Pular para o conteúdo principal

Minissérie "Brinquedos que Marcam Época" resgata a ascensão e queda dos mais icônicos brinquedos cultura pop

por Antonio Laudenir - Repórter
Image-0-Artigo-2349506-1
Para os afortunados, a magia já iniciava nos comerciais. A televisão brasileira entre as décadas de 1980 e 1990, em especial na faixa de horário destinada ao público infantil, era recheada por anúncios que vendiam os mais variados brinquedos. Em tela, os personagens preferidos da criançada surgiam reproduzidos nas formas de bonecos, carros e acessórios. Um divertimento marcado por embalagens chamativas e propagandas repletas de ação.
As engrenagens desse mundo de fantasia eram movidas por acirradas disputas nos bastidores. No caso das empresas norte-americanas, controlar uma franquia popular entre as crianças era sinônimo de milhões nos cofres. Para tanto, até chegarem prontos às prateleiras, esses brinquedos denotavam o suor de muitos trabalhadores anônimos. Profissionais que, em certa medida, contribuíram para esta indústria.
Além de questionar e resgatar as muitas histórias que envolviam este mercado, a minissérie "Brinquedos que Marcam Época" esmiuça a relevância na cultura popular de Barbie, He-Man, GI-Joe e Star Wars.
A minissérie de quatro capítulos desvenda as mentes idealizadoras dos mais icônicos brinquedos que se tem notícia. Expõe a ascensão e, por vezes, derrocada destas criações bilionárias. Ao apresentar fontes ligadas diretamente ao mercado da época, a obra disponível para assinantes da Netflix adentra um universo marcado por reviravoltas e disputas de egos.
O documentário repercute em cheio nos corações, tanto de colecionadores tarimbados como dos adultos que hoje guardam esses momentos de lazer. Pouco importa se você é um comprador que adquire qualquer coisa de Star Wars, possui uma coleção da Barbie no armário ou é apenas fã de desenhos animados antigos.
A série revira mais de meio século de atuação destes produtos no imaginário dos fãs. Analisa o quanto aqueles objetos foram importantes para muitas gerações de consumidores. Ao entrevistar os principais idealizadores e executivos envolvidos com essas quatro franquias, testemunhamos "causos" e situações quase tão espetaculares quanto a ficção responsável por dar vida a estes brinquedos.
Guerra
Com pouco menos de uma hora, cada episódio desvenda a relação direta destas fábricas com a forma como se consumia cinema, quadrinhos e televisão. Há muito tempo, numa galáxia muito distante, a palavra merchandising era pouco usual no cinema hollywoodiano. Em "Como Star Wars Conquistou o Universo: o Passado, o Presente e o Futuro da Franquia Multibilionária", Chris Taylor tece observações sobre esse momento.
A plataforma de exibição, àquela altura, era quem mandava nas decisões dos engravatados. Taylor argumenta que se "Star Wars" fosse uma série de TV, os contratos de merchandising teriam acontecido normalmente. Para ilustrar sua observação, o autor cita o caso de "Star Trek". Sucesso na telinha, por volta de 1976, era comum encontrar brinquedos dos capitães Spock e Kirk.
"Mas 'Star Wars' era um filme, não um seriado de TV, e todo executivo de brinquedos no meio dos anos 1970 sabia que os filmes estavam hoje aqui e amanhã não estavam mais. Quando os fabricantes recebessem os brinquedos feitos em Taiwan, 'Star Wars' provavelmente já estaria fora dos cinemas e esquecido", recupera o jornalista.
George Lucas e Charles Lippincott, responsável pela divulgação do primeiro Star Wars, tinham a missão de promover o filme através de quadrinhos e brinquedos. Após rejeições de vários fabricantes, Lippincott acabou esbarrando em uma pequena fábrica chamada Kenner Toys. Sediada em Cincinnati, a empresa topou o desafio mesmo antes da estreia da película.
Quando a aventura de Luke, Leia e Han Solo explodiu com a criançada, todo mundo foi pego de surpresa e os pedidos foram se avolumando. Sem tempo de produzir tudo o que era pedido até o natal de 1977, a Kenner bolou a estratégia de vender cupons que valeriam a retirada de um brinquedo na loja algum tempo depois. Essa malandragem ficou conhecida no mercado como a "campanha da caixa vazia". A criança comprava a caixa e dentro tinha o cupom, escrito "adquira esse brinquedo em março".
Ícone
Através da trajetória das populares Barbie, são destrinchados temas como a representação feminina, o papel da mulher na sociedade norte-americana e todo o machismo que domina este universo. Sofrendo mutações desde que foi imaginada no final dos anos 1950, a boneca criada pela empresária Ruth Handler (1916-2002) foi baseada na boneca alemã Bild Lilli.
Para se compreender o tamanho do sucesso, logo após a criação da boneca, a Mattel entrou no ranking das 500 maiores empresas dos EUA e levou três anos para que conseguisse atender à demanda dos consumidores, tamanha a procura pela Barbie.
Fatos bizarros temperam essa história. Até os anos 1980, a boneca só olhava para o lado, forte sinal, para os fabricantes, de como as mulheres eram secundárias aos homens. Foi nessa década onde, pela primeira vez, uma Barbie foi criada para olhar para a frente.

Diário do Nordeste

Comentários