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"Diário Gráfico" abre amanhã mostra no Museu da Indústria


A representação do espaço urbano, a partir de sua observação, constitui uma das premissas da profissão de arquiteto. A exposição "Diário Gráfico", composta por 61 desenhos em bico de pena, do desenhista, arquiteto e urbanista, Áureo Castelo Branco, serve para evidenciar a percepção do olhar desse profissional, que tem como matéria-prima o dia a dia das cidades. A abertura da mostra será nesta quinta (15), às 19h, e marcará a inauguração da sede centro do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento Ceará (IAB-CE), no prédio do Museu da Indústria. Ela fica em cartaz até o dia 15 de julho.
A programação contará ainda com palestra dos arquitetos Domingos Linheiro e Antônio Rocha, responsáveis pelo projeto de restauro do equipamento, construção do fim do século XIX. A exposição é a primeira individual do desenhista, e inaugura a Galeria da Casa Anexa, cujo nome faz referência ao local que será ocupado pela sede do IAB Centro. Os trabalhos são delicados e retratam com riqueza de detalhes aspectos da vida urbana, mostrando a relação com as construções históricas de algumas cidades.
Em Fortaleza, o artista reproduz equipamentos como a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, no bairro Jacarecanga, a Igreja do Pequeno Grande, localizada na Avenida Santos Dumont, e o Museu da Indústria, também passa pela pena do arquiteto. De maneira didática, as obras propiciam um passeio pelo cotidiano de cidades localizadas no Piauí, Paraíba, Pernambuco, Paraná e Minas Gerais. A curadoria é de Fernanda Rocha, arquiteta, urbanista, professora e pesquisadora da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Os desenhos de Áureo Castelo Branco não ficam restritos apenas aos centro urbanos. No Ceará, o passeio inclui o litoral e o sertão, além de particularidades de outras capitais brasileiras, afirma. O artista usa a técnica bico de pena, colorido com marcadores. O resultado é um trabalho minucioso, delicado, sem esquecer das pessoas. Elas parecem completar as paisagens das cidades visitadas, que funcionam como verdadeiros laboratórios para a concepção não apenas das obras, mas também da pesquisa do arquiteto e urbanista. Os desenhos são feitos no local, sendo essa a principal característica de suas criações. Ele conta que se senta defronte ao prédio que deseja retratar, como se fosse um exercício misto entre o desenho urbano e o artístico.
Lição
O desenhista é também professor de arquitetura, daí a ênfase no que considera ser uma das principais lições da profissão de arquiteto: promover "a representação do espaço urbano a partir da observação" A exposição é uma maneira de materializar a tese defendida pelo artista, justificando fazer parte do trabalho de qualquer arquiteto. Além de desenhar, Áureo Castelo Branco, que já participou de diversos salões e mostras cearenses, entre outros, o Salão de Abril e a Unifor Plástica, tem incursões pela escultura e a pintura. "Minha temática é sempre o espaço público. Sento para desenhar e percebo como as pessoas vivem a cidade e participam dela", assinala.
O presidente do IAB-CE, Custódio Santos, fala sobre a importância da entidade inaugurar sede no Centro, o que possibilitará maior participação no processo de requalificação dos prédios históricos da Cidade. A sede da Avenida Carapinima, que fica vizinha à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), continua a funcionar, de olho na relação da entidade com os estudantes.
No entanto, destaca a necessidade de levar um braço do Instituto para a zona central, com atenção para os prédios históricos. Lembra que partiu do IAB-CE as primeiras iniciativas para resgatar o Passeio Público. A realização do prêmio Gentileza Urbana foi outra forma de chamar a atenção tanto de autoridades quanto da população para o espaço, que passou por restauração e requalificação. Hoje, ganhou um quiosque, sendo realizada a tradicional feijoada, aos sábados, e frequentado aos domingos. O Dia do Arquiteto é comemorado no espaço.
"Nossa intenção é promover eventos como palestras e exposições. Iremos ajudar a levar vida para o Centro", projeta o arquiteto. Ressalta a palestra que os arquitetos Domingos Linheiro e Antônio Rocha ministrarão, enfocando a importância da preservação do patrimônio. Eles falarão sobre o projeto de restauração do prédio do Museu da Indústria, realizado em 2014. Custódio Santos atenta para o número de prédios localizados no Centro e que merecem ser preservados, bem como a área central que está bastante deteriorada. "Nossa referência de cidade é o centro e queremos contribuir para sua discussão", observa.
O diretor do Museu da Indústria, Luís Carlos Beltrão Sabadia, avalia o papel do equipamento na na requalificação do Centro. "Ter equipamentos em edificações tombadas e restauradas no Centro é importante, mas o seu processo é muito complexo. O Museu da Indústria é uma colaboração de excelência", diz, admitindo ser importante ao oferecer programação densa e gratuita. Dessa maneira, atrai novos públicos, sendo um dos dois únicos equipamentos culturais que abre regularmente, no bairro, aos domingos. O outro é o Cineteatro São Luiz.
Colaboração
Sabadia lembra da colaboração do IAB-CE no início do projeto de restauro do Museu da Indústria, assim como do escritório de projetos da Unifor. "Dai nasceu a ideia de ocupação que se consolida agora. Atualmente ainda não existem projetos comuns propostos", responde. A expectativa, completa, é que a presença do IAB-CE no Centro, qualifique e provoque essa discussão sobre as possibilidades do bairro.
Nada melhor do que enfrentar, diariamente o Centro, para ter em si a vivência, apurar o discurso, elaborar o pensamento e depois propor, argumenta. Sobre a concessão da sede para o IAB-CE pelo Sistema Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), ele explica que será por cinco anos, podendo ser renovado por igual período.

Mais informações:
A abertura da mostra "Diário Gráfico", de Áureo Castelo Branco, seguida da palestra dos arquitetos Domingos Linheiro e Antônio Rocha marcam a inauguração da sede Centro do IAB-CE, nesta quinta (15), às 19h, localizada na casa anexa ao Museu da Indústria (Rua Dr. João Moreira, 143 - Centro). Pode ser visitada até 15 de Julho, de terça a sábado, das 9h às 17h; e domingo, de 9h às 13h.

Diário do Nordeste

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