Pular para o conteúdo principal

Espetáculo de conclusão do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), estreia nesta sexta-feira, 24, trazendo à tona as feridas dos corpos negros periféricos

Foto Tim Oliveira/ Divulgação
A dor parece ter cor e endereço certos. Nos noticiários, principalmente, "a carne mais barata do mercado" estampa o sofrimento proveniente do tráfico de drogas, chacinas e balas perdidas em comunidades menos abastecidas que não têm vez nos cartões-postais das grandes metrópoles. A dor parece ter apenas a pele - preta, em sua grande maioria - como escudo. Inútil. Alguém aqui tem a noção do que é perder um filho? Quem são essas mães que ficam e esses tais jovens que se vão?
A dor dos corpos negros e periféricos tem urgências que não podem ser adiadas. E foram essas urgências que, em meio a encontros sistemáticos, serviram de norte para a turma noite 2017/2018 do Curso Princípios Básicos de Teatro. "A turma toda chegou ao consenso de que o tema do nosso espetáculo de conclusão seria a violência sistêmica. Mas como falar nisso? Como vamos focar? Chegamos, então, à dor da mãe que perde o seu filho", resume Neidinha Castelo Branco, professora do CPBT/noite e diretora de Re-talho. A montagem fará curta temporada de estreia, de sexta a domingo, no palco principal do Theatro José de Alencar.
Em cena, três personagens - Cida, Bárbara e Antônio - protagonizam um apanhado de histórias baseadas em relatos reais. "Falamos da mãe pobre, em sua maioria negra e da periferia, porque seus filhos estão morrendo todo dia, a toda hora. A Cida representa várias mães; a Bárbara seria essa filha que se sente culpada pela morte do irmão. Para isso, conversamos com várias mães, com o Instituto Negra, as mães do Curió (bairro da Grande Messejana que foi palco de chacina, em novembro de 2015, que vitimou 11 pessoas) e as do sistema sócio-educacional", afirma a diretora.
"A primeira urgência que saiu como forte pra gente foi a crítica quanto ao sistema, mas caminhamos por vários pontos até chegarmos a essa dramaturgia. Chegamos a cogitar falar sobre o jovem negro de periferia, se o ponto seria falar da mulher em meio a essa sociedade patriarcal, até que achamos que seria mais potente falar dessas mães que, mesmo perdendo, continuam se revigorando", pontua Paulo W. Lima, 24, formando do CPBT que integra o elenco de Re-talho. Morador da comunidade São Bento, na periferia de Messejana, ele resume sua experiência no curso.
"Já tinha feito outras coisas na área, mas como formação mais longa de um teatro mais técnico e mais elaborado, estou tendo agora com o CPBT. Tem sido uma experiência ímpar porque você sai do lugar do evento para a vivência, que acrescenta a experiência com a arte. O processo também envolve muita técnica, muito corpo e o afeto perpassa do primeiro ao quarto módulo, que é o da montagem. A gente passa a madrugada produzindo, discutindo o figurino", destaca ele que, na montagem, dá vida a mais de um personagem.
Paulo chama a atenção para a própria estética da montagem: "A concepção parte de um teatro épico e da relação com a dialética de Brecht". Neidinha, por sua vez, ressalta a questão das afinidades para Re-talho chegar a um denominador comum. "Assim como em todas as outras turmas, os alunos entram com um modo diferente de ver as coisas. Ficamos entre vários temas porque todos são muito fortes e inseridos no contexto atual. Falamos de um jeito muito claro, utilizando as metáforas".
Espetáculo Re-talho: Temporada de estreia
Quando: sexta-feira, 24, às 19 horas; sábado, 25, e domingo, 26, às 17h e 19 horas
Onde: palco principal do Theatro José de Alencar (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Quanto: R$ 10 (inteira)
Info: (85) 3101 2583
O Povo

Comentários