Conta a lenda que o imperador Wu Ti, da China, no ano 121 da era Cristã, ficou desamparado com a morte de sua bailarina favorita. Desconsolado, ordenou ao seu mago que a trouxesse de volta do reino das sombras. A ameaça de decapitação fez o homem buscar alternativas para satisfazer o seu imperador.
Com a cabeça em risco, o servo usou pele de peixe e com ela confeccionou a silhueta de uma bailarina. No jardim do palácio, colocou-se uma cortina branca posta contra a luz do sol. Ao som de uma música, a sombra de uma bailarina apareceu movimentando-se com toda a leveza e graciosidade. Surgia assim teatro de sombras.
O uso da luz e da escuridão são os princípios básicos do teatro de sombras. Ainda pouco difundido no Brasil, a arte milenar tem raízes orientais. Após realizarem um curso em 2014, o Grupo Ânima de Bonecos se dedica agora a disseminar a arte oriental no Ceará.
A próxima ação formativa do grupo é a oficina "Teatro de Sombras", na Vila das Artes, equipamento da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor). As atividades acontecem entre os dias 9 e 17 de julho. As inscrições, exclusivas para maiores de 16 anos, acontecem até o dia 5 de julho, pelo site do equipamento (www.Viladasartesfortaleza.Com.Br). O nome dos selecionados será divulgado no dia 6 de julho.
Cleomir Alencar e Tatiane Sousa serão os facilitadores. Ele é diretor do coletivo e artesão em atuação desde 2001; é um dos manipulares dos bonecos do programa humorístico "Nas Garras da Patrulha", da TV Diário. Ela é atriz e trabalha com criação e animação de bonecos, com contação de histórias e performance teatral.
Luz e sombra
A história do Grupo Ânima com o teatro de sombras vem desde 2014. Cleomir e Tatiane viajaram para o Rio Grande do Sul para um curso da Cia. De Teatro Lumbra. O coletivo gaúcho é um dos grupos mais importantes do Brasil que trabalham com o teatro de sombras.
Com mais de 20 anos de estrada, trabalhando com o teatro de animação, com manipulação de bonecos, o Ânima quis expandir seu repertório e suas linguagens, passando a se dedicar, também, ao teatro de sombras e de objetos. "A gente trabalha em uma dimensão pequena, de 30 cm por 40 cm): uma tela pequena. Na peça 'Circo Pirilampo', seguimos uma narrativa de um teatro de sombras em miniaturas e lá a gente apresenta a jornada de uma história de quatro minutos", explica Cleomir Alencar.
Outra narrativa criada pelo grupo, ainda nesse formato em miniatura, é o espetáculo "Marítimas". "Esta montagem veio logo em seguida, e tem a mesma estrutura. Temos um palco, uma caixa que a gente criou e carregamos pela cidade de bicicleta, só quando vamos para lugares mais distantes que vamos de carro", ressalto o diretor.
O grupo vai mostrar diversos procedimentos na oficina, desde o trabalho com a luz até os diversos formatos do teatro de sombras, e conhecimentos teóricos como noção de distância para se trabalhar a sombra.
Diversificação
O teatro de sombra pode ser feito em tamanho natural, usando atores vivos e em formatos menores, este se utilizando de objetos. "Vamos passar por esse teatro em tamanho natural e vamos conduzir para fazer os participantes construírem pequenas narrativas e assim apostamos no formato em miniatura", ressalta Cleomir Alencar.
Disseminar a miniaturização desse teatro é inicialmente para facilitar o transporte e a realização do mesmo. Quanto maior a tela, ou pano utilizado no espetáculo, maiores e mais potentes terão que ser os equipamentos de iluminação. O tamanho do local em que o espetáculo deverá acontecer, já que é a distância entre luz e o pano que proporciona a formação da silhueta, ou forma, também deve ser grande.
Muitos teatros não tem o espaço suficiente para receber apresentações com telas de 2 a 4 metros. Por isso o foco do Ânima é fazer e ensinar esse teatro em formado portátil, possível de ser feito com equipamentos mais em conta.
Como princípio, o teatro de sombras tem que saber o que irá projetar, ver a fonte de luz, a intensidade desta e a distância dessa fonte de energia. É a distância da luz que vai ditar o tamanho da projeção.
"Eu uso no teatro em miniatura uma iluminação de 12 volts, no "Marítimas" eu uso lanternas, no Circo Pirilampo uso refletor de farol de carro e coloco o objeto na frente das telas. São duas narrativas feitas de maneiras diferentes. Você pode ter uma silhueta de um papel, dependendo de onde você colocar a sua fonte de luz a sombra muda seu aspecto e isso já muda a narrativa", ressalta o diretor.
"Os exercícios que serão propostos na oficina da Vilas das Artes será o manuseio do escuro e do silêncio para a construção de narrativa e ao final queremos ver algumas histórias que irão surgir dos alunos", finaliza.
Mais informações:
Oficina "Teatro de Sombras", na Vila das Artes ( de 9 a 17 de julho). Inscrições até 5 de julho, pelo site: www.viladasartesfortaleza.com.br. Gratuito. Contato: (85) 3252.1444
Diário do Nordeste
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