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Festival de Fotografia Foto em Pauta: imagens da tragédia de Brumadinho serão exibidas em Tiradentes

Festival de Fotografia de Tiradentes Foto em Pauta 2019 apresenta trabalhos de fotógrafos do Sul do país e abre espaço para imagens sobre a tragédia de Brumadinho.


Vento Sul: Selene Sanmartin.
Vento Sul: Selene Sanmartin.
Por Thiago Ventura
Repórter DomTotal

Em sua nona edição, o Festival de Fotografia de Tiradentes Foto em Pauta 2019 não poderia deixar de abordar a tragédia de Brumadinho, crime ambiental ocorrido a cerca de 150 quilômetros da cidade histórica mineira. O drama humano e ambiental é objeto de uma das exposições do evento, além da projeção de fotos 'Testemunhos para o Não Esquecimento'.

Clique na foto acima e confira mais fotos! 

O festival tem como destaques uma exposição com trabalhos de fotógrafos dos três estados da Região Sul do Brasil e uma mostra com imagens inspiradas em sonhos e devaneios. A programação é gratuita, mas o festival também oferece curso e workshops pagos.

Outro ponto chave do Foto em Pauta 2019 é a mostra 'Ameríndios do Brasil', do fotógrafo e documentarista Renato Soares. O artista participou do Congresso Internacional de Direito Ambiental 2018, realizado pela Dom Helder Escola de Direito. O trabalho do fotógrafo consiste na documentação sistemática da rica diversidade étnica brasileira neste início de século 21.

Júlia Pontes
Júlia Pontes
De acordo com o fotógrafo Eugênio Sávio, realizador do Foto em Pauta e do Festival de Fotografia de Tiradentes, esta nona edição contempla um grande espectro da produção brasileira, exibindo trabalhos realizados de Sul a Norte do país. "A expectativa é muito boa, principalmente por ser este ano, um festival tão nacional", aponta.

Sávio destaca a projeção de fotos sobre a tragédia de Brumadinho como uma forma de manter ativa a indignação geral ante a mais um crime ambiental ocorrido em mineração. "Precisamos trazer essas imagens para o festival. Não podemos esquecer," Numa convocatória, realizada poucos dias antes do início do evento, fotógrafos podem enviar até dez imagens de Brumadinho para uma exibição ao ar livre. "Num momento em que a comunicação contemporânea se dá pela forma imagética, a fotografia se afirma como um poderoso instrumento de transformação humana e social", aponta o edital.

Nessa mesma linha, a mostra 'Ó Minas Gerais - Paisagens transitórias', da fotógrafa Júlia Pontes, exibe uma coleção de imagens aéreas, que mostram os estragos provocados pela mineração. "A real extensão e devastação humana, social e ambiental causada pela mineração, está escondida entre as montanhas de Minas, não sendo visíveis à maioria da população. Quase um século após o surgimento das grandes mineradoras, a intensa exploração resultou em uma paisagem radicalmente alterada - e estéril", descreve a artista. As imagens são exibidas na Capela de São João Evangelista.

Ísis Medeiros
Ísis Medeiros

Em evento paralelo à programação oficial, a Casa Fototech promove bate-papo e exibe fotos de Isis Medeiros, fotógrafa que colabora com vários veículos da mídia independente e movimentos sociais. A artista registrou as tragédias de Mariana e Brumadinho e teve obras transformadas em outras plataformas, como grafites e lambe-lambes. No último caso, de Brumadinho, ela resolveu privilegiar em sua cobertura a empresa que cometeu o crime ambiental.
“Cresci muito. Foi talvez a cobertura mais difícil melhor que já fiz. Pela experiência de Mariana, eu já sabia quem eram os envolvidos, já sabia qual era o modus operandi da empresa. Assim, resolvi evidenciar os responsáveis, em vez de ressaltar somente as vítimas e os bombeiros, como forma de denunciar o que ocorreu”, destaca.


Renato Soares
Renato Soares
Atuando na mídia independente e colaborando para veículos do Brasil e estrangeiros, Ísis busca uma nova narrativa, longe da visão comercial dos veículos da imprensa tradicional. “Me surpreendi bastante com a repercussão que despertou interesse até mesmo de jornais nacionais. Acredito que a forma como cada fotógrafo lê aquilo influencia o resultado. A fotografia tem que extrapolar a si mesma e fugir do modelo padrão”, defende.


Vento e Fragmentos do Onírico
A nona edição do Festival de Fotografia de Tiradentes Foto em Pauta 2019 exibe trabalhos de 31 artistas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Trata-se da mostra 'Vento Sul', sob curadoria dos fotógrafos João Castilho e Pedro David. A dupla percorreu os estados de carro e analisou a produção recente de mais de 100 autores. Foi a segunda expedição fora do eixo sudeste - em 2018, o festival mostrou o trabalho de artistas do Centro-Oeste.

João Castilho descreve a metodologia de trabalho: convocatória de trabalhos, ciclo de palestras, encontro com os artistas e leitura de portfólio. A seleção não preferenciou a qualidade técnica dos trabalhos e, sim, um eixo comum para a exposição, dando espaço tanto a artistas iniciantes como consagrados, explicitando o caráter híbrido da fotografia na arte contemporânea.

"Os trabalhos têm diversidade muito grande em termos de tendência, tema e abordagem; um material diverso, que não tem nenhum filtro. A única coisa que se pede são trabalhos autorais e experimentais", aponta Cartilho. De acordo com o curador, a mostra pode ser dividida em três eixos: confluências entre pintura e fotografia, trabalhos documentais que vão atrás da intimidade do outro e paisagens típicas do Sul.
O curador ainda destaca a exibição de obras que promovem a transcendência da fotografia. “A foto vai para o vídeo, para o objeto. Na mostra, temos até esculturas. É uma das características da contemporaneidade, pois a fotografia dos novos tempos é muito híbrida. Foto e vídeo são feitos no mesmo aparelho, resultando em artes-irmãs”, ressalta.

André SanchesAndré Sanches
A exposição "Vento Sul" é exibida em dois espaços em Tiradentes a partir desta quarta-feira (27), além de uma apresentação do projeto pelos curadores no Centro Cultural Sesiminas Yves Alves.

Outra mostra de destaque no Foto em Pauta 2019 é "Fragmentos do Onírico", que bateu recorde de inscrições nos nove anos de festival. Foram 714 autores que enviaram um total de 3151 fotografias, sendo procedentes de 20 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, e nove países. Sob a curadoria de Madu Dorella, Gabriela Sá e Anna Karina Bartolomeu, foram selecionados 42 autores, incluindo um do Equador.

Segundo Anna Karina, o trabalho de seleção foi feito "às cegas", para não favorecer nenhum artista e de modo a escolher imagens que melhor traduzissem o tema proposto. “Essa mostra é uma oportunidade muito democrática, que permite o acesso tanto de iniciantes como de fotógrafos já experientes. Foi desafiador, uma vez que a proposta é que essas imagens possam se comunicar com o público através do inconsciente, sonhos, pesadelos e devaneios”.

Para a curadora, a mostra tem a possibilidade gerar inúmeras reflexões no público. “As fotos exibidas no onírico são imagens muito mais abertas ao trabalho da imaginação. Há o ditado que ‘uma imagem vale mais que mil palavras’. Nesse caso, essa ideia transcende, pois cada foto comporta muito mais leituras, através da conexão com o inconsciente do espectador”, explica.


SERVIÇO
9º Festival de Fotografia de Tiradentes
Data: 27 a 31 de março de 2019
Locais: Centro Cultural Yves Alves, Rua Direita, nº168 - Tiradentes/MG
Inscrições para as oficinas: www.fotoempauta.com.br/festival2019/workshop/
Informações sobre o festival: www.fotoempauta.com.br/festival2019


Redação DomTotal

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