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Livros raros são descobertos em acervo de biblioteca do Pará

Pedro Alves e Pepita Ortega, Especial para o Estado

No Centro Histórico de Belém, as estantes da Biblioteca Fran Paxeco abrigam, há mais de 150 anos, cerca de 40 mil livros de séculos passados. A importância de alguns títulos, no entanto, permanece desconhecida até hoje. Na última semana, obras valiosas foram descobertas no acervo da biblioteca, entre elas um título que conta com menos de dez exemplares em todo o mundo. 
 
Biblioteca
 
Ethel Soares realiza a catalogação e restauração das obras centenárias da Biblioteca Fran Paxeco, em Belém Foto: Tarso Sarraf/Estadão Conteúdo
O volume de Chronographia y Repertorio de los Tiempos da biblioteca é o segundo a ser encontrado fora da Espanha, aponta a especialista em preservação de patrimônio Ethel Soares. Existem só outros sete exemplares no mundo. Publicado em 1585, o livro do astrônomo espanhol Francisco Vicente de Tornamira trata de temas como a criação do universo e o movimento dos planetas e as constelações.
 
Outro importante título encontrado é uma edição de Materia Medica, do médico italiano Pietro Andrea Mattiol, que conta com comentários sobre botânica. Segundo Ethel, o volume da biblioteca portuguesa é um dos mais completos.
A biblioteca descobriu ainda Manuale Processionum, obra de 1733 que contém as canções da Ordem dos Agostinianos Descalços. “O livro chama a atenção não por critério de ineditismo, mas por sua presença em um acervo brasileiro”, aponta Fernando Lacerda, pesquisador da Universidade Federal do Pará. Essas descobertas são fruto de um trabalho de recuperação e catalogação capitaneado por Ethel. Há cerca de três anos, ela tenta reorganizar as obras que compõem o acervo.
A Biblioteca Fran Paxeco nasceu em 1867, com a criação do Grêmio Literário Português, em Belém. O espaço serviria como ponto de confraternização e troca de ideias para imigrantes que vieram de Portugal para se estabelecer no Brasil. Inicialmente, o espaço era um gabinete de leitura para os membros do grêmio. Hoje, a visitação é aberta. O nome homenageia o escritor português e patrono do gabinete de leitura na capital do Pará, Manuel Francisco Pacheco, mais conhecido como Fran Paxeco.
Entre os cerca de 400 livros raros abrigados no local, é possível encontrar a primeira edição ilustrada de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, lançada em 1723. O local também possui todos os 1.165 volumes da Coleção Camiliana, além das obras completas de Maquiavel.
“Há obras muito importantes que não se encontram em outras bibliotecas do País e, às vezes, nem fora do país, mas que estão aqui”, defende a doutora em teoria e história literário Valéria Augusti.
O esforço para a restauração do acervo é árduo, mas a equipe é pequena. Segundo Ethel, apenas ela e uma bibliotecária são as responsáveis pela catalogação dos obras. Existe um inventário dos livros da biblioteca, mas ele está incompleto. 
“É um trabalho minucioso. Além de colocar o nome do livro, temos que fazer uma resenha. Em alguns casos, os textos estão em latim, então uma tradução é necessária. O manuseio do livro também tem que ser muito cuidadoso”, diz.
Para conservar o acervo, a biblioteca precisa de reformas e melhorias, como climatização e elevadores, aponta Ethel. Também é necessário contratar mais pessoas para catalogação, restauração e digitalização. O plano esbarra na falta de financiamento. A biblioteca é mantida pelo Grêmio Literário e Recreativo Português de Belém, mas busca outras fontes de receita. Um projeto foi aprovado pela Lei Rouanet, mas não captou recursos. 
Em junho, a instituição vendeu cópias do livro Arte de Cosinha para levantar recursos. Publicada em 1876, a obra traz receitas originais do cozinheiro real João da Matta. “A gente agora está começando a comprar os equipamentos. É quase a conta-gotas, mas a gente vai fazendo”, diz Ethel.

Estadão Conteúdo

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