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Primeira edição do Ceará Design Week leva panorama sobre criatividade para o Museu da Indústria


Cabem muitas possibilidades dentro do design. Da indústria ao artesanato, dos móveis de uma sala ao cartaz em uma parede. Na concepção de joia até a escolha do formato de uma geladeira, ele pode estar presente. Passa pela moda, a arquitetura, a comunicação. Às vezes, pode custar caro, mas também tem como ser acessível ao bolso do consumidor.
Desmistificar o design e explorar essa temática para o público cearense são alguns dos objetivos da primeira edição do Ceará Design Week, que recebe visitantes desde ontem (27) no Museu da Indústria do Ceará, no Centro de Fortaleza. O evento prossegue até domingo (31). A programação se estende paralelamente por outros 15 pontos da cidade, em lojas, galerias, ateliês e instituições de ensino.
"Uma das nossas vontades é fazer com que a indústria e o mercado percebam a importância do design como peça influente para todo negócio", explica Marcos Braga, um dos curadores do evento. Treze nomes de referência local e nacional apresentam palestras que destacam a experiência com o segmento e localizam as discussões mais atuais sobre o tema.
Ceará Design Week
A proposta do evento é incentivar a produção cearense e desmistificar o designFOTO: JL ROSA
Um desses assuntos é o design afetivo - uma provocação que o consultor criativo Jackson Araújo faz para si há pelo menos seis anos. O cearense radicado em São Paulo entende que o design é uma atividade humana, produzido por pessoas e para elas. Por essa razão, Jackson provoca reflexões sobre sustentabilidade, inclusão e respeito às pessoas envolvidas no processo de construção das peças.
Para o consultor, por exemplo, as histórias de quem participou das etapas de concepção e produção dos produtos devem ser valorizadas e incluídas na trama que culmina num objeto de design.
"O grande desafio a que me proponho é incentivar essa nova geração a entender o design como desobediência. É não utilizar o design para o óbvio. Ninguém precisa de mais uma cadeira. As pessoas precisam de objetos que, para além do desejo, têm um valor que o contemple", explica, dando como exemplo a marca cearense de bolsas artesanais Catarina Mina."As pessoas precisam de objetos que, para além do desejo, têm um valor que o contemple" - Jackson Araújo, consultor criativo
"Essas mulheres que tinham o crochê como atividade de horas vagas e tiveram uma forma de empreender. Elas passaram a ser donas de casa e viraram as donas da casa. O produto delas não é apenas uma bolsa, é um passaporte para localizar essas mulheres no contexto em que elas vivem", considera Jackson. Além da palestra, o consultor lança neste sábado (30) o livro "Economia Afetiva: aprendizado para o futuro", em que reparte a experiência com o projeto "Trama Afetiva", da Fundação Hermann Hering, ao propor novas funcionalidades para os resíduos têxteis.
Coletividade
As vantagens e os desafios de empreender no ramo do design também rendem discussão na semana. O evento abre espaço para o designer Rafael Studart falar sobre a experiência com o coletivo Objeto Comum, que reúne 12 marcas de design de produto. O grupo se organizou para fortalecer os negócios individuais e garantir ainda mais presença no mercado.
"Estar no coletivo nos dá uma série de forças. Faz com que a gente não precise negociar com fornecedores sozinho, por exemplo. A gente consegue dividir tarefas e estar em mais de um lugar ao mesmo tempo", explica Rafael.
Rafael Studart
O designer Rafael Studart fala sobre a experiência com o coletivo Objeto Comum
Ele classifica a experiência como uma "minidemocracia" em que o aprendizado é fazer prevalecer a opinião do grupo, sempre respeitando as individualidades e a expressão de cada um dos profissionais envolvidos.
O grupo se uniu depois de encontrar feiras especializadas. A aproximação foi algo natural, como descreve Rafael, e acabou contribuindo com o trabalho de todos. "A riqueza do coletivo está em somar pessoas que são diferentes. Se fosse todo mundo igual, ninguém ia ter tanta qualidade. Ter pessoas que trabalham em vários setores faz a gente ter variedade de produtos e potencialidades", considera o Rafael Studart.
Materialidade
As discussões atinadas nas palestras ganham ainda mais materialidade com a possibilidade de ver o panorama sobre o design produzido no Ceará em exposição e também em uma intervenção promovida pelo curso de Design de Moda da Universidade de Fortaleza (Unifor).
Hoje, os estudantes vão realizar uma ação de 40 minutos nos corredores do Museu da Indústria, apresentando 15 looks preparados a partir dos seguintes temas: Roma Antiga, As Vanguardas dos anos 60 no Brasil, Amazônia e Essência/Terceira idade.
Ceará Design Week
A moda é um dos segmentos do design valorizados na programação, que conta com desfile com a produção de estudantes da UniforFOTO: ARES SOARES
Os visitantes poderão ainda acompanhar o cenário do design cearense nos quatro módulos da exposição que integra o evento. Com a proposta de dar ênfase ao design aplicado em diversas formas, a mostra foi dividida nos seguintes núcleos: "Design de Produto", "Inventividade no Design", "Design Inspirado - Carnaúba" e "Design Gráfico".
No primeiro deles, a exposição traz um apanhado da produção de profissionais cearenses que tiveram seus produtos consolidados no mercado. São objetos, utensílios e máquinas que foram replicados em escala industrial. Também há exemplos de produtos desenvolvidos com a preocupação de minimizar o impacto ambiental negativo, seja na produção ou no uso.
A atividade artesanal ganha visibilidade na segunda sala. Nela, objetos já conhecidos do público e assimilados no cotidiano são valorizados como peças de design. São objetos de baixo custo que foram construídos a partir da criatividade do povo nordestino, que buscava solução para problemas do dia a dia.
Símbolo do Ceará e tão versátil como o próprio design, a carnaúba é celebrada no núcleo "design inspirado". Se inserindo como complemento da exposição "Carnaúba - Árvore da Vida", que está em exibição no museu, a área demonstra como essa espécie pode ser utilizada em produtos fora do trivial, como joias e luminárias, por exemplo.
O último módulo dá destaque ao design gráfico com um conjunto inédito de pôsteres que refletem sobre o papel do design como agente de transformação social.
Ceará Design Week
Tão versátil como o próprio design, a carnaúba é celebrada no núcleo "design inspirado" da exposiçãoFOTO: JL ROSA
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Paralelamente ao evento, a programação se expande em 15 espaços da capital cearense, entre lojas, ateliês, escolas e universidades que acolheram a proposta de discutir design a partir dos seus próprios ambientes.
"São espaços que foram convidados a realizar eventos paralelos relacionados ao tema do Ceará Design Week. É uma tentativa de 'contaminar' a cidade com essas questões, saindo do museu e dando uma movimentação ao que estamos discutindo", afirma Luis Carlos Sabadia, coordenador geral do evento.

A programação envolve palestras, exposições, oficinas, visitas e showrooms. Participam desse espaço os seguintes equipamentos: Loja Ouvidor, Transforme Coworking, Galeria Sem Título Arte, Ateliê Rian Fontenele, Casa Bendita, Ateliê Portamarela, Casa 36, Universidade Federal do Ceará, Museu da Fotografia, Centro Cultural Belchior, Marcenaria Selvagem, Observatório de Fortaleza, Opa! Escola de Design, Imagem Brasil Galeria, Casa Sem Medida, Desconexo Design.

Diário do Nordeste

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