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Gaúcho vence o 2º Prêmio Kindle, com livro que trata da necessidade de escrever e de registrar memórias

por Roberta Souza - Repórter
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O gaúcho Mauro Maciel, com o prêmio: antes, havia pensado em largar a escrita ( Foto: Julio Vilela )
Ao subir no palco como o primeiro lugar do 2º Prêmio Kindle de Literatura, em cerimônia realizada na última quarta-feira (17) em São Paulo, o gaúcho Mauro Vieira Maciel falou o que poucos esperavam ouvir. "Na realidade, esse seria meu último romance", desabafou emocionado frente a amigos, familiares e representantes da imprensa nacional. O livro "O memorial do desterro", publicado pela ferramenta Kindle Direct Publishing (KDP), da Amazon, agora ganhará uma edição impressa pela editora Nova Fronteira, e deverá chegar as livrarias no segundo semestre de 2018. Além disso, o autor também sai com uma quantia de R$ 30 mil.
A história do livro vencedor, ainda que fictícia, tem como protagonista um escritor desistente. Assim, o discurso de Mauro por ocasião de sua premiação não foi por acaso. Ele se identifica com a própria narrativa, cujo começo apresenta o drama do inquilino de um renomado escritor encontrado morto na fictícia cidade de Santa Maria do Mar Revolto. O morto permanece insepulto por vários dias, sem que nenhum parente, amigo ou vizinho apareça para prestar as últimas homenagens.
Diante dessa inusitada situação, o redator-chefe de obituários do jornal da cidade resolve telefonar para o escritor aspirante, solicitando que assumisse o encargo de realizar o sepultamento. Então, o escritor conhece um policial e com ele procura elucidar o mistério que envolve a vida do homem falecido. "O memorial do desterro" é, portanto, um romance marcado por sucessivos dramas humanos, tratando da perene necessidade do ser humano em escrever e registrar suas memórias.
O reconhecimento da Amazon trouxe para Mauro uma nova perspectiva diante de uma trajetória de dificuldades. "Eu estava incomodado com o fato de já ter publicado dois romances, me empenhado bastante, e nunca ter recebido nem um convite para falar em uma escola", contou. "E eu sempre vivi muito meus livros, saía com eles debaixo do braço pela cidade", recordou o autor.
A dedicação à produção literária começou em 1988, quando escreveu o conto "Alma Incerta", com o qual obteve o terceiro lugar no Concurso Nacional de Contos, promovido pelo Instituto Campograndense de Cultura, no Rio de Janeiro.
O romance de estreia, no entanto, ocorreu somente em 2011, com a obra "A Pedra do Doutor Getúlio", título publicado pela Editora Movimento, de Porto Alegre (RS). Já em 2014, o autor conquistou o segundo lugar no Prêmio Saraiva de Literatura, na categoria romance adulto, com "A Travessia do Rio Japeju". A obra foi publicada pela Editora Benvirá, de São Paulo (SP), em 2015.
Prêmio
"O memorial do desterro" foi o primeiro que ele inscreveu na ferramenta de autopublicação KDP, e a obra chegou à final do Prêmio Kindle de Literatura junto a outros quatro: "Amarga Neblina", da também gaúcha Fernanda Mellvee; "Entre Pontos", do paulista J.L. Amaral; "Nova Jaguaruara", do cearense Mauro Lopes; e "Pelos Caminhos do Tempo", da carioca Barbara Nonato. "E eu dedico o prêmio aos colegas que merecem tanto ou mais do que eu", ofereceu o vencedor.
Editora do catálogo nacional da Nova Fronteira, que participou da seleção dos finalistas e também da escolha do vencedor, Janaína Senna reconheceu a relevância de todos os trabalhos. "Todos que chegaram aqui têm qualidade e poderiam ser os vencedores. A projeção que o prêmio dá é muito bacana, e mesmo quem não conseguiu agora, tem chance de conseguir outra casa editorial", salientou.
Janaína fez também em sua fala uma celebração à memória do escritor Carlos Heitor Cony, falecido no último dia 5 de janeiro. Ao lado de Geraldo Carneiro, Cony fazia parte do júri do Prêmio Kindle de Literatura, a convite da Nova Fronteira. A editora frisou ainda em seu discurso a acessibilidade dos e-books publicados. "A gente sabe que o livro impresso é importante, mas já percebemos o quanto o livro digital democratiza a literatura", avaliou a editora.
O escritor cearense Mauro Lopes, cujo romance de estreia - "Nova Jaguaruara", uma história de horror numa cidade fictícia do interior do Ceará -, estava muito bem cotado entre os convidados para alcançar a publicação impressa, ainda não tem uma perspectiva a curto prazo.
"Eu gostei muito da ferramenta da Amazon, e pretendo voltar a publicar nela quando tiver outra obra finalizada", disse. Sobre o vencedor, ele considerou extremamente justo. "Foi super merecido, e a história dele serve de incentivo", afirmou. "A atividade de escrita é muito solitária, e participar desse concurso, ficar entre os finalistas e conhecer todas essas pessoas já foi uma grande vitória", reconheceu.
A vencedora da 1ª edição do Prêmio Kindle, autora de "Machamba", de Gisele Mirabai, também presente na cerimônia, deu um feedback positivo da publicação. "Essa parceria me fez encontrar muitos leitores. Existe leitor para o seu livro, não importa qual for o estilo", disse. "Machamba" já tem, além da versão e-book e impressa, um audiobook.
Todos os livros inscritos no Prêmio Kindle de Literatura estão disponíveis na Loja Kindle Brasil e podem ser lidos em qualquer dispositivo com o aplicativo de leitura Kindle gratuito para iPhone, iPad, telefones e tablets Android, PC e Mac, e em e-readers Kindle. Os assinantes do Kindle Unlimited também podem ler os livros sem custo adicional. O catálogo completo dos títulos inscritos na segunda edição do Prêmio Kindle de Literatura, bem como os finalistas deste ano, estão disponíveis em www.Amazon.Com.Br/premiokindle.
E quanto a Mauro, claro, ele não vai desistir. Como personagem da própria vida, ele sai de escritor desistente para escritor persistente, como bem comparou o colega de premiação J. L. Amaral.
A repórter viajou a São Paulo a convite da Amazon

Diário do Nordeste

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