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Pedro Serrano dirige documentário sobre Adoniran Barbosa

por Inácio Araujo - Folhapress
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Um dos ícones do samba de São Paulo, Adoniran Barbosa é tema de documentário dirigido por Pedro Serrano, que roteirizou e dirigiu "Luto em Luta"
O longa "Adoniran - Meu nome é João Rubinato" não escapa ao arsenal de formas consagradas pelo documentário contemporâneo: entrevistas; fotos e filmes reencontrados; filmagens adjacentes.
Seu objetivo é, porém, bem menos convencional: trata-se revelar um Adoniran que não conhecemos (ou poucos conhecem) sem por isso apagar aquele que se conhece.
O que se conhece: o compositor, sambista paulistano por excelência, cronista agudo dos bairros periféricos (ainda que de uma "periferia interior", como o Bexiga), o inventor de um vocabulário pessoal, que se tornou tradução exata do italianado paulista. A isso pode se seguir uma fileira de etcéteras.
É disso tudo que "Adoniran" busca dar conta. Não é um esforço pequeno: trata-se de encontrar a singularidade numa obra (e numa vida) bastante plural, em que o trabalho como radialista e ator (de rádio, de TV, de cinema) não é bem secundário.
Foco
Ao contrário: para o filme, o fato central, mais que o samba, é o rádio. Ali ele quis entrar como calouro, se fez compositor (e cantor) tendo como modelo a canção carioca. Ali também desenvolveu tipos humorísticos.
Isso, a fama de boêmio, o jeito e o linguajar de malandro e mais algumas composições de sucesso acabaram por fixar a ideia de um homem feliz - ao menos alegre. Essa imagem o documentário ora desmente, ora atenua.
Transformação
Com efeito, a associação entre as músicas e as imagens mostra um poeta da transformação acelerada, quase demencial, de uma cidade que passa de província a metrópole em poucos anos.
Do "pogressio" a conta, alta, ficará com os pobres, que surgem quase sempre como atônitos protagonistas das músicas de Adoniran. O partido é bem mais existencial do que político: interessa ao músico captar o drama mais do que tirar-lhe consequências. Não julga as transformações: elas acontecem.
O Adoniran-Rubinato do filme é o alegre boêmio mas é também o da imagem do palhaço triste que Elifas Andreato desenhou para capa de um disco em sua homenagem, e à qual o compositor, mais do que com qualquer outra, se identificou.

Mais informações:
"Adoniran - Meu nome é João Rubinato" (Brasil, 2018), de Pedro Serrano. O filme ainda não tem data de estreia em Fortaleza.

Diário do Nordeste

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