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Cinebiografia de Elton John, "Rocketman" resgata carreira e estilo do artista pop

(Foto: David Appleby)
Elton John não foi comum. E sabia disso. Seu figurino o acompanhava como a certeza. Entre as décadas de 1960 e 1970, já nascia rei de um império que ele mesmo criou, sonoro, repleto de sucessos, além de visual, essencialmente extravagante. Quem conta essa história de mais de 50 anos dedicados à musica e a um estilo que - por mais que tivesse a memória de ícones como Elvis Presley -, era próprio do mito musical que Elton John ajudou a dar vida, é a cinebiografia do cantor, Rocketman, dirigida por Dexter Fletcher.
A produção, que chega em um momento em alta de biografias - como a do lendário Queen, Bohemian Rhapsody (2018) -, é estrelada por Taron Egerton, um britânico de 29 anos que faz as vezes de Elton ao lado de Jamie Bell, 33, interpretando o principal colaborador do verdadeiro astro britânico, Bernie Taupin. O figurino? Claro que é destaque. É a máxima de John, e agora, do filme. Desenhado por seu fiel figurinista, o mesmo de Cher, Bob Mackie, Elton John só faltava piscar. "Piscava". Em Rocketman, no entanto, coube ao figurinista Julian Day recriar alguns dos visuais
mais emblemáticos.
"Eu amei o figurino de Yellow Brick Road (1973). E obviamente me inspirei em O Mágico de Oz. Por isso, o terno azul com sapatos de pedras vermelhas feitos com cristais Swarovski. A camisa é feita de tecido prateado, assim como o Homem de Lata, e tem um chapéu de palha assim como o espantalho. O casaco de pele falsa representa o leão", refere-se aos looks, em vídeo divulgado pela Paramount Pictures. Também é de Day os 50 pares de sapatos e óculos (nada mais Elton John do que óculos, principalmente) só para o filme - wow!
A fantasia ganha charme ao retratar justamente as principais influências para o estilo - espalhafatoso - do multiartista, ao longo dos anos. O músico sem medo de levantar a perna para colocá-la sobre o piano enquanto o toca, elétrico, não haveria de passar despercebido, graças à atitude ousada e ao figurino, bombástico, de chapéus, penas e plumas, e tudo mais que cativasse o público.
"A obra suscita grande expectativa na elaboração do figurino, por se tratar de um gênero intitulado 'fantasia épica musical', além de explorar a personalidade de Elton John, o que oferece total liberdade criativa ao figurinista e direção de arte", analisa Marta Sorelia Felix de Castro, professora pesquisadora na área de figurino.
Segundo Marta, como nas demais produções cinematográficas, o figurino tem várias funções. É ele o responsável, por exemplo, por "injetar cor, forma e textura na grande tela, de modo a proporcionar aos expectadores uma experiência estética de apreciação através da narrativa imagética". Na visão da docente, o figurino deve também traduzir o comportamento do protagonista expressando visualmente sua ideologia, anseios e aspirações. Mais uma missão - cumprida - para Julian Day? Sim.
Em sua biografia oficial para o site History, o astro Elton John afirmou que utilizou de recursos visuais "excêntricos" em seus trajes de palco para compensar o fato de não se sentir um símbolo sexual como David Bowie, Marc Bolan ou Freddie Mercury, por isso começou a se vestir de forma engraçada. "Se eu tinha que ficar preso no piano por duas horas, teria que dar um jeito de olharem para mim". "Foi assim que o músico explorou em sua carreira a possibilidade de expressão e performance de palco, aliando autenticidade e inovação à sua personalidade criativa", diz Marta.
O período em que a carreira do astro pop esteve em maior ascensão deu-se entre as décadas de 1960 e 1970, que se caracterizaram como um período de grande ebulição criativa no mundo da moda. "O astro teve a possibilidade de se apropriar dos elementos estéticos vanguardistas para construir um visual marcante e excêntrico, e por sua vez este visual se transformou em moda quando foi propagado para multidões por meio de suas performances musicais", relaciona a professora de figurino.
O filme traz as influências estéticas de toda a efervescência da moda quando sua carreira esteve no ápice, como é um convite ao seu style único de ver e ser visto. Hoje, o John é mais polido, porém não menos extravagante. Ainda em alta, com acessórios e detalhes de uma alfaiataria sob medida. Óculos e brilho continuam sendo seus fortes. Imensidão criativa, para sempre ser lembrado. Rocketman!
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Para ouvir Rocketman

1. The Bitch Is Back (Introduction)
2. I Want Love
3. Saturday Night's Alright (For Fighting)
4. Thank You For All Your Loving
5. Border Song
6. Your Song
7. Amoreena
8. Crocodile Rock
9. Tiny Dancer
10. Take Me To The Pilot
11. Hercules
12. Don't Go Breaking My Heart - interlude
13. Honky Cat
14. Pinball Wizard - Interlude
15. Rocket Man
16. Bennie and the Jets
17. Don't Let The Sun Go Down - Interlude
18. Sorry Seems To Be The Hardest Word 19. Goodbye Yellow Brick Road
19. I'm Still Standing
20. (I'm Gonna) Love Me Again

Mundo Gucci

Se você pescar uma imagem do Sir Elton John na década de 1970, é a cara da Gucci. Por coincidência fashion ou não, a grife comandada por Alessandro Michele floresceu no mesmo período, mais glamouroso do que o anterior, com várias interferências estéticas nos looks. Elton que o diga, ou seria o seu fiel figurinista de uma carreira inteira, o lendário Bob Mackie? O conjunto da obra. O astro britânico era e ainda é isca fácil de inspiração. De Mackie, ganhou a materialização do quase improvável, com peças não menos que extravagantes, cheias de detalhes, a pedido de John, alguma dúvida? Da maison de origem italiana, o casamento - perfeito - não só pela relação próxima do cantor com Michele, mas pela leitura, desde sempre, simbólica da grife, mais uma vez, a cara do pianista, "um chapeleiro maluco" do showbusiness? A parceria foi além rendendo figurino para a turnê de despedida, Farewell Yellow Brick Road (2018), e uma coleção completa da Gucci, também de 2018, com a Guccificação, inclusive, das criações do seu figurinista oficial - vide fotos do artista nos palcos associadas a looks correspondeste na passarela da grife em Milão - um verão ultra color e igualmente lúdico como Elton! "Não apenas o apetite do intérprete por brilho era insaciável, mas também sua necessidade de figurinos, que raramente eram usados mais de uma vez", observou o próprio Mackie, perguntado pela Vogue US, na época.
JULLY LOURENÇO
o povo

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