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69° Salão de Abril reflete sobre a cidade, política e ocupação

Um dos principais eventos da arte do País, o Salão de Abril inaugurou sua 69ª edição no último dia 26. Neste ano, o evento volta a ser promovido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria da Cultura do Município (Secultfor), após uma edição “sequestrada” pelos artistas em 2017, feita sem apoio do poder público. O enfrentamento da classe artística segue, no entanto, aguçado. Na segunda, 30, o Vida&Arte fez uma visita guiada pelo curador Paulo Klein à Casa do Barão de Camocim, onde as obras estão expostas.
Imponente construção histórica que fica em frente à Praça da Bandeira, a Casa (finalmente aberta ao público após restauro e reforma) se colocou como um desafio para a equipe curatorial, juntamente com a presença forte de linguagens menos tradicionais, como instalações, performances e vídeo-instalações. “Procuramos fazer uma adequação a esse espaço, que não é museológico. É um casarão cheio de portas, janelas, e tivemos que nos adequar a isso, às paredes existentes, aos espaços da casa”, explicou. É significativo, por exemplo, que obras como Ossuário, de Diogo Braga, e Desculpe a Paz Que Lhe Roubei, de Darwin Marinho, ocupem logo na entrada espaços da Casa com elementos que desafiam a “pompa” histórica da edificação.
 
Para além da utilização do prédio, outra intenção da curadoria foi estimular a relação entre a exposição e a Cidade. “Me atraía a ideia de usar a Casa, mas transborda-la. Existe essa ideia de sair daqui para a comunidade e, da comunidade, voltar para cá”, apontou. Tal transbordamento é proposto por obras como as intervenções Leve Uma, Talvez Você Precise, de Júnior Pimenta, Intervenção Contra Intervenção, do Coletivo Aparecidos Políticos, e Cartas aos 31, de Sheryda Lopes. Outras atividades que procuram estimular essa relação, como performances, workshops e rodas de conversa, terão seu calendário divulgado nesta semana.
INSTALAÇÃO Obra de Darwin Marinho ocupa sala com peças de roupas dispostas no chão, no espelho e em varais
INSTALAÇÃO Obra de Darwin Marinho ocupa sala com peças de roupas dispostas no chão, no espelho e em varais
O plano extra-Casa, não por acaso, tem plena relação com os posicionamentos políticos da classe artística, em especial aqueles ligados à ocupação e memória. “A questão das ruínas existe em várias instâncias do pensamento. Uma cidade, como Fortaleza, tem lugares desabando, pelo Centro inclusive”, ilustrou. Neste sentido, o segundo andar do prédio guarda a videoarte Banho de Ruínas, de Léo Silva, que dialoga com as fotografias do Futuro em Ruínas, de Mariana Smith. “As coisas vão se encaixando. As ruínas dele tem a ver com as dela, que vão ter a ver com o trabalho do Weaver Lima (a intervenção Rastro) na Vila Vicentina. O artista se conecta com problemas da Cidade para trazê-los para cá. Esperamos que o Salão vá num crescendo, tenha receptividade de novas audiências. É uma forma de ocupar uma área importante da Cidade, entre outras que existem em processo de degradação”, aponta.
“No aspecto político, a produção visual daqui é sintonizada com o sistema nervoso nacional, o mundial. Talvez porque se trata, em boa parte, da produção de artistas jovens. Os mais experientes dificilmente passam dos 40. E todos são interligados, foram alunos uns dos outros, trabalharam juntos. É uma herança passando e renovando a produção local de forma vigorosa”, considerou. “O evento sempre foi um espaço de discussão, propostas da classe artística. Uma das ideias é que esse espaço se torne um centro de debates. Temos muitos enigmas a serem decifrados aqui”, instiga.

SERVIÇO
69º Salão de Abril
Data: até 26 de junho.
Visitação: terça a sexta, de 9 às 20 horas. Sábado, de 9 às 17 horas. Domingo, de 13 às 17 horas.
Local: Casa do Barão de Camocim (Rua General Sampaio, 1632)
Infos: www.salaodeabril.com.br/
JOÃO GABRIEL TRÉZ
O Povo

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