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Concurso Miss Peru vira plataforma contra violência de gênero

Quando todos esperavam conhecer as medidas das misses, as 23 finalistas deram voz a mulheres vítimas de assédio, abuso sexual, maus-tratos, ou feminicídio.
"Agora que estou com a coroa sou a voz de todas as mulheres que foram maltratadas no país", disse a vencedora Romina Lozano Foto (Reprodução/Facebook)
"Meu nome é Camila Canicoba, represento Lima e minhas medidas são: 2.202 casos de feminicídios reportados nos últimos nove anos no meu país". No Peru, o concurso de beleza mais esperado foi palco de denúncias contra a violência à mulher.
No domingo (29), quando todos esperavam conhecer as medidas que usualmente são apresentadas nesses concursos, 23 finalistas deram voz a milhares de mulheres vítimas de assédio, abuso sexual, maus-tratos, ou feminicídio.
"Uma menina morre a cada 10 minutos pela exploração sexual", "81% dos agressores de meninas menores são próximos à família", "mais de 70% das mulheres no Peru são vítimas de assédio nas ruas", foram alguns dos números lançados pelas participantes.
"Acredito que o fato de você olhar para sua representante regional, a rainha de seu departamento, dando cifras abertas e reais sobre o que acontece em nosso país é alarmante", explicou nesta terça-feira (31) à AFP a organizadora do concurso, Jessica Newton, Miss Peru 1987.
Segundo o Observatório de Segurança Cidadã da Organização dos Estados Americanos (OEA), o Peru é o segundo país da América do Sul com mais casos de estupros, atrás da Bolívia.
Ao longo do ano foram registrados 82 feminicídios e 156 tentativas, disse a finalista Karen Cueto.
Newton afirma que das 150 participantes que começaram o concurso, cinco sofreram violência, "inclusive estupro por um conhecido ou por um parente".
O recente estupro de uma voluntária durante a realização do censo no Peru ativou os alarmes. Por conta disto, um setor criou nas redes sociais a hashtag #Perúpaísdevioladores ("Peru país de estupradores").
O júri do concurso, que tinha entre seus integrantes uma bailarina que apanhou de seu parceiro, deixou de lado as clássicas perguntas às participantes.
"Todos os dias vemos nas notícias que mais mulheres morrem pelas mãos de seus parceiros ou ex-parceiros. Se você tivesse a oportunidade de mudar as leis, qual seria a adequada para o crime de feminicídio?", foi uma delas.
Romina Lozano, representante da província de Callao e que foi coroada Miss Peru, assegurou que seu plano "seria implementar uma base de dados que contenha o nome de cada agressor, não somente de feminicídio, mas de cada coisa que fez a uma mulher. Desta maneira poderemos nos proteger".
"Agora que estou com a coroa sou a voz de todas as mulheres que foram maltratadas no país", disse Lozano à AFP.
Para Newton, "a rainha nacional deve ser a embaixadora das mulheres comuns, de todas as mulheres que não têm voz".

AFP

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