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Natércia Rocha lança livro sobre Juarez Barroso

Por Eduardo Pontin - Especial para o Caderno 3
Juarez Barroso
Juarez Barroso, cujos trabalhos presentes no livro organizado por Natercia Rocha mostram-se autênticos manifestos
O tão sonhado livro sobre samba e choro que o escritor cearense Juarez Barroso não escreveu, mas foi construindo ao longo de sua atuação na imprensa carioca, finalmente ganha forma e é publicado, pouco mais de 40 anos após a sua morte.
Reunindo 30 textos sobre música popular brasileira, escritos entre 1960-1976 para periódicos do Rio de Janeiro, "Juarez Barroso: O Poeta da Crônica-Canção" chega às livrarias com a mesma originalidade e pujança de quando os seus textos foram feitos. Em Fortaleza, a obra está disponível na Livraria Lamarca (Benfica).
Conhecido por seu premiado livro de contos "Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal" (1969), Barroso também foi um apaixonado pesquisador de nossa música popular, porém nunca chegou a publicar em vida uma obra sobre o assunto.
No presente livro, organizado pela jornalista Natercia Rocha e publicado pela Editora Substânsia, os trabalhos de Juarez se mostram autênticos manifestos. O ensaio "A propósito de Samba" (1960), por exemplo, é o texto inaugural de uma nova geração de pensadores da música popular brasileira.
Foi fortemente influenciado por este ensaio o expoente máximo dessa geração, José Ramos Tinhorão, à época autor inédito, hoje com 30 livros publicados. Essa geração se pautaria pela sustentação sociológica em detrimento à simples documentação de dados, sem qualquer tipo de análise crítica.
Por ser um escritor ficcionista, Juarez criava personagens por ofício, por isso analisou como um esteta os personagens de sambas em "Geraldo Pereira: Professor de Samba - Professor de Vida - Professor de Amor".
Neste ensaio, Barroso eleva a criação popular feita na esquina da Praça Tiradentes, no Rio, à condição literária e examina detalhadamente as letras de sambas como "Até hoje não voltou" e "Brigaram pra valer".
No último ano de sua vida, Juarez tornou-se ele mesmo um personagem atuante da música popular brasileira. Foi assim que, em meados de 1975, fundou o Clube do Choro, junto a grandes chorões como Altamiro Carrilho, César Faria, Dino e Copinha. O Clube do Choro visava a revitalização desse gênero através de apresentações fixas. As ideias ali disseminadas até hoje ressoam nos jovens movimentos que persistem com esse ritmo. Esses saudosos encontros estão registrados no capítulo "Estudos de Choro".
Também foi Juarez fundador do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, idealizado pelo sambista Candeia, em 1975. Barroso documentou a reunião fundadora dessa agremiação, com o ensaio "Quilombos - Nasce uma nova escola de samba".
Os ideais pregados pela Quilombo persistem hoje por meio do movimento de samba de terreiro que nasceu em São Paulo e começa a se espalhar por todo o País, com relevo aos agrupamentos paulistas Glória ao Samba, Terreiro de Mauá e Terra Brasileira. Juarez Barroso, Edigar de Alencar e Nirez são os maiores pesquisadores cearenses da música popular brasileira. A parte que cabe a Juarez está comprovada nesse ótimo livro, um convite à história de nossa música, por quem a viveu intensamente.
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Diário do Nordeste

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