Pular para o conteúdo principal

Coral Vozes de Outono celebra 25 anos de atividades com espetáculo multicultural no TJA

FORMADO por 35 senhoras de 66 a 80 anos sob a regência da maestrina Célia Cortez, o Vozes de Outono celebra 25 anos de atividades com um musical que passeia por oito países através de canções e coreografias
FORMADO por 35 senhoras de 66 a 80 anos sob a regência da maestrina Célia Cortez, o Vozes de Outono celebra 25 anos de atividades com um musical que passeia por oito países através de canções e coreografias
Mazé Figueiredo nasceu artista. "Artista se constrói. Artista se lapida. Mas você tem que nascer com a alma de artista", explica. Desde criança, ela lembra, era a mais "apresentada" da turma. Gostava de subir ao palco, de se transfigurar em outra pessoa, de encontrar outros ecos para sua voz. Durante a infância e a adolescência - vividas em Mossoró (RN) - ensaiava algumas iniciativas tímidas com artistas locais. Até participar de um festival de teatro universitário em Natal, capital do estado. Aquilo foi, nas palavras dela, um estrondo. Ganhou prêmios pela montagem e pela atuação e, como um regalo raro, foi convidada a fazer um curso de atuação em Nice, na França. Seria o começo de uma carreira de sucesso na televisão e no teatro brasileiro. Seria. "Mas, não, mamãe não queria que eu fosse puta...", explica, lembrando de todos os estigmas que as artistas sofriam em décadas passadas. É como canta Aíla Magalhães: "Todo mundo nasce artista, depois vem a repressão". Mazé ficou no Brasil para assumir uma vaga no Banco do Nordeste - emprego que lhe deu marido, filhos, sustento e a vinda para Fortaleza. 
Aqui fez boas amizades, conheceu os teatros novos e antigos, esperou a vida passar na burocracia do banco. "Fiz por 30 anos aquilo que vocês quiseram. Agora vou fazer aquilo que eu quero. Eu vou voltar para o teatro", repete a frase dita à família logo após a aposentadoria. Foi nesse momento que o Coral Vozes de Outono entrou na vida de Mazé Figueiredo. Na tentativa de se inserir no universo das artes, ela foi procurar projetos nos equipamentos culturais e institutos da Cidade. Pouca coisa encontrou. "Aqui não tem nada pra velho, eu percebi", diz a atriz. Nessa busca, achou o coral Vozes de Outono, formado por dezenas de mulheres que cantavam, dançavam e interpretavam. Nesta quarta-feira, 24, o grupo celebra os 25 anos de atividades apresentando o espetáculo Cantos do Mundo no Theatro José de Alencar (TJA). A montagem faz um passeio por oito países e suas culturas.
Será a última vez que Mazé subirá ao palco com o coral. Como todos os ciclos que encerrou na vida, ela decidiu que esse também chegou ao fim. "Completei 80 anos e é hora de parar", sentencia. A decisão - que já havia sido tomada - foi agravada pela descoberta de dois aneurismas. Mazé fazia exames de rotina quando se deparou com uma mancha, a mancha virou um problema e será necessária uma intervenção cirúrgica. "A senhora vá para casa. A senhora tem uma bomba na cabeça. Fale com a sua família, porque a senhora tem que abrir a sua cabeça já, já", diz a atriz, reproduzindo a fala asséptica, insensível e cheia de "senhora" do primeiro médico consultado. Das idas e vindas aos consultórios, tomou uma decisão: "eu só posso morrer depois do dia 24". O motivo, obviamente, é o espetáculo comemorativo pelo aniversário do Vozes de Outono. 
À frente da produção, que reúne 35 coralistas, 6 dançarinas, 7 atrizes e 2 instrumentistas, Mazé quer mostrar todo o potencial que as mulheres do grupo têm. No palco do TJA, o coral vai passear pelas culturas de Portugal, da Espanha, da Itália, dos Estados Unidos, da Alemanha, do México, da França e do Brasil. "Como eu gosto de teatro, sempre junto o canto, a interpretação e a dança. Fortaleza não tem uma cultura de coral. Mas, se eu coloco um musical, dizendo que são 50 mulheres no palco dançando, cantando e interpretando a vida e acreditando nos sonhos - realizando sonhos! - aí as pessoas vão. Eu quero é lotar o teatro", vibra Mazé.
Para o futuro, ela diz, planeja continuar tendo a arte por perto e faz planos para participar de uma banda. O toque dos instrumentos exige menos do corpo, acredita. "Já tenho 80 anos, subi em muitos palcos, fiz muita arte. Mas já quebrei as duas pernas também, os ossos não são os mesmos", justifica. Com a vida em suspenso, ela explica que foi necessário treinar uma companheira de grupo para assumir seu papel caso algo inesperado aconteça antes deste 24 de outubro. "O espetáculo não pode parar", enfatiza Mazé Figueiredo.
Cantos do Mundo
Coral Vozes de Outono
Quando: quarta-feira, 24, às 19 horas
Onde: Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Entrada gratuita
Livro
Como parte do legado deixado para o mundo das artes, Mazé Figueiredo resolveu publicar um livro contando sua trajetória nos palcos e nas telas. Mazé Entre Sonhos e Memórias acompanha a trajetória da artista desde a infância, em Mossoró (RN), até a mudança para Fortaleza e o encontro com o grupo Vozes de Outono.
Amanhã, as cem primeiras pessoas que entrarem no Theatro José de Alencar, para assistir ao espetáculo Cantos do Mundo, vão receber um exemplar do livro gratuitamente. Escrito pelo ator e dramaturgo Antônio Marcelo, a publicação reúne fotografias, documentos, depoimentos, críticas especializadas, registros de viagens e prêmios recebidos por Mazé. O livro, impresso e lançado em Fortaleza, é um documento histórico que acompanha as artes cearenses a partir da trajetória de Mazé.
O Povo

Comentários