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As mulheres fazem a diferença na engenharia

Embora a conscientização certamente esteja crescendo, ainda há um longo caminho a percorrer.
Engenheiras e futuras engenheiras deixam seus depoimentos no Dia Internacional da Mulher.
Engenheiras e futuras engenheiras deixam seus depoimentos no Dia Internacional da Mulher.

Por Aline Oliveira, com colaboração das engenheiras e futuras engenheiras: Luiza Lemes, Déborah Matos, Luciana Rios, Patrícia Azevedo, Andressa Gomes, Márcia Magalhães, Danielle Aparecida, Carla Cristina e Luana Naara.
“A presença das mulheres na Engenharia Civil ainda é reduzida devido ao preconceito, por se acreditar que a profissão é masculina. Mas eu acredito que se uma mulher quer ir pra obra é porque ela é tão capaz quanto qualquer homem e deve ser valorizada.” (Luiza Lemes, estudante de Engenharia Civil da EMGE)
É justo dizer que os empregos no setor da Construção Civil ainda são vistos por muitos como opções não tradicionais para as mulheres. Segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), menos de 30% dos registros nos conselhos regionais são femininos. E, provavelmente, boa parte dessas engenheiras não está nas obras. Prevalece a imagem estereotipada de homens em botas lamacentas e capacetes duros nos canteiros de obra. Estima-se que apenas 13% dos profissionais de Engenharia em atuação no Brasil sejam do sexo feminino. Numerosas explicações podem ser oferecidas para essa discrepância, incluindo a falta de orientação/incentivo para as mulheres e as demandas femininas em manter um equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar. Déborah Matos, estudante do 3º período da EMGE, acredita que mesmo “com perfil multitarefas, as mulheres veem se destacando cada vez mais nas engenharias. Na área de Engenharia Civil, principalmente.”
É necessário rever o impacto que o equilíbrio trabalho/família tem na formação profissional feminina. Não seria esse impacto mais positivo que negativo? De acordo com a Engenheira Civil Carla Cristina dos Santos, “ser mulher e ser engenheira é algo que amplia os horizontes! A engenharia amplia a visão e a percepção. A mulher representa a sensibilidade, o capricho, os cuidados nos detalhes na percepção e na construção de cada projeto. Pode significar ainda ser mãe, o que aumenta ainda mais todas as percepções sobre o mundo. Simples assim, mas de grande efeito e, se soubermos aproveitar, conseguiremos construir uma vida profissional e pessoal muito rica.”
Embora a conscientização sobre o problema certamente esteja crescendo, é claro que ainda há um longo caminho a percorrer. “Há um aumento discreto da presença feminina na Engenharia, o que demonstra a quebra de barreiras e a busca por cada vez mais igualdade nesse universo predominantemente masculino”, confirma Déborah.
A questão da igualdade de gênero na indústria da construção não é exclusiva do número de trabalhadores, mas também se estende aos níveis de remuneração. Recentemente, a Lendlease, uma multinacional australiana de gerenciamento de projetos e construção, revelou que suas colaboradoras femininas eram pagas até um terço menos do que seus colegas do sexo masculino. Desde que identificou isso, a empresa introduziu uma série de medidas para corrigir as diferenças de gênero e remuneração, como a licença parental compartilhada, por exemplo (Sue James, na conferência Ecobuild 2018, Reino Unido).
Ações como essa são cada vez mais frequentes em países desenvolvidos e estão sendo imprescindíveis para encorajar o diálogo em torno da diferença de gênero e, o mais importante, para nos conscientizar sobre a importância da questão. Essa mudança cultural ainda pode demorar para chegar ao Brasil, mas podemos fazer o que está ao nosso alcance por aqui.
Hoje, mais de 30% do alunado da EMGE no curso de Engenharia Civil é composto por mulheres. Mulheres dedicadas, corajosas, fortes e capazes. “Quem olha as salas de aula das faculdades de Engenharia nos dias de hoje dificilmente dirá que é uma área apenas masculina. Em muitas das disciplinas que cursei na EMGE e em outras instituições, a quantidade de mulheres era igual ou superior. Os homens ainda ocupam um maior espaço no mercado, em termos numéricos, mas a situação está mudando e acredito que muito pela dedicação e coragem das mulheres”, confirma Patrícia Azevedo, jornalista e estudante da EMGE. E completa: “Não gosto de ver a questão como uma disputa ‘homens x mulheres’, acredito que ambos possuem capacidades equivalentes e características que podem se complementar. Conheci engenheiras e professoras brilhantes, que conseguem trazer sensibilidade e pontos de vistas diferentes para a área. Ao mesmo tempo, elas se destacam pela capacidade técnica, atuando como calculistas, engenheiras de obras, pesquisadoras. Espero que essa participação continue se fortalecendo e que situações como diferenças salariais para mesmo cargo e função sejam de fato eliminadas.”
Há quem nunca tenha encarado a ‘mulher na engenharia’ como algo vencedor, como a Luciana Gonçalves Rios, Engenheira Eletricista da CEMIG: “Estamos inseridas nas competências técnicas de igual para igual. A desigualdade está nas competências emocionais e sociais, ainda presente no jeito em que somos tratadas e remuneradas.” Há também quem perceba que ser mulher e engenheira é um diferencial, como a estudante Danielle Aparecida: “As mulheres vêm construindo seu espaço, quebrando paradigmas e mostrando do que são capazes. Me vejo como um diferencial. Ser mulher e negra numa área predominantemente masculina é um desafio gigantesco. O preconceito e o machismo existem? Meu sonho também! Não serei paralisada pelo medo e as incertezas do mercado desta profissão.” E ainda cita Aisha Bowe, engenheira aeroespacial da Nasa: “Se você continuar a sonhar cada vez mais alto, você conquistará coisas cada vez maiores”.
Andressa Gomes, estudante do 2º período da EMGE, diz que “é descontente saber que exista muito receio quanto à competência feminina na atuação desta área por ser um universo ainda tão masculino, porém algumas características que prevalecem e se destacam como a cautela e a preocupação com os mínimos detalhes demonstra a importância das mesmas, que estão atentas e dispostas a enfrentar as barreiras para definitivamente aniquilar este tabu. Desde que fiz minha escolha profissional já tinha ciência dos desafios a enfrentar, mas que de forma ética e efetiva consiga vencer todos".
A rápida progressão da tecnologia de construção automatizada significa que o processo de construção evoluiu e abriu uma série de novas oportunidades, para mulheres e homens, desde o canteiro de obras até a sala de reuniões. E uma força de trabalho diversificada pode trazer inúmeros benefícios. “As mulheres na Engenharia fazem a diferença. Ponderam, amenizam, são prudentes (não que os homens não o sejam...) mas estabelecem um padrão ‘feminino’, mais suave, que modifica o contexto e estabelece um padrão de relacionamento que complementa. As decisões, esses desafios sempre tão difíceis, parecem que se tornam mais fáceis. É claro que o equilíbrio masculino-feminino é o que permite esse padrão. Não sei como seria a engenharia se não tivessem as mulheres: não seria ‘criadora’ e certamente não seria como e o que é.” –  Engenheira Marcia Castro Magalhães. E a Luana Naara, estudante do 1º período da EMGE completa: “cada vez mais as mulheres escolhem a Engenharia como profissão para conquistar aos poucos seu espaço profissional, trabalhando em parceria e objetividade com o sexo masculino, desenvolvendo cada vez mais seu potencial e mostrando seu profissionalismo.
Ainda há trabalho a ser feito na crescente representação feminina em todos os papéis mais tradicionalmente dominados pelos homens. Mas relatos de sucesso duradouro das mulheres na Engenharia são boas inspirações para o ponto de partida.
“Ser engenheira por tanto tempo foi uma surpresa na minha carreira! Formei num momento de crise (uma delas ao longo desses últimos 37 anos!) e, para minha surpresa fui engenheira por todo esse tempo. Muito orgulho dessa profissão que, até ali envolvia tão poucas mulheres, e que apoiou não só a minha vida profissional, de sucesso, como abriu muitas portas durante todo esse tempo.” (Márcia Magalhães)
“Sou formada em engenharia Química e atualmente atuo como engenheira de segurança do trabalho. Trabalhei muito tempo em empresa de projetos, muitas vezes alocada no cliente e tendo que fazer levantamentos de campo subindo em tanques, passando por tubulações. Para mim sempre foi uma grande aventura e graças a Deus nunca sofri nenhum tipo de preconceito embora muitas vezes os meninos me chamassem de ‘Engenheiro fêmea’. Acredito que o sucesso das mulheres no campo da Engenharia é fazer tudo de coração, com confiança e vontade de vencer. Isso filtra qualquer tentativa de preconceito e desmerecimento que possa haver de partes masculinas no ambiente de trabalho.” (Andréia Abrahão Sant'Anna)
“Pensando em todas as possibilidades e características da mulher engenheira encontram-se os desafios. Eles existem e não são fáceis de vencer. Há ainda os preconceitos, os assédios, a rotina de trabalho versus a rotina de casa, tudo o que já sabemos de cor. Mas o maior desafio é o que estamos enfrentando agora, no século XXI. É entender que ser mulher ou ser homem é simplesmente uma questão de gênero e o que importa mesmo é nos entendermos como SERES HUMANOS na busca de um mundo melhor e mais igualitário. Esse deve ser o desafio da nossa geração e das próximas.” (Carla Cristina dos Santos)

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