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O maior mitômano do mundo

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Trump colocou a Europa contra a parede, antes mesmo de negociar ou combinar algo como se faz normalmente com aliados.
Resta saber o quanto Donald Trump irá neste seu caminho tortuoso para impor a sua vontade, conflitando com todos os argumentos sérios de uma democracia.
Resta saber o quanto Donald Trump irá neste seu caminho tortuoso para impor a sua vontade, conflitando com todos os argumentos sérios de uma democracia. (Reuters/Joshua Roberts)
Por Lev Chaim*

Há questão de dias, o presidente norte-americano Donald Trump disse que suas tropas iam deixar a Síria e ele iria soltar os guerrilheiros do Estado Islâmico, caso os países europeus não trouxessem de volta os seus compatriotas que lá foram lutar, um dia. Em outras palavras, colocou a Europa contra a parede, antes mesmo de negociar ou combinar algo como se faz normalmente com aliados. Acho que o senhor Trump não conhece esta palavra. Mas hoje, leio nos jornais holandeses que ele ordenou ao seu ministro do exterior, para não dar permissão para que uma jovem norte¬-americana do Estado de Alabama, Hoda Muthana,  retornasse ao país, depois de ter ido lutar pelo Estado Islâmico há quatro anos, quando só tinha vinte anos de idade. Ou seja: mitômano de primeira classe, que exige que os europeus façam o que ele manda, mas não observem o que ele faz.  

Mas o meu assunto, hoje, é o ‘estado de emergência’ declarado por Trump, medida esta criada pelo Congresso em 1976, para ser usada quando o país estivesse sendo submetido a algum tipo drástico de ameaça vinda do exterior. Que fique claro que, neste assunto, não é o caso. Trump, para não fechar novamente o governo federal pelo impasse entre o executivo e o legislativo, declarou o ‘estado de emergência’. Assim, ele pode decidir sem tem que pedir o apoio da Câmara dos Deputados, de maioria democrata e que está contra esse dispendioso muro entre o México e os Estados Unidos, cujos custos estão avaliados entre 15 e 67 bilhões de dólares. Ninguém sabe ao certo.

Ao contrário de outros presidentes, que fizeram o mesmo, Trump só o fez para impor a sua própria vontade e cumprir a promessa de campanha de construção desse famigerado muro. Com isto, ele inicia duas enormes guerras em diferentes frentes: perante o Congresso Norte-americano e os tribunais do país, pois essa medida, ‘estado de emergência’, só foi criada para dar mais poder ao presidente quando vítima de uma ameaça externa concreta. Esse não é o caso, segundo vários analistas europeus e norte-americanos.

Os fatos: o total de pessoas que tentam atravessar aquela fronteira do México com os Estados Unidos, no momento, está em seu número mais baixo de toda a história. Ele não pode usar esse muro como um argumento de extrema necessidade para se evitar a invasão estrangeira. E tem mais: não só será uma difícil batalha no tribunal, como também o próprio Congresso poderá desfazer este ‘estado de emergência’ declarado pelo presidente, caso tenha uma maioria de 2/3 de parlamentares. Para isto, muitos republicanos teriam que ir contra uma decisão de Trump, o que até agora não ocorreu, mas nada é impossível. Proeminentes republicanos, como Marco Rubio e Mitt Romney, já criticaram abertamente esta tentativa de Trump de declarar o ‘estados de emergência’ para burlar o Congresso e tomar decisões ao bel prazer, como é de seu feitio.

E não é só isto, dizem muitos analistas. Muitos republicanos estão com medo de abrir um precedente para Trump, no campo de um ‘estado de emergência’ para construir o seu muro prometido durante a campanha, e de que, no futuro, um presidente democrata possa fazer o mesmo, para pedir um desarmamento civil da população do país, coisa que, até o momento, não sucedeu. Além do que, se Trump conseguir a verba para o muro, desviando dinheiro de outros projetos prioritários do país, estará também enfrentando a raiva de muitos lobistas profissionais, que lutaram para a aprovação de seus projetos no Congresso.

Agora, resta saber o quanto Donald Trump irá neste seu caminho tortuoso para impor a sua vontade, conflitando com todos os argumentos sérios de uma democracia, que é baseada num governo, num congresso e na Justiça. Portanto, meus caros leitores, esta medida de Trump, de declarar um ‘estado de emergência’ ainda não é corrida vencida, pois, ele irá enfrentar oposição de todos os lados possíveis. E tem mais: se Trump conseguir impor a sua vontade à força neste assunto, a liderança dos Estados Unidos no comando do mundo livre estará totalmente em perigo, pois não será mais um exemplo de democracia válida para quem quer que seja, nem para seus aliados e nem para seus inimigos. É mais um Putin da vida, que tenta impor a sua vontade sobre a nação.

* Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras, para o Domtotal.

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