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'Bacurau' leva Brasil a Cannes no momento que tentam 'esconder a cultura brasileira', diz diretor

Referências à política brasileira são inevitáveis, para além das reviravoltas da trama, que incluem um prefeito que tenta comprar votos em troca de medicamentos fora da validade.
'Bacurau', filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
'Bacurau', filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. (Divulgação)

Por Sarah White e Phyllis Xu
CANNES, França - Filmado em uma pequena cidade do sertão nordestino que enfrenta crônicos problemas de abastecimento de água, não faltam comentários sarcásticos sobre a política brasileira em "Bacurau", um dos concorrentes ao prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Cannes.
Mas a brincadeira também é uma história sombria de resistência contra os invasores norte-americanos sedentos por sangue, que combina elementos de fantasia, ficção científica e terror gore.
Como descrito pelo crítico David Ehrlich, do IndieWire , é "um faroeste (igualmente) maravilhoso e desvairado sobre os perigos da modernização desenfreada".
Assim como os habitantes da cidade ficcional de Bacurau, ocasionalmente vistos tomando pílulas alucinógenas misteriosas, os espectadores são convidados a ceder à narrativa, num filme em que alguns indícios são deliberadamente omitidos.
"Nós na verdade gostamos da ideia de dar às pessoas X informações... e de que você precisa trabalhar com essa informação", disse o diretor Kléber Mendonça Filho em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, questionado sobre como explicar as motivações de um grupo de extermínio no filme.
Referências à política brasileira são inevitáveis, para além das reviravoltas da trama, que incluem um prefeito que tenta comprar votos em troca de medicamentos fora da validade.
Mendonça Filho, que esteve pela última vez em Cannes com o filme "Aquarius" e que trabalhou em "Bacurau" com o co-diretor Juliano Dornelles, disse que estava deslumbrado com a escolha do longa para competir no festival em tempos complicados para a indústria cinematográfica do Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro, que enfrentou protestos nesta semana após anunciar contingenciamento na verba para a educação, disse que combateria o "marxismo cultural" e extinguiu o Ministério da Cultura, transferindo as atribuições ao Ministério da Cidadania.
"É apenas maravilhoso como este filme está vendo a luz do dia em um momento em que, na verdade, estão tentando esconder a cultura, a produção cultural brasileira", afirmou.

Reuters

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