Chegando aos 20 anos em 2017, a Bienal Internacional de Dança do Ceará volta, nesta edição, a ter como palco principal o Theatro José de Alencar (TJA), além de se espalhar por outros locais da Cidade e até do Estado, com atividades em seis municípios do interior. Na Capital, o evento abre hoje no TJA, a partir das 21 horas, com apresentações da Cia. Dita (CE) e da São Paulo Companhia de Dança. A programação segue até o dia 29.
Este ano, a Bienal reúne nomes que fizeram parte de sua trajetória, mas sem esquecer de firmar um olhar para o presente. “O ambiente político está difícil, aponta para retrocessos e censura, mas, ao mesmo tempo, é uma edição de comemoração. Já tivemos anos em que foi bem mais fácil realizar a Bienal em termos de financiamento, mas também de abertura à diversidade poética e artística. A celebração se dá num contexto adverso”, afirma Ernesto Gadelha, diretor artístico do evento. “Nosso desejo é estar perto de artistas que estiveram com a gente ao longo desses anos e que, nesse momento, compreendem o que está acontecendo no Brasil e reforçam nossa caminhada”, explica. Ao todo, serão 25 companhias locais, nove nacionais e nove de fora, além de atividades de formação, masterclasses, oficinas e shows (leia no saiba mais).
“Com a Bienal, o Ceará passou a receber informações de tendências e modos de se conceber dança, o que provocou o contexto local. As pessoas absorveram isso e agregaram histórias pessoais, fazendo obras singulares, autorais”, considera Ernesto. O bailarino e coreógrafo Fauller, um dos fundadores da Cia. Dita, reconhece a Bienal como um espaço importante para sua carreira. “Em 1997, eu voltava à dança quase simultaneamente com a primeira edição da Bienal. Em 1999, já era bailarino do Colégio de Dança do Ceará (iniciativa pública de formação em dança do Estado, fechada em 2002) e atuei num espetáculo. Daí, a relação com a Bienal foi muito estreita, com momentos importantes da minha carreira traçados através dela”, remonta Fauller. Na abertura dessa edição, a Cia. Dita apresenta A cadeirinha e eu, releitura da obra da coreógrafa Sílvia Moura, e estreia a montagem de A Morte do Cisne, dançada por Wilemara Barros. “Ela vem de um projeto social da década de 1970, é uma das primeiras bailarinas negras do Ceará com formação clássica. Isso nos põe a pensar sobre as relações com a cultura europeia e o nosso interesse em descolonizar a dança clássica. Há importância política em ter uma bailarina assim na abertura da Bienal”, pondera.
A São Paulo Companhia de Dança (SPCD), uma das mais importantes do País, apresenta na abertura Pássaro de Fogo, de Marco Goecke, e 14’20’’, de Jirí Kylián. Inês Bogéa, diretora artística da SPCD, aponta que o impacto do evento ultrapassa o Ceará. “É instigante ver como a Bienal modificou a cena da dança em termos de Brasil, trazendo nomes da dança mundial, companhias nacionais, locais. Transforma o ambiente da própria arte”, avalia. “A gente procura maneiras de falar da dança para além dos palcos, e isso na Bienal é muito rico. Os diálogos criam redes de relações amplas, põem o artista da dança em contato com artistas das outras áreas e também com o público”, destaca Inês.
O POVO online
Leia entrevista com Davi Linhares, diretor geral da Bienal em:
SERVIÇO
XI Bienal de Dança
Quando: abertura hoje, às 21 horas.
Onde: Theatro José de Alencar (R. Liberato Barroso, 525 - Centro ).
A Bienal segue até 29/10, em vários locais de Fortaleza. Entrada franca.
Programação completa: www.bienaldedanca.com
SAIBA MAIS
Na ampla programação da Bienal de Dança, há uma série de atividades além dos espetáculos. Quase diariamente, o evento acolherá, depois das apresentações principais de cada noite, festas e shows.
A Plataforma de Acessibilidade da Bienal também é uma programação de destaque. Como atividade anterior à abertura oficial da Bienal, a plataforma ofereceu uma prática pedagógica de dança para crianças e jovens com autismo, ministrada pela coreógrafa Anamaria Fernandes, e vai realizar oficina com o pesquisador João Paulo Lima e o seminário Dança e Acessibilidade..
Outro destaque é o lançamento do livro Dança, História, Ensino e Pesquisa (25/10, às 17 horas), no hall do Cineteatro São Luiz. A publicação é resultado do seminário Ida-e-Volta: Dança Brasil-França, realizado na edição de 2016 da Bienal/De Par em Par.
JOÃO GABRIEL TRÉZ
Comentários
Postar um comentário