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Seminário celebra as 8 décadas da primeira publicação de "Vidas Secas", clássico do escritor Graciliano Ramos

por Felipe Gurgel - Repórter
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Nesta terça (22), até a próxima sexta (25), o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) sedia um seminário em homenagem aos 80 anos do clássico "Vidas Secas", de Graciliano Ramos (1892-1953). A efeméride não é a única marca lembrada este ano sobre a trajetória do escritor alagoano. Em 2018, também se completam 65 anos de sua partida.
O evento é gratuito e terá duração de 12 horas (contabilizando os quatro dias), divididas em quatro temáticas a respeito da obra literária. Sempre das 15h às 18h, os pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) Fernanda Coutinho (Letras) e Sávio Alencar (mestrando em Literatura Comparada) mediam as discussões. As inscrições são gratuitas e as vagas, limitadas.
A primeira temática será "Ler Vidas Secas: uma narrativa sobre infância e família". A segunda traz a abordagem da crítica literária sobre a obra, ao longo desses 80 anos e mais de 100 edições publicadas do clássico.
A terceira pauta o perfil da personagem da cachorra Baleia, uma das protagonistas da obra no livro e no cinema (baseado no filme de Nelson Pereira dos Santos, de 1963). Por fim, "Vidas Secas" será abordado como filme, quadrinhos, dentre outras linguagens distintas do livro clássico.
Fernanda Coutinho pontua que o primeiro tema foi escolhido para ampliar a leitura de "Vidas Secas" em relação ao enfoque habitual sobre as questões do Nordeste e da seca.
O segundo tema passeia sobre os 80 anos de apreciação crítica da obra. Para a terceira temática, "a gente pensou na Baleia, que é um dos animais mais famosos da nossa literatura no século XX. Veremos como ela se torna uma estrela dentro do livro, e na confecção do filme", resume Fernanda.
A pesquisadora acrescenta que, além do próprio Graciliano Ramos ter ficado marcado pela presença do animal, a cachorra do longa fez diferença no set de filmagens no início dos anos 1960. O quarto e último tema será apresentado com imagens do filme e versa sobre a atualização do texto em diversas mídias.

Conexão
Indagada sobre a conexão que há entre o seu olhar e a perspectiva de Sávio Alencar em relação à obra literária, Fernanda Coutinho observa que ambos se debruçam a respeito das "narrativas do eu".
A pesquisadora explica por que ela e Sávio pensaram no seminário como forma de contar uma "biografia" de Vidas Secas. "Quando se fala em infância e família, não deixa de ser algo confessional, na literatura. Esse 'quê' do biográfico também está contemplado por isso", identifica a professora.
Ressonância
A ressonância de Vidas Secas, segundo Fernanda Coutinho, se deve ao apelo universal da história que se passa no sertão nordestino. A pesquisadora da UFC faz coro à reflexão do escritor Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano, de que a obra poderia ser ambientada em qualquer lugar do mundo com profundas dificuldades políticas e existenciais.
"A realidade da seca nordestina é uma coisa do local, mas o livro repercute em lugares onde os leitores têm até dificuldade de ambientar essa história. Graciliano faz essa ultrapassagem", versa Fernanda.
Ela cita um olhar da crítica, que enxerga um sentido na divisão do título da obra: o "Vidas" remeteria ao apelo humanitário da obra, e o "Secas" se vincularia ao local e às especificidades da realidade ambiental do sertão.
"Vidas Secas" já foi obra inserida em várias listas de vestibulares e a sugestão de sua leitura tornou-se um clássico da cultura brasileira.
Fernanda Coutinho lembra como é comum encontrar leitores que já tenham "ouvido falar" do livro, mas nunca leram. A pesquisadora destaca que parou de contar as reedições da 115ª vez.
"A obra continua como um livro ativo, se renova. Há maneiras diversas de se abordar 'Vidas Secas'. Foi o último romance escrito por Graciliano e (àquela altura da vida) ele já estava muito maduro como escritor. E (a obra) vai longe ainda", vislumbra Fernanda.

Mais informações:
Seminário em homenagem aos 80 anos de "Vidas Secas" (Graciliano Ramos). De terça (22) a sexta-feira (25), das 15h às 18h, no CCBNB (R. Conde D'eu, 560, Centro). Inscrições gratuitas, pelo e-mail cultura@bnb.gov.br.
Contato: (85) 3209.3500

Diário do Nordeste

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