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A herança de encontros e sentimentos que o Festival Vida&Arte deixa para a Cidade, os dias e as pessoas

EMOÇÃO no palco Rachel de Queiroz. Elza Soares, Milton Nascimento, Liniker, Arnaldo Antunes e diversos outros artistas se apresentaram nesse espaço, que reuniu públicos de todas as idades em shows que entraram pela madrugada MATEUS DANTAS
EMOÇÃO no palco Rachel de Queiroz. Elza Soares, Milton Nascimento, Liniker, Arnaldo Antunes e diversos outros artistas se apresentaram nesse espaço, que reuniu públicos de todas as idades em shows que entraram pela madrugada MATEUS DANTAS
Tudo acontecendo e se misturando ao mesmo tempo, em um espaço comum - no Centro de Eventos do Ceará: mil e uma vozes, cantos, pensamentos, expressões, preces, cores, pessoas, ancestrais, convivências, conexões, descobertas. Mais do que a junção de vida e arte, o “maior evento multicultural do Brasil”, como se fez anunciar, desenhou um mundo possível e escreveu um princípio de futuro. Em par com os 90 anos do O POVO, o Festival Vida&Arte, realizado entre os dias 21 e 24 de junho e promovido pela Fundação Demócrito Rocha, trouxe “o bom, o belo, a alegria, a esperança”, como desejou a curadoria, convidando à paz e ao conhecimento (de si, do outro, do redor). E retribuiu, à Cidade e às gentes, as graças que o jornal recebeu.
“O que me trouxe aqui é que eu sabia que ia encontrar os amigos, abraçar, sentir alegria, dançar e equilibrar minhas energias no espaço da espiritualidade”, extraía Lucy Lopes, 57 anos, bancária durante 33 anos e professora de yoga. Atravessando o rio Jaguaribe (um dos espaços cenográficos do Festival), para aportar no palco Belchior (de shows regionais e nacionais), Lucy encantava-se com os caminhos abertos “para o povo se encontrar... Saio daqui feliz”, transmitia.
E eram os índios, os heróis, os maracatus, os sagrados, os femininos, os batuques, os mantras, o lírico, o cordel, a cantoria, a sanfona, o samba, o circo, o teatro, a dança, os quadrinhos, o cinema, o pop, o jornalismo, a literatura, as cores, as costuras, os diversos... Eram os abraços. O professor Sahmaroni Rodrigues, 37 anos, elogiava “o diálogo com todos os públicos”, que a programação do Festival Vida&Arte abarcava. Ele veio pela oportunidade das práticas holísticas em grupo: “A energia do grupo movimenta a mim, o indivíduo”. E voltaria para os dias repleto de vivências, completava-se: “Durante muito tempo, me senti só. Percebendo que tem muita gente que se interessa pela espiritualidade e se conectou comigo, esse diálogo fica”.
A espiritualidade, “a questão da libertação dos traumas”, como selecionou a estudante Valéria Lourenço, 20 anos, atraiu ainda as amigas Daiana Maria, 21 anos, e Mariana Rocha, 21 anos. “Mas eu vim também por causa do Bráulio (Bessa, poeta popular cearense) e da banda Las Tropicanas (com Lorena Nunes, Di Ferreira e Pepita York no comando)”, junta Daiana. “O Festival serviu para aumentar a aceitação da diversidade”, credita Mariana. Em todos os sentidos e do presente ao futuro.
“A gente se multiplica e mais lugares alcançamos”, demarcou a cantora paulista Liniker, em entrevista aberta durante o Festival, diante das questões de gênero. Mas ela sabe (sente) que, assim no próximo disco como na vida, “talvez ainda precise falar sobre amor, sobre afeto, sobre relação”.
A propósito, dizer, ouvir, olhar, sentir, transformar foram alguns dos verbos que conjugaram o Festival Vida&Arte. “Mulheres, a gente viveu a vida toda sem o direito de se expressar. A liberdade de expressão é nossa!”, a voz de Elza Soares reverbera pelos milênios. “Desde criança, venho buscando jeito de gritar, de pedir socorro”, falou a um público que se encontrava com as dores e os amores de Elza (de tantos) no palco Rachel de Queiroz.
Maria Flor, sete anos, pintada de borboleta em uma das atividades infantis, concorda com Elza Soares: “Como colorir o mundo? Essa é uma pergunta muito difícil!”. Enquanto resolvia se fazia, do mundo, um jardim ou uma borboleta, ela respondida sobre uma descoberta que podia mudar todas as coisas: “A coisa mais legal que eu vi aqui? Foi a pessoa pintando outra”, sorri.
O Festival Vida&Arte foi sobre tudo isso; das pessoas aos lugares, passando pelos tempos. De repente, uma saudade e um samba, e a vontade de dançar, de pular corda, de andar de bicicleta. E a vontade da infância, da inocência, da esperança. Tudo outra vez. Cada um se faz a chance do riso, da paz, dos mil e um encontros. Cada um se faz Marielle, Anderson, Edisca, África, Guarani-Kaiowá, floresta viva, nova aurora cada dia. E a cada um cabe aquela parte da canção do sempre, que Milton Nascimento, no show Semente da Terra, encantou: “Debulhar o trigo,/ recolher cada bago do trigo,/ forjar no trigo o milagre do pão/ e se fartar de pão”. 
NÚMEROS
627
ATRAÇÕES formaram a programação do Festival Vida&Arte, nas mais diversas temáticas: literatura, música, dança, teatro, artes visuais, moda, espiritualidade, cultura popular, circo, humor, universo geek e jornalismo.
2003
foi o ano do primeiro Festival Vida&Arte. Em 2005, houve a segunda edição. E, comemorando os 90 anos do jornal O POVO, o Festival representa “o maior evento multicultural do Brasil”. É realizado pela Fundação Demócrito Rocha, com apoio da Lei de Incentivo à Cultura.
OLHAR INTERIOR
ESPIRITUALIDADE
Ocupando todo o segundo mezanino do Centro de Eventos, a programação de espiritualidade do FVA ofereceu ao público um universo de possibilidades, respeitando os mais diversos credos e inclinações. Foram palestras, shows musicais, vivências e palestras promovidas por nomes como Sri Prem Baba e o cantor Kléber Lucas.
REFLETIR O PRESENTE
JORNALISMO E LITERATURA
A curadoria de jornalismo e literatura reuniu um time de intelectuais para discutir os grandes dilemas da comunicação no século XXI. A diretora de redação da revista Época, a jornalista Daniela Pinheiro (foto), participou de conversa sobre os bastidores da cobertura política.
PARA OS PEQUENOS
INFANTIL E CIRCO
Espalhadas por todo o Centro de Eventos, as atrações infantis do FVA encantaram audiências de todas as idades. Diversos espetáculos de teatro e circo integraram a curadoria. O ator e diretor cearense Marcelino Câmara trouxe diversas atividades ao evento, entre elas a peça O menino maluquinho, momentos de contação de história e oficinas de teatro.

O Povo

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