farias, historiador
FOTO: KID JÚNIOR
O dia 5 de outubro é lembrado pelos 120 anos do fim da Guerra de Canudos, uma das mais violentas da história brasileira
Sobre o cearense Antônio Conselheiro, Farias diz que o líder não tinha nada de louco como foi apregoado. "Ao contrário, era muito inteligente, influente, a ponto de multidões o seguirem. Canudos era um local para onde se dirigiam os desvalidos da vida – sem-terra, pequenos lavradores, ex-prostitutas, ex-cangaceiros, ex-escravos (a abolição havia acabado há poucos e os ex-cativos ficaram em dramática situação social), etc".
A comunidade, segundo o historiador, era socialmente e espiritualmente muito atrativa, embora não fosse uma utopia sertaneja de igualdade, mesmo que ninguém lá passasse fome. "Tanto que lá havia pessoas com mais posses, como os irmãos Vilanova, circulava dinheiro, havia distinções sociais, mas certamente distinto do resto do sertão, onde o dono da terra com seus jagunços impunha sua vontade e imperava uma miséria profunda das massas. Então, a possibilidade de se redimir dos pecados, obter a salvação e gozar de uma situação de vida materialmente menos ruim levava multidões a Canudos", reforça ainda o historiador.
 

Do início ao fim

O dia 5 de outubro é lembrado pelos 120 anos do fim da Guerra de Canudos, uma das mais vorazes e violentas da história brasileira. A comunidade acumulava fama de terra de todos, terra onde os pecados eram perdoados, onde a fome era saciada. Porém, corria solto que os habitantes eram a favor da Monarquia, já desfeita pela República.
Mas o que os boatos levaram não deu conta da realidade. Pelo menos, é o que afirmam os historiadores. Canudos e seus habitantes achavam que a República havia trazido mais miséria, "coisa do diabo". Talvez eles nem sequer sabiam o que mudara no Brasil do fim do século XIX. Eles não tinham nem informação do que se passava no centro do poder. Tinham certeza apenas de que para eles a injustiça social era maior ainda.
Diante deste cenário, a perversidade do lastro dos boatos tomou de conta da imprensa e do falatório. Notícias informavam que Canudos ameaçava a pujante República, o domínio oligárquico e o poder da Igreja.
Segundo conta Farias, o motivo imediato para o início da Guerra de Canudos teria sido a ameaça de que os seguidores de Antônio Conselheiro iriam atacar a cidade de Juazeiro, na Bahia, por causa da madeira comprada para a construção de uma igreja que não havia sido entregue.
"As razões mais conjunturais se ligam a vários fatores, como o descontentamento dos donos de terra com a ida dos sertanejos para o arraial, escasseando a mão de obra na região; interesse da Igreja, que vivia então um processo de romanização e de fortalecimento de sua hierarquia, questionando as lideranças religiosas leigas, como o caso de Conselheiro".
Farias também cita os próprios interesses da República, recém-proclamada e em instabilidade política e crise econômica. "Combater Canudos foi uma forma de capitalizar e buscar a união em torno do regime. Não por acaso, Canudos foi pintado como um movimento que queria restaurar a Monarquia", explica.
Da esquerda para a direita: 01. Conselheristas presos pelas tropas do governo republicano em Canudos | 02. 25º Batalhão de Infantaria na trincheira | 03. Prisão de jagunços pela cavalaria | 04. Hospital de sangue dos jagunços foi o nome dado ao local onde ficavam os últimos sobreviventes da Guerra de Canudos e o túmulo dos mortos do conflito | FOTOS: Flávio de Barros / Museu da República e UnebClique na imagem para ampliar
Em um cenário de começo da República, marcada pela crise econômica, especulação financeira e aumento de impostos, os primeiros governos, dos militares Deodoro e Floriano, foram autoritários e repressivos.
"O primeiro civil a governar, Prudente de Morais, estava ligado aos interesses das elites cafeicultoras de São Paulo que se impunham sobre o País. Não era a República dos sonhos. Os velhos vícios clientelistas e oligárquicos do Império persistiram com a República. Por isso o uso talvez da Guerra de Canudos para tentar dar credibilidade a um regime que se mostrava frágil e que havia sido proclamado em 1889 sem grande apoio popular", esclarece Airton de Farias.
Os setores populares, neste contexto, sofriam com a crise. "E havia ainda uma mentalidade muito forte entre os sertanejos, como Antônio Conselheiro, de associar o imperador e a Monarquia a Deus e ao sagrado. Se a Monarquia era de Deus, aqueles difíceis tempos ruins de República, só podia ser coisa do diabo".
 
No fim da Guerra de Canudos, apenas quatro pessoas resistiram, sendo logo em seguida eliminadas. O corpo de Antônio Conselheiro foi desenterrado e sua cabeça, retirada. Na foto, Antônio Conselheiro, depois de exumado, em 1897 FOTO: FLÁVIO DE BARROS / MUSEU DA REPÚBLICA

Resistência

Entretanto, o governo não esperava que o bravio povo sertanejo fosse resistir culminando para a desmoralização das Forças Armadas. "A resistência implicou sérias derrotas ao Exército, que, não por acaso, buscou se reorganizar depois do vexame que passou contra humildes e mal armados sertanejos, vistos na ótica das teses (pseudo) científicas da época como inferiores e atrasados", continua Airton de Farias.
Canudos resistiu a quatro expedições, em um dos mais dramáticos e cruéis episódios da história brasileira, de acordo com o historiador. "A mobilização de recursos e de homens pelo Estado brasileiro foi impressionante. Tal o ódio de Canudos que parte da população que se redeu foi degolada pelas forças militares (a chamada "gravata vermelha")", explica.
Da esquerda para a direita: 01. Cadáveres nas ruínas de Canudos | 02. No Parque Estadual de Canudos, exposições a céu aberto mostram imagens e peças que remontam a Canudos FOTOS: Flávio de Barros / Museu da República e UnebClique na imagem para ampliar
No fim, a 5 de outubro de 1897, apenas quatro pessoas resistiram, sendo eliminadas. "O corpo de Conselheiro foi desenterrado e sua cabeça retirada e enviada para estudos que, imaginavam, provariam sua "loucura". Um incêndio consumiu o arraial e corpos foram queimados. O fedor de carne humana podre e queimada ficou na região por meses", relembra Farias.
Conforme o professor, após a derrota, construiu-se no local um açude, como se desejassem afogar as memórias da violência ali praticada. "Para o "não esquecimento" de Canudos foi importante o livro de Euclides da Cunha, "Os Sertões".

'O abalo sísmico d'Os Sertões de Euclides da Cunha

Entrevista com a pesquisadora Angela Gutiérrez

 
Após o fim da Guerra de Canudos, em 1897, a história do conflito no interior da Bahia virou livro. A obra "Os Sertões", de Euclides da Cunha, foi publicada em 1902 e desde então virou referência da Guerra até os dias atuais.
O Diário Plus conversou com a pesquisadora Angela Gutiérrez, que tem pós-doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre "O retrato do Conselheiro. As múltiplas faces do beato de Belo Monte". Além disso, Gutiérrez é membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará.
O livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, foi publicado em 1902 e retrata a Guerra de Canudos
DIÁRIO PLUS - QUAL A IMPORTÂNCIA DA OBRA DE EUCLIDES DA CUNHA PARA A LITERATURA BRASILEIRA?
Angela Gutiérrez - Cento e vinte anos depois da Guerra de Canudos, ainda persiste a importância de Os sertões, livro que perenizou o tema de Canudos e a figura de Antônio Conselheiro na literatura, na cultura e na história brasileiras, e ainda persistem o pasmo e a indignação diante de episódios bárbaros - degola de combatentes conselheiristas, extermínio de prisioneiros civis, comércio e abuso sexual de crianças, prostituição de mulheres e meninas – narrados por Euclides.
Hoje é possível apontar n’Os sertões teses científicas ultrapassadas e, para os padrões éticos de hoje, até mesmo preconceituosas e politicamente incorretas, como as que se referem à inferioridade das raças mestiças e à caracterização do Conselheiro como um insano mental, enquanto avultam cada dia mais a qualidade literária desta obra e a sua relevância como obra de interpretação do Brasil.
Em suas grandes linhas, a narração da guerra continua historicamente válida, embora passível de controvérsia em muitos detalhes. O desenvolvimento narrativo tornou-se, mesmo, paradigmático, verdadeiro cânone da história de Canudos.
Outra face importante d’Os sertões é a da sua contribuição à cultura por apresentar um caráter seminal com relação às artes e à literatura. São inúmeras as manifestações artísticas – na pintura, no desenho, no cinema, na fotografia, no teatro, na escultura, no vídeo, na fotografia etc –, assim como manifestações literárias – na poesia, na tragédia, no cordel, no teatro, na ficção, especialmente, no romance - que nessa obra se inspiram.
DIÁRIO PLUS - QUAL A IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O JORNALISMO DA ÉPOCA?
AG - Antes da Campanha de Canudos, não havia no Brasil a figura do correspondente de guerra. Assim, a presença de Euclides e de outros correspondentes de jornais no front (teatro de guerra) proporcionou aos leitores a possibilidade de acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, com a rapidez possível na época, através de outra novidade – o telégrafo.
Embora sem as possibilidades tecnológicas de hoje, quando as notícias são divulgadas ao vivo, com imagens em movimento, no instante de seu acontecer, houve um grande passo na rapidez da difusão dos acontecimentos da Campanha de Canudos. A lamentar que os jornais, muitas vezes, apresentassem as notícias e os comentários editoriais de acordo com seus interesses e preconceitos, sem preocupação em documentar a realidade dos fatos.
DIÁRIO PLUS - QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE O RETRATO QUE O LIVRO TRAZ SOBRE A GUERRA DE CANUDOS?
AG - Euclides era um intelectual fin-de-siécle, com os conhecimentos científicos e os conceitos filosóficos que suas leituras e sua formação como engenheiro e militar lhe facultaram. Sem dúvida, o olhar de Euclides em sua obra magistral é diferente do olhar do intelectual de hoje, assim como muitas teorias aplaudidas na transição do século XIX para o século XX, estão, na contemporaneidade, ultrapassadas, pertencendo agora à história dos conhecimento humano.
É interessante, porém, ressaltar que os paradigmas teóricos de Euclides, que hoje consideramos preconceituosos e o são, chocaram-se com seu contato com a brutal realidade da guerra e, desse confronto, surgiu uma das principais características de sua obra: o uso do paradoxo para tentar juntar dados opostos – os dados de sua observação como testemunha e aqueles de seu quadro conceitual – no desenho dos retratos da Guerra, do Conselheiro, dos combatentes de Belo Monte, dos combatentes militares, em especial, do Coronel Moreira César.
A obra Os sertões provocou um abalo sísmico na sociedade brasileira do início do século XX, sobretudo entre os membros da chamada elite cultaAngela Gutiérrez, Pesquisadora
DIÁRIO PLUS - QUAL FOI O IMPACTO DA OBRA DE EUCLIDES NA ÉPOCA QUE ELE FOI LANÇADO?
AG - A obra Os sertões provocou um abalo sísmico na sociedade brasileira do início do século XX, sobretudo entre os membros da chamada elite culta. Depois de acompanhar a Guerra de Canudos pela ótica da imprensa da época, que a enxergava como uma tentativa de retorno à monarquia, e de aplaudir os vencedores como heróis, os leitores deparam-se com o outro lado da História no livro de Euclides. A obra estremece anteriores certezas, ao denunciar a Campanha de Canudos como “um crime contra a nacionalidade” e ao mostrá-la como um retorno à barbárie.

A singularidade do messianismo de Canudos

A fé e a devoção são algumas das características mais marcantes do sertanejo. Um dos alicerces da sociedade durante muitos séculos, a Igreja Católica sempre determinou regras para o exercício da religião. Neste contexto de busca pela espiritualidade, muitas pessoas seguiram Antônio Conselheiro pelo sertão nordestino até a fundação de Canudos.
"O movimento de Canudos tem uma relação muito íntima com a própria biografia de Antônio Conselheiro, quando ele percorre os sertões fazendo pregações. A partir de um determinado momento, Conselheiro reúne várias pessoas, que mais na frente vão formar o Arraial de Canudos", explica o professor doutor e coordenador do programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará (UFC), Régis Lopes.
O Antônio Conselheiro é antes de tudo um protetor, um padrinho diante de afilhados que estão sofrendo e que precisam de algum acolhimento. O Antônio Conselheiro prometeu exatamente issoRégis Lopes, professor de História da UFC
FOTO: KID JÚNIOR
Segundo ele, Canudos se transformou em uma cidade no meio do sertão, marcada por um crescimento proeminente. "E é exatamente esse crescimento que vai motivar a destruição. No final das contas, esse massacre gerou uma obra clássica na nossa literatura que é 'Os Sertões' do Euclides da Cunha", acrescenta Lopes.
O professor da UFC afirma que Canudos é um movimento religioso porque a cultura sertaneja é antes de tudo uma cultura católica. "Não um catolicismo oficial, mas aquilo que a gente chama de catolicismo popular".
Entre as características desse catolicismo popular estão a existência de protetores. "Protetores no céu, que são os santos, Cristo e também Deus, obviamente. E protetores na terra, santos que vão proteger o devoto na sua vida, na sua passagem pela existência terrena. E o Antônio Conselheiro é uma espécie de santo. Ele é o padrinho de todos", explica
Canudos é um movimento religioso exatamente porque a cultura sertaneja, a cultura desse povo que vive no sertão, é antes de tudo uma cultura católica
Essa necessidade de uma proteção, de acordo com Lopes, é a principal característica da religiosidade de Canudos. Neste cenário, a Igreja não viu com bons olhos o movimento de Canudos por um problema de hierarquia. Só quem poderia falar sobre a mensagem de Cristo, diz o professor, era um representante oficial do Vaticano.
"O Antônio Conselheiro não era padre nem bispo, então ele não fazia parte oficialmente daquele grupo que poderia dar conselhos, mas resolveu por conta própria ser um líder católico", afirma Lopes.
O Conselheiro era mais popular do que os padres da região. Fazia mais sucesso. Era homem de palavra forte. "Então isso gera o velho problema humano de ciúme e da inveja", diz ainda o professor da UFC.
O taumaturgo atraía as pessoas por sua figura, pela ideia de santo que passava. "As pessoas, ao chegarem a Canudos, tinham de seguir uma ordem moral em relação ao casamento, ao dinheiro e à vida que levava. E elas estavam exatamente atrás dessa 'purificação'".
José Wilker, no filme "Guerra de Canudos", fez o papel de Antônio Conselheiro em 1997. Paulo Betti e Marieta Severo também participam do filme como sertanejos
"Lá em Canudos só era permitido viver aqueles que tivessem em sintonia com toda a pregação de Antônio Conselheiro. Neste sentido, Canudos não era uma sociedade democrática, lá não havia eleição de representante de nenhum tipo. O Conselheiro mandava e ficava lá quem quisesse obedecer. Era uma sociedade teocêntrica, o poder vinha de um líder religioso", acrescenta.
 
A casa de Antônio Conselheiro: O casario de cinco largas portas mantém os seus traços originais, no Centro de Quixeramobim FOTO: ALEX PIMENTEL

O Conselheiro de Quixeramobim

Texto: Alex Pimentel (Colaborador) 
Tombada em 2005 como patrimônio histórico estadual, o casario situado à Rua Cônego Aureliano Mora, no Centro de Quixeramobim, é a herança material mais forte deixada por Antônio Conselheiro em sua terra natal. O imóvel, transformado em espaço cultural memorial do mártir de Canudos aguarda restauro, explicam o coordenador Ailton Siqueira e o historiador Marcos Caetano de Castro. Eles são os atuais responsáveis pelo patrimônio e programação cultural do Conselheiro.
Quando partiu da casa onde nasceu, erguida no início do século XIX nas proximidades da igreja matriz de Santo Antônio e da Casa de Câmara e Cadeia, Antônio Conselheiro certamente não imaginava a dimensão da sua sina. Hoje, o casario de cinco largas portas mantém os seus traços originais. Passou a funcionar como um espaço cultural da cidade. Vem dele as boas lembranças e a vida simples de quem se tornou o primeiro revolucionário religioso brasileiro.
As pessoas saem daqui conhecendo a verdadeira história do nosso Conselheiro, não envolta de sangue e violência, mas a visão de um homem cultoMarcos Caetano de Castro, historiador
FOTO: KID JÚNIOR
O lugar é aberto ao público de segunda à sexta-feira, de 8h às 17h. Nos fins de semana também abre suas portas, mas é preciso agendar através de ligação telefônica. O historiador Marcos Caetano é quem recebe os visitantes e passo a passo relata toda a história do herói sertanejo, massacrado no Arraial de Canudos. Os conselheiristas, os Decálogos do Santo Guerreiro, as cidades por onde passou, as prédicas, a sala de guerra, uma exposição fotográfica e de xilogravuras são os atrativos.
O Município trabalha pela restauração do Memorial Antônio Conselheiro, criação do arquiteto e músico Fausto Nilo 
“As pessoas saem daqui conhecendo a verdadeira história do nosso Conselheiro, não envolta de sangue e violência, mas a visão de um homem culto que resolveu caminhar pelo mundo pregando a paz e a união. De formação religiosa forte, também com conhecimento de Geografia, História, Francês, Latim e até de Direito, se tornou um rábula, passando a ajudar os mais necessitados. Ao longo do seu caminho ele foi se indignando com as condições de miserabilidade e exploração do povo nordestino”, acrescenta o historiador.
Hoje, o Município trabalha também pela restauração do Memorial Antônio Conselheiro, criação do arquiteto e músico Fausto Nilo, o qual na sua infância morou na Casa de Antônio Conselheiro. O Instituto do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural de Quixeramobim (Iphanaq), uma ONG fundada na cidade, tendo como alguns de seus articuladores os professores Ailton Brasil e Neto Camorim, promove encontros culturais com frequência exaltando o personagem histórico.
A partir de março de 2004 na cidade passou a ser realizado o movimento Conselheiro Vivo, no período de aniversário de nascimento de Antônio Conselheiro. A culminância é um desfile pelas ruas, do herói sertanejo, acompanhado por sua caravana.

Herança familiar

Roberto Luís Maciel de Freitas, parente de Antônio Conselheiro, reside em Quixeramobim, onde defende a memória do herói sertanejo
Distante da família por quase três décadas, Roberto Luís Maciel de Freitas, com 47 anos, retornou a Quixeramobim, onde nasceu, na Rua da Morte, decidido a continuar o trabalho do tio Manoel Marcílio Maciel, falecido em maio de 2015, com 77 anos de idade. Até então ele foi o maior defensor da memória do primo em terceiro grau martirizado em Belo Monte.
Da esquerda para a direita: 01. Memorial Antônio Conselheiro em Quixeramobim | 02.Centro geográfico do Ceará, no município de Quixeramobim FOTOS: Alex Pimentel

Irmão Roberto, como é conhecido por sua opção religiosa, evangélica, aprofundou os conhecimentos familiares acerca de Antônio Conselheiro, leu vários livros e também algumas reportagens como a do Diário do Nordeste, de 27 de setembro de 1997: "Canudos: A mais violenta batalha da história do País".
No dia do enterro de Manoel Marcílio Macielo, o então prefeito de Quixeramobim, Cirilo Pimenta, estava em Brasília. Ao saber da morte do herdeiro de Antônio Conselheiro decretou luto oficial de dois dias na cidade. Manoel era muito semelhante fisicamente ao primo guerreiro. Irmão Roberto também diz ter semelhança, mas nas atitudes. Assim como Conselheiro, um grande arquiteto, ele construiu várias igrejas pelo País, pela Assembleia de Deus.
Segundo historiadores, Antônio Vicente Mendes Maciel, o Conselheiro, casou duas vezes. Ele teve dois filhos, e um neto, todos falecidos.
 

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