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O CARNAVAL DA FORTALEZA ANTIGA

Texto: Aline CondePublicado em 08.01.2018
Entre as décadas de 1940 e 1960, a Capital cearense viu o sucesso das escolas "Prova de Fogo", "Luiz Assunção" e, mais tarde, o "Ispaia Brasa". Os maracatus "Az de Ouro", "Az de Espada" e "Rei de Paus" engrandeceram o Carnaval fortalezense, que contou também com os bailes adultos e infantis em clubes.
No Brasil, o Carnaval chegou com os portugueses, tendo influência de várias culturas e com origem na antiguidade, mas conta, principalmente, com elementos da cultura africana. Os negros foram os responsáveis por boa parte da configuração do evento no País.
BANDO DO MORROFOTO: ARQUIVO NIREZ
Para o pesquisador Sérgio Pires, a herança negra está totalmente vinculada aos formatos da festa no Brasil desde o surgimento até atualmente. “Por exemplo, em Salvador (BA), os [povos] iorubas desembarcaram na Capital da Bahia, eram tribos e clãs inteiros. Isso deu ao Carnaval de Salvador aquela configuração própria que você vê lá no Ilê Aiyê, no Olodum, nos Filhos de Gandhi e em todos esses blocos com manifestações afros, com um enorme respeito à tradição”, afirma.
Outro exemplo citado por ele é o Carnaval do Rio de Janeiro. “É uma outra vertente, mas que também se formatou a partir de uma herança negra muito forte. As escolas de samba têm, até hoje, uma ala obrigatória chamada 'ala das baianas', que é um respeito e uma reverência às baianas que vieram de Salvador e se instalaram nos morros, onde se fizeram as primeiras rodas de samba”, pontua.

Influência negra no Carnaval cearense

Apesar de também ter influência da cultura negra, o Ceará, na visão de Sérgio Pires, não teve uma grande manifestação como nos demais casos citados. “Nós tivemos na formação colonial do Ceará pouca expressividade no que diz respeito à negritude. Ou seja, existiram escravos no Ceará, mas em um contingente muito pequeno e de origem bantos, que chegaram aqui de forma muito dispersa, o que facilitou a miscigenação com índio e branco”. De acordo com ele, a miscigenação é um dos motivos que fez surgir o ato de pintar os rostos de preto das pessoas que desfilavam no maracatu.
O MAIOR LEGADO DA CULTURA AFRICANA NO CARNAVAL CEARENSE FOI, SEM DÚVIDAS, O MARACATU
Para o pesquisador Gilmar de Carvalho, a ideia de poucos escravos no Ceará é bem polêmica. “Tínhamos os necessários para as atividades econômicas do Ceará. Vale ressaltar que sempre fomos uma província pobre e desassistida. Tivemos charqueadas, alguns engenhos nas terras mais férteis e o algodão que já tem seu ciclo quase no fim do período da escravidão. Não tivemos apogeu. As secas sempre foram uma ameaça do que fazíamos e ao que queríamos ser”, assinala.
O AZ DE OURO FOI UM DOS PRIMEIROS MARACATUS QUE SURGIU EM FORTALEZA 
FOTO: ARQUIVO NIREZ
Sobre a pintura no rosto, denominada de negrume, Gilmar destaca que a ideia é reforçar a cultura negra. “A miscigenação não nos torna mais ou menos negros. Assumir uma negritude é também uma questão de atitude, de consciência e de respeito ético aos que sofreram nossos ancestrais. A dívida para com eles é impagável. Vejo a ideia de lambuzar o rosto com uma mistura de óleo (vaselina) e fuligem como um ritual. Torna o desfile mais impactante, do ponto de vista da visualidade. Nada do 'blackface' do qual nos acusaram estudantes baianos desavisados, no Congresso da UNE que aconteceu em Fortaleza, em 2017, reforça o pesquisador, que já foi professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC).
ALÉM DOS MARACATUS, O CARNAVAL DE FORTALEZA TAMBÉM CONTOU COM BLOCOS, MARCHINHAS, ESCOLAS DE SAMBA E CORDÕES
O maior legado da cultura africana no Carnaval cearense foi, sem dúvidas, o maracatu. “É a festa dos africanos, um cortejo processional da coroação da rainha. Encontramos registros nos livros das atas das Igrejas. Estas irmandades cultuavam, basicamente, Nossa Senhora do Rosário e reuniam, de modo disfarçado, como se o culto fosse a uma santa católica. Temos registros destas irmandades em várias cidades do Ceará”, afirma o pesquisador, lembrando que o cronista e romancista Gustavo Barroso já descrevia os maracatus de Fortaleza no fim do século XIX, quando ele ainda era criança.
OS MARACATUS COSTUMAVAM TER NOMES DE CARTAS DE BARALHOS, COMO "REI DE PAUS" E "AZ DE ESPADA"FOTO: ARQUIVO NIREZ
Gilmar destaca que há uma visão errônea de que o maracatu cearense teria surgido a partir do de Recife. “Não concordo com a ideia de que Raimundo Boca Mole foi ao Recife e trouxe o modelo ou formato maracatu, que deu origem ao Ás de Ouro, fundado em 1936. Podemos pensar, talvez, na ideia de que o maracatu no Carnaval veio daí, mas o cortejo desfilava pelas ruas e chegava à Igreja do Rosário, na Praça dos Leões. Não se traz uma manifestação cultural tão densa e complexa em uma valise, de uma viagem ao Recife”, ressalta.
Ele ainda pontua que o maracatu cearense tem uma característica que o destaca dos demais. “O maracatu é algo que comove, emociona e nos deixa orgulhosos de recuperarmos este cortejo e fazermos dele uma bandeira de emancipação e de festa do Carnaval de Fortaleza. Aliás, tem uma peculiaridade que o torna único: incorpora indígenas. Leva para as ruas o que antropólogos, historiadores e sociólogos tentam explicar e nem sempre conseguem”, revela Gilmar.
O JARDINEIRA POR QUE ESTAS TÃO TRISTE 
MAS O QUE FOI QUE TE ACONTECEU 
ORLANDO SILVAFOTO: ARQUIVO NIREZ

No percurso do corso

Além dos maracatus, o Carnaval de Fortaleza também contou com blocos, marchinhas, escolas de samba e cordões. Todos passavam pelo corso, que era um local reservado para os desfiles. O percurso mais tradicional era o da Av. Duque de Caxias, mas também havia o da Av. Dom Manuel ou, ainda, o da Rua Senador Pompeu com Rua São Paulo. O pesquisador Gilmar de Carvalho relembra que os primeiros registros do Carnaval antigo vinham dos cronistas. “A Caterina Saboya veio com o 'Fortaleza, Velhos Carnavais' e nos deu mais pistas para compreender a festa. Era um evento como os outros, com laranjinhas de cheiro, confetes, uma alegria das elites nos clubes e do povo nas ruas. Nada de muito excepcional, o que deve ter reflexos na pálida festa de hoje”, pontua.
ADEUS PRAIA DE IRACEMA 
PRAIA DOS AMORES 
QUE O MAR CARREGOU 
LUIZ ASSUNÇÃO
Logo após o fim da 2ª Guerra Mundial (1945), surgiram, em Fortaleza, duas escolas de samba: “A Prova de Fogo” e a “Luiz Assunção”. Ambas tinham uma orquestra com instrumentistas de sopro, na época, o tipo de formação musical mais comum durante as festas de Carnaval.
A ESCOLA DE SAMBA LUIZ ASSUNÇÃO DEIXOU UMA DAS MAIS BELAS MÚSICAS DO CARNAVAL DE FORTALEZA, “ADEUS PRAIA DE IRACEMA”FOTO: ARQUIVO NIREZ
“Todo mundo tinha a mesma fantasia. Era uma blusa de seda de manga cumprida com a calça branca e sapato branco. Era uma formação similar à de um pelotão militar. Ou seja, você tinha onze pessoas na frente e o resto do pessoal em fila atrás. Na frente, tinha um estandarte e um baliza e atrás tinha a orquestra. E eles brincavam sem sair da fila. A orquestra de Luiz Assunção, a base dela era a banda de música do 23° BC, e a base da 'Prova de Fogo' era a banda de música do Corpo de Bombeiros. Chamava-se pelotão de brincantes”, comenta o pesquisador Sérgio Pires.
 
Ele pontua também a diferença entre as duas escolas. “O pessoal do 'Luiz Assunção' cantava músicas autorais. O próprio Luiz Assunção era compositor e daí surgiu a música mais famosa deles: 'Adeus Praia de Iracema'”, lembra. Já a “Prova de Fogo” cantava músicas que tocavam nas rádios àquela época. “As músicas de Carnaval eram muito tocadas no rádio, e quando as escolas e blocos chegavam nas ruas, o povo também cantava”, afirma o pesquisador.
CANTANDO MÚSICAS DE SUCESSO NA ÉPOCA, A ESCOLA “PROVA DE FOGO” TINHA UMA ORQUESTRA DE SOPRO COM MÚSICOS DO CORPO DE BOMBEIROSFOTO: ARQUIVO NIREZ
Além das escolas de samba, os cordões também se apresentavam no corso. “Tinham 'As Meninas da Lua' e 'As baianas', que eram os taifeiros do Mercado São Sebastião, que vendiam e cortavam carne. Eles desfilavam como baiana com as peixeiras nas saias”, relembra. O mais famoso, no entanto, era o cordão das Coca Colas. “Foi o que ficou na memória. Era uma crítica social. Durante a 2ª Guerra, os americanos iam para o Estoril fazer as chamadas vesperais, e atraíam as meninas para lá. Era uma crítica da rapaziada daqui àquela situação, porque a maior parte das meninas engravidava e os brincantes saiam de saiote, top e barrigudas”, revela Sérgio.
O bloco dos “Sujos” também ganhou destaque no período, de acordo com o Carnavalesco. “O 'Sujo' era uma crítica social e política, eram pessoas que desfilavam soltas. Eles criticavam políticos, costumes e expressavam isso se vestindo ou se configurando de tal maneira que a crítica era identificada”, revela.
CHIQUITA BACANA LÁ DA MARTINICA 
SE VESTE COM UMA 
CASCA DE BANANA NANICAEMILINHA BORBAFOTO: ARQUIVO NIREZ

Do sopro à percussão

Com o desenvolvimento das telecomunicações no País durante a Ditadura Militar, a partir de 1964, muitos eventos foram transmitidos nacionalmente, inclusive o Carnaval do Rio de Janeiro, o que impactou nos modelos da festa em outros estados. “O Carnaval de Fortaleza foi impactado pela mídia. Com a transmissão das imagens da TV via satélite e com a formação das redes, tivemos uma difusão e uma grande aceitação do modelo das escolas de samba cariocas”, revela Gilmar de Carvalho.
DE ACORDO COM NIREZ, A PREFEITURA COMEÇOU A FAZER VÁRIAS EXIGÊNCIAS ÀS AGREMIAÇÕES QUE DESEJAVAM DESFILAR, INFLUENCIADO PELO CARNAVAL CARIOCA. ISSO "ANIQUILOU NOSSO CARNAVAL, QUE ERA FEITO DE BLOCOS, CORDÕES INOCENTES, SEM NENHUMA POMPA, MAS ERA NOSSA IDENTIDADE", REFORÇA
Sérgio Pires complementa a ideia afirmando que o Governo Federal, na época da Ditadura Militar, tinha como intenção controlar o processo informativo a partir de um polo, que foi o do Rio de Janeiro, e propagá-lo para todo o Brasil. Com isso, a transmissão do Carnaval carioca acabou padronizando a cultura e atraindo vários artistas cearenses para o Rio.
ENVERGA MAS NÃO QUEBRAFOTO: ARQUIVO NIREZ
“Eles gravavam o Carnaval do Rio de Janeiro e, no dia seguinte, as estações de televisão mostravam nos estados. Os caras começaram a ver aquele Carnaval bonito, só que totalmente diferente, escola de samba com alas e tal. Por aqui, começaram a se interessar e, ao mesmo tempo, surgiu um bloco chamado 'Escola de Samba Alencarina', que só teve a duração de um ano. Ela era formada pelos sargentos e praças da Aeronáutica, que serviam na Base Aérea de Fortaleza, e a maior parte desses caras desfilava e tinha raízes nas escolas de samba do Rio. Então, pela primeira vez, se montou uma bateria de escola de samba, só com instrumentos de percussão”, diz Sérgio.
CAÇADORES DA FLORESTA - MAIS LEGENDA PARA INSERIR AQUIFOTO: ARQUIVO NIREZ
“Quase mataram os maracatus, porque eles tinham de concorrer com as escolas de samba. Passaram a cobrar enredos dos maracatus, quando o enredo é a coroação. No entanto, os maracatus deram a volta por cima, já que são muitos, são interessantes e as escolas de samba minguaram”, acrescenta Gilmar de Carvalho.
O historiador Nirez revela que, influenciado pelo Carnaval carioca, a Prefeitura começou a fazer várias exigências às agremiações que desejavam desfilar. " Dava prêmios para coisas que nunca tivemos, como enredo, abre-alas, comissão de frente, porta bandeira, mestre sala e bateria", informa. Nirez afirma que isso destruiu as festas carnavalescas de Fortaleza. "Aniquilou nosso Carnaval, que era feito de blocos, cordões inocentes, sem nenhuma pompa, mas era nossa identidade", reforça.
Além disso, outro aspecto também contribuiu para a modificação do Carnaval na Capital cearense. “Naquela época, existiram, em Fortaleza, os clubes elegantes e os clubes suburbanos. Tinha o Náutico, Iracema, Diários, Vila União e outros. Como nós aqui não tínhamos, na época, escola de formação de músicos de sopro, esses clubes foram buscar nos Carnavais de ruas os músicos que eles precisavam para formar as orquestras para os bailes. Quando esses caras foram para os clubes, o Carnaval de rua ficou sem o sopro. Para sobreviver, passou a usar a percussão. Isso descaracterizou os blocos e foi mudando a feição do Carnaval do Ceará”, destaca Sérgio.
ALLAH-LÁ-Ô, Ô Ô Ô Ô Ô Ô 
MAS QUE CALOR, Ô Ô Ô Ô Ô Ô 
ATRAVESSAMOS O DESERTO DO SAARA 
O SOL ESTAVA QUENTE 
QUEIMOU A NOSSA CARAHAROLDO LOBO E NÁSSARAFOTO: ARQUIVO NIREZ

Escolas de samba e o Ispaia Brasa

Com o formato de configuração do Carnaval do Rio de Janeiro, foram surgindo as escolas de samba no Ceará. A mais famosa delas foi o “Ispaia Brasa”, bloco do pintor e escultor Descartes Gadelha. “O espalha brasa era um navio da Marinha de guerra do Brasil, que estava no Porto do Mucuripe e tinha vindo para combater o contrabando. Eles viram o nome e resolveram colocar 'Espalha Brasa'. Só que o povo começou a chamar de 'Ispaia Brasa'. Nominaram de uma forma diferente, e os organizadores colocaram no estandarte”, comenta Sérgio.
A GRANDE VIRTUDE DO 'ISPAIA BRASA' FOI QUE ELA LEVOU PARA O CARNAVAL MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR CEARENSE E SE TORNOU UMA UNANIMIDADE. TODO MUNDO IA À RUA PARA VER A ESCOLA
SÉRGIO PIRES, PESQUISADOR
O primeiro enredo preparado pelo "Ispaia Brasa" foi em 1969, denominado de “Baile Imperial”, de autoria de Bráulio Martins e Batista. Em 1976, outro enredo entrou para a história, o “Nordeste, Lampião e Cangaço”, que citava, inclusive o Padre Cícero Romão Batista. Dessa forma, a escola sobreviveu até 1978, tendo conquistado oito vezes o maior título da categoria, com notas máximas.
Vale ressaltar que antes do "Ispaia Brasa" surgir, em 1968, e arrastar a população para assistir ao desfile da escola no corso, fez parte da origem deles o bloco “Vaçora Xuja”, onde desfilaram Jamelão, Jorge Veiga e Mansueto. “Eles vinham cantar nos clubes e de tarde iam para a rua com o Vaçora Xuja”, afirma Sérgio, comentando ainda que o bloco tinha o próprio percurso pelas ruas do Centro de Fortaleza.
“A grande virtude do 'Ispaia Brasa' foi que ela levou para o Carnaval manifestações da cultura popular cearense e se tornou uma unanimidade. Todo mundo ia à rua para ver a escola, porque cada ano era um espetáculo diferente”, relembra Sérgio.
Outras escolas de samba também se apresentavam na Capital, como o “Unidos do Pajeú”, uma das responsáveis, inclusive, por tirar títulos do "Ispaia Brasa". Os maracatus também participaram do corso e competiam com as escolas de samba. A primeira foi o "Az de Ouro" e, na década de 1970, o "Maracatu Rei de Paus" foi um dos principais campeões. Outro que também teve seu destaque foi o "Az de Espada", sendo um dos mais festejado pela população, tendo obtido 13 títulos.
O Interior do Estado também tinha o seu Carnaval, principalmente apresentações de maracatu. No entanto, Gilmar de Carvalho destaca o Carnaval mais praiano de muitas cidades, que perpetuam até hoje.
TAÍ, EU FIZ TUDO P'RÁ VOCÊ GOSTAR DE MIM 
AH! MEU BEM, NÃO FAZ ASSIM COMIGO NÃO! 
VOCÊ TEM, VOCÊ TEM QUE ME DAR SEU CORAÇÃO!CARMEN MIRANDAFOTO: ARQUIVO NIREZ

Entre os clubes e as ruas

O Carnaval de Fortaleza levou centenas de pessoas para brincar, com músicas que se consagraram em todo o Brasil. As mais conhecidas foram “A jardineira”, de Orlando Silva, “Chiquita Bacana”, de Emilinha Borba, “Pra você gostar de mim”, de Carmem Miranda, entre outras.
ERAM CARROS UM ATRÁS DO OUTRO, SÓ FAZIAM RODAR A DOM MANOEL TODA E VOLTAVAM. TINHAM BRINCADEIRAS, QUEM TOCAVA LEVAVA INSTRUMENTOS, COM MÚSICAS DE CARNAVAL. TINHA GENTE QUE ATÉ DECORAVA OS CARROS
LENINHA CAMPOS
Foi neste contexto que, desde criança, Leninha Campos começou a acompanhar o pai, Raimundo Pinto, nos desfiles de maracatus na Avenida Duque de Caxias, no percurso do corso. A escola que ela mais se lembra é a "Ispaia Brasa". “Eles eram elétricos, animados e bem interessantes, chamavam atenção”. Depois, ela passou a frequentar também o corso de carros da Avenida Dom Manoel, com os irmãos.
LENINHA CAMPOS SE DIVIDIA ENTRE AS FESTAS NOS CLUBES DA CAPITAL E OS CORSOS DE CARROS E DE BLOCOS, NO CENTRO DA CIDADEFOTOS: ARQUIVO PESSOAL/ ALINE CONDE
“Eram carros um atrás do outro, só faziam rodar a Dom Manoel toda e voltavam. Tinham brincadeiras, quem tocava levava instrumentos, com músicas de Carnaval. Tinha gente que até decorava os carros. Na época tinha muito Jeep, porque saía e entrava facilmente para brincar. Ali a gente via muita gente conhecida. Eu deveria ter uns 13, 14 anos, na década de 1960”, revela Leninha.
Os clubes também fizeram parte do Carnaval dela. “Como meu pai era sócio de todos e da diretoria de quase todos nós íamos para tudo. De tarde, a gente ia para o corso e à noite para os bailes”, relembra Leninha, comentando que frequentava o Ideal, Clube Líbano, Náutico, Country Clube e Maguary.
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Atualmente, ela sente a diferença do período carnavalesco. “Hoje em dia, as pessoas passam o Carnaval fora e a cidade fica vazia. Antigamente, se passava na cidade e não se saía daqui pra viajar, para ir à praia. Não tinha nada disso, se curtia realmente aqui e era um Carnaval sadio”, diz.
Assim como Leninha, Zeneida Jacques também era influenciada pela família a participar do carnaval local. Quando pequena, frequentava, na companhia das três irmãs e da mãe, as festinhas que aconteciam no clube Náutico. "Nós sempre usávamos fantasias infantis".
ZENEIDA NÓBREGA BRINCA CANAVAL DESDE CRIANÇA COM OS IRMÃOS E OUTROS FAMILIARESFOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Ela também acompanhava o corso Carnavalesco. "Quando a gente era menor, o corso acontecia na Senador Pompeu. Nós ficávamos assistindo na casa do meu avô, que ficava na mesma rua. Depois foi para a Duque de Caxias, também no Centro, e nós morávamos na Barão do Rio Branco com Duque de Caxias, o que era ótimo. A gente botava cavalete na rua para assistir. Juntava toda a família lá em casa para ver".
A aposentada relembra que chegou a participar de um corso de carro. O pai de uma amiga tinha uma Rural e abriu a parte de trás do veículo, onde ela e as colegas foram sentadas.
"Na adolescência, quando eu tinha 15, 16 anos, passamos a frequentar outros clubes que faziam sucesso na época. Além do Náutico, íamos para o Clube Líbano Brasileiro, por exemplo. Nossa mãe sempre nos acompanhava, gostava muito das músicas Carnavalescas".
Já adulta, na fase dos 20 anos, Zeneida começava a aproveitar o Carnaval no sábado que antecede o feriadão. "Hoje tem o Carnaval da Saudade. Naquela época, se chamava Sábado Magro. Na sexta de Carnaval, a programação era ir para o Iate Clube de Fortaleza, onde acontecia o Baile do Hawai. No sábado, todos iam para o Náutico. Domingo, era a vez do Clube Líbano. A segunda-feira era exclusiva do Country Clube. Ele ficava localizado na Barão de Studart. Ainda tinha um detalhe: a mamãe só deixava a gente ir acompanhada de um tio".
Zeneida explica que no último dia, na terça, ela aproveitava a festa até de manhã, no Náutico. O conjunto, que se chamava Ivanildo, descia para a praia e todo mundo acompanhava. Alguns foliões até entravam no mar. "Mas a gente ficava só olhando", relembra.
Ela conta que, naquela época, o pessoal costumava fazer blocos. Todo mundo usava a mesma roupa, ao invés de pensar em uma fantasia individual. "Nos fantasiávamos de havaiana. Teve um ano que nos vestimos de melindrosa. Cada uma escolheu uma cor e usávamos um colar de pérola. Fomos para o Náutico assim. Só que os rapazes puxavam os nossos colares e as contas se espalhavam pelo chão". A aposentada ressalta que a melhor parte é que as festas só tocavam músicas brasileiras e samba. Dentre suas músicas preferidas, está "A jardineira".

Diário do Nordeste

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