Pular para o conteúdo principal

Série de livros fala sobre criação musical brasileira

por Roberta Souza - Repórter
Image-0-Artigo-2382435-1
Fausto, Lenine, Flávio Venturini e Ednardo são alguns dos compositores contemplados na série
Jezebel, Calcutá, Alah meu only you... As palavras que ilustram a canção "Zanzibar", parceria do cearense Fausto Nilo com o baiano Armandinho, d'A Cor do Som, podem guardar um significado - ou não. A história da composição dessa e de outras 39 canções nacionais podem ser conferidas no volume 4 do livro "Então, foi assim? Os bastidores da criação musical brasileira", do pesquisador, produtor multimídia, escritor e radialista Ruy Godinho.
Ele estará em Fortaleza para o lançamento da obra nesta quarta (4), a partir das 19h, na Escola Porto Iracema das Artes, numa roda de conversa com Fausto, Mona Gadelha, Isaac Cândido e Aparecida Silvino.
A série é resultado de uma pesquisa iniciada em 1997, quando o radialista e Adriane Lorenzon produziam o programa "Estação Brasil" para a Rádio Cultura de Brasília. Um dos quadros era "A origem da música", no qual os compositores revelavam exatamente o momento da criação. "Esse quadro gerou um acervo maravilhoso. Em 2006 comecei a sistematizar o material para o lançamento do primeiro volume do livro, em 2008", conta Ruy. De cara, o autor contou a história de 80 músicas.
"O projeto se iniciou com foco somente na biografia das canções: como foram feitas, circunstâncias, emoções que sentiram na hora de compor, quem fez a letra, a melodia. Na seleção de repertório, músicas de todas as épocas, gêneros e movimentos brasileiros", contextualiza.
Já naquela primeira edição, Fausto Nilo aparecia assinando o prefácio e a autoria de duas canções: "Espinha de bacalhau", parceria com Severino Araújo, e "Paroara", composta com Fagner e Chico Buarque.
O cearense volta a aparecer no vol. 3, com a composição "Eu também quero beijar", ao lado de Moraes Moreira e Pepeu Gomes, e agora, no vol. 4, com a já anunciada "Zanzibar". "Foram duas entrevistas com ele; as duas realizadas em Fortaleza", afirma Godinho sobre a apuração com Fausto. Ednardo foi outro que teve a história de suas canções contadas pelo autor, a exemplo de "Enquanto engoma a calça" e "Pavão Mysterioso".
"Com este livro, ficou imperioso entrevistar as fontes primárias para evitar equívocos. Tem gente que divulga irresponsavelmente na internet algumas histórias que não tem nada a ver", critica. O autor faz o possível para entrevistar diretamente os compositores. Somente no caso de falecidos que ele recorre as pesquisas em periódicos, livros e programas de rádio antigos.
Vale destacar que "esse trabalho é dedicado aos criadores musicais. O foco principal é a criação. Só quando tem uma gravação em que o intérprete se destaca que cabe um comentário", pontua.
Edições
A medida que o projeto foi ganhando novas edições, o roteiro de perguntas para os entrevistados foi se ampliando também. No vol. 2, Ruy acrescentou "como funciona processo criativo?" e "como se dão relações de parceria?". Os capítulos aumentaram de tamanho e a quantidade de histórias baixou para 62.
Já no vol. 3 foram contadas 44 histórias, por ser acrescida mais uma questão: a relação da criação musical com o divino. "No vol. 4, coloquei outras duas questões e acho que agora atingi o questionário completo. Acrescentei 'qual seu diferencial pro cenário musical brasileiro?' e também 'o que te inspira? Não só para compor, mas para a vida'. Assim, fechei em 40 histórias. Fui diminuindo a quantidade pra manter o padrão de tamanho. Todos tem 320 páginas", explica o autor.
Estão presentes no último volume canções como "Coração de estudante" (Wagner Tiso/Milton Nascimento), "Fênix" (Flávio Venturini/ Jorge Vercillo), "Paciência" (Lenine/ Dudu Falcão), "Para Lennon e Mc Cartney" (Lô Borges/ Márcio Borges/ Fernando Brant), "Tropicana" (Vicente Barreto/Alceu Valença), "Cais" (Milton Nascimento/Ronaldo Bastos), "Vapor Barato" (Jards Macalé/Waly Salomão), "Clube da Esquina Nº 2" (Lô Borges/ Milton Nascimento/ Márcio Borges), "Zanzibar" (Armandinho/ Fausto Nilo) e "O trem azul" (Lô Borges/Ronaldo Bastos).
Roda de conversa
Na primeira atividade de lançamento da série em Fortaleza, Ruy convida três cantores-compositores cearenses que têm em comum o fato de terem concedido entrevistas sobre seu processo de criação para o autor.
Fausto é o único que entrou no livro, mas Isaac Cândido e Mona Gadelha foram contemplados pelo programa de Rádio homônimo à obra impressa, existente desde 2010.
O programa é transmitido por 271 emissoras em todo Brasil. No Ceará, é contemplado por algumas webrádios. As entrevistas são publicadas no site abravideo.Org.Br e ficam à disposição de quem deseja retransmitir. "Faz parte de um projeto de compartilhamento de conteúdo. Essas rádios que retransmitem são universitárias, comunitárias, públicas", ressalta o radialista.
Para Isaac, o mais interessante do projeto é exatamente as entrevistas que Ruy realiza com todos os compositores de uma mesma canção. "Se tiver três autores, ele entrevista as três pessoas. Cada um tem uma memória e ele obedece isso de uma forma muito bacana. Esse registro fica para as pessoas saberem qual foi a intenção dos autores no processo criativo", observa.
Já Mona destaca o fato de Ruy não ter se restringido aos "medalhões da MPB" e lembra com carinho a entrevista que cedeu para ele há alguns anos. "Ele me contatou, já conhecia meu trabalho desde o primeiro disco. Na entrevista, abordou a história das canções 'Cor de sonho', 'Cinema Noir', 'Imagine nós' e 'Apenas meninas', esta uma parceria minha com Moisés Santana", recorda.
A quarta convidada para a roda, Aparecida Silvino, ainda não foi entrevistada por Ruy, mas entra na conversa como intérprete. "Além dela poder responder questões da criação musical, como compositora competente que é, pode falar sobre releituras e interpretação com sua linguagem própria", acredita o autor, que defende a ideia de um encontro aberto às colocações de todos os presentes, especialmente do público. Um violão dará o tom musical ao momento.
Saiba mais
Uma edição do livro "Então, foi assim?" de compositores nordestinos já está pronta com 50 histórias. A intenção de Ruy é lançar até o fim do ano.
Outro volume em processo de finalização é dedicado aos compositores mineiros, a ser lançado no primeiro semestre de 2019.
Ruy pretende dedicar mais de um volume aos compositores mineiros e nordestinos.
O autor passará o mês de maio no Amapá produzindo um volume especial sobre compositores amapaenses.
A ideia é que, com o tempo, o projeto se expanda a todos os estados brasileiros.

Livro

"Então, foi assim? - Os bastidores da criação musical brasileira" vol. 04
Ruy Godinho


Abravideo
2018, 320 páginas
R$40

Mais informações:
Roda de Conversa "Processos Criativos da Música Brasileira" e lançamento da coleção "Então, foi assim? - Os bastidores da criação musical brasileira", de Ruy Godinho. Nesta quarta (4), às 19h, no Auditório do Porto (Rua Dragão do Mar, 160 - Praia de Iracema). Gratuito.

Diário do Nordeste

Comentários