Pular para o conteúdo principal

Uma poesia aí, cidadão?

Podem escolher, à vontade
pixabay
Desculpem-me se os incomodo, sei muito bem que não deveria, mas sabem como é: a situação não está nada fácil.
***
DE FLORES
Quem sou eu
poeta de safra modesta
para entender de flores?

Delas não sei nada
mas essas que vejo nos jardins
não parecem flores necessitadas
de metáforas rebuscadas
de rimas em cores e primores
para ser as flores
que são

Eu as chamarei
de flores só
porque bem menos
que os adjetivos
os substantivos
estão sujeitos ao pó.

MORTE
Talvez nem seja ruim

Quem sabe seja assim
como uma tela à nossa frente
apagando-se lentamente
e ao fundo the end
ou simplesmente fim.

FORASTEIRO
Com esta cara feia
de inadimplente
esta meia furada
esta calça rasgada
este tênis indecente
o último lugar
em que vocês me verão
causar no verão
será a ilha de caras.

O AMOR NA CAMA
Do porão
úmido
abafado
sobem as lamentações
os brados
as imprecações
dos condenados

O Amor acorda
aborrecido
estremunhado
e lembra
ter esquecido
de ontem à noite
levar-lhes a ração

Boceja
se coça
fecha os olhos
e vira de lado.

PAISAGEM
Acordadas pelo sol
as árvores esfregam os olhos
e sacodem o orvalho
para arvorecer.

CEMITÉRIO
Onde estão enterrados
os mortos do Amor
certas noites se ouve
um murmúrio
um rumor

A vigilância
chamada
vai ver
e não é nada

Só uma flor
falando com outra flor.

MEZZO A MEZZO
Na rede ele postou:
se ela fosse mesmo
como dizia
loira bela esguia
ele a receberia

Era misantropo
ma non troppo.

TÍTULOS
Os títulos pelos quais ansiou
não lhe deram

Concederam-lhe um
que não pleiteou

És cruel
lhe disseram

Ele aceitou.

BEETHOVEN
Por mais que eu releve
e minimize
sinto ainda no peito
o despeito que me dava
anos atrás
o caminhão do gás
quando não tocava para você
o que tocava
pour Elise.

Por Estadão Conteúdo

Comentários