Pular para o conteúdo principal

LAGOSTA, BEBIDA E ARMAS

Podemos dizer que, nessa semana, a farra está garantida.

O Brasil é o país das desigualdades sociais. 

Com frequência, crianças e adultos morrem nos corredores dos hospitais superlotados, antes mesmo de receberem o devido atendimento; e faltam medicamentos, suprimentos hospitalares e profissionais da saúde, impedindo uma adequada prestação do serviço público.

As escolas públicas vivenciam o drama da violência e, vez por outra, seus alunos são atingidos por balas perdidas nos confrontos entre policiais e traficantes, ou ainda, algum adolescente resolve ir armado para a escola e abre fogo contra os colegas, professores e funcionários.

A violência urbana continua a crescer, bem como os índices de homicídio, acidentes de trânsito, roubos, furtos, agressões contra mulheres, enfim, um rol de crimes que deixa os cidadãos reféns do medo.

Esse é o triste retrato do mundo real, em que vive a maioria da população brasileira.

Num patamar mais acima, quase onírico, entre os Poderes da República, podemos destacar:
Um Judiciário, representado pelo STF, preocupado em comer lagosta e tomar vinho, cujos rótulos devem ser internacionalmente premiados, numa conta que chega à casa de mais de um milhão de reais. Tamanha fartura “se justifica por ser necessária ao bom e relevante funcionamento do STF”. O jurisdicionado que se dane.

O Legislativo, no caso, o do estado do Ceará, aprovou uma lei que libera a venda de bebida alcoólica nos estádios, querendo fazer crer que isso não aumentará a violência em dias de jogos. E de forma contraditória, a exceção ocorrerá nos dias de “clássico-rei”. Claro que, nessa história, alguém está ganhando. E muito. O torcedor que se dane.

O Legislativo Federal, como de praxe, deixou claro seu desinteresse no combate à corrupção, retirando o COAF do Ministério da Justiça e intenta proibir auditor da Receita Federal de investigar crime que não seja de ordem fiscal. Na democracia, quanto mais instituições investigando, maior sua transparência. Portanto, a democracia que se dane.

O Executivo Federal, por sua vez, aprovou um decreto que estende o porte de arma para várias categorias profissionais, num verdadeiro “liberou geral”, sem qualquer preocupação com as consequências de tal ato. O cidadão que se dane.

Entre lagostas, bacalhau, vinhos importados, conhaques envelhecidos, bebidas nos estádios e armas na cintura, vamos acompanhando um festival de imoralidade, indecência e irresponsabilidade.
  

Grecianny Carvalho Cordeiro
Promotora de Justiça

Comentários