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Escritora paraibana ganha prêmio nacional de literatura fantástica

Isabor Quintiere, de 25 anos, ganhou o prêmio Odisseia de Literatura Fantástica na categoria Narrativa Curta Horror por conto publicado no livro 'A Cor Humana'.


Por G1 PB
A escritora paraibana Isabor Quintiere, de 25 anos, ganhou o prêmio Odisseia de Literatura Fantástica na categoria Narrativa Curta Horror. A cerimônia foi realizada no domingo (25) no Centro Cultural Érico Veríssimo em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A paraibana foi a única vencedora do Nordeste no prêmio que avalia trabalhos de escritores de todo o país que contam histórias de fantasia, ficção científica e horror.
O conto vencedor do prêmio, intitulados “Madres” é um dos 10 que compõem o livro de estreia da autora: “A Cor Humana”, publicado em 2018 pela Editora Escaleras. Inspirado pelo realismo fantástico, o “Madres” retrata a vida de uma mãe que lida com um filho que na verdade é uma fera bestial que vai crescendo e se tornando um monstro incontrolável.
"Ele é talvez o mais pesado do livro, que também conta com muitos contos de temática mais leve, porém todos com um único fio condutor que é a simultânea pequeneza e grandeza do ser humano quando de frente para si mesmo e para o universo. É um conto de horror, mas minha intenção não era apresentá-lo como tal: afinal, a história é narrada por uma mãe que deu à luz uma criatura bestial, mas não vê nada de grotesco nessa fera que cresce até atingir proporções monstruosas e se torna cada vez mais incontrolável e sedenta por sangue", explicou.
Ainda de acordo com Isabor Quintiere, a ideia era brincar com com a descrição de uma coisa horrenda, porém vista através dos olhos do carinho materno, "que não se apavora com sua violência ou o rejeita jamais, mesmo conforme a história toma rumos mais graves".
O livro “A Cor Humana” está à venda no site da editora Escaleras e pode ser adquirido por R$ 35. Isabor Quintiere é de João Pessoa, tem formação em letras - inglês pela UFPB. Além de escritora, a jovem trabalha como professora de língua inglesa.
Sobre o primeiro prêmio enquanto escritora, Isabor conta que tem um valor especial, primeiro por se tratar do livro de estreia e justamente na literatura fantástica. Ela relata que foi por meio desse gênero que se descobriu tanto como leitora, quanto como escritora.
"Também penso que, em comparação à grande parte dos demais países latino-americanos, essa categoria é presente com menor força na história da literatura nacional brasileira – enquanto muitos países latinos abraçam seus autores das ramificações dos fantástico e os elevam ao cânone, poucos brasileiros conhecem ou têm acesso às obras dos nossos mestres da fantasia", comenta a escritora destacando que autores como Loyola Brandão ou Murilo Rubião são pouco cultuados no país.
Isabor Quintiere também avalia que falta aos leitores paraibanos buscarem mais obras de escritores locais. Muitas vezes livros de autores paraibanos não avançam além da esfera local ou do nicho dos próprios escritores. Para a escritora, as produções literárias paraibanas dos últimos anos mostram com clareza a riqueza da arte quem tem sido produzida no estado e na região Nordeste.
Isabor Quintiere publicou 'A Cor Humana' em 2018, livro que leva o conto premiado em 2019 — Foto: Arquivo Pessoa/Isabor Quintiere
Isabor Quintiere publicou 'A Cor Humana' em 2018, livro que leva o conto premiado em 2019 — Foto: Arquivo Pessoa/Isabor Quintiere
"Receber um prêmio como esse também permite que se quebre um pouco a ideia, ainda muito presente, de que no Nordeste só se escreve sobre seca, fome, miséria. Escrevemos sobre isso, sim, e nos orgulhamos disso, mas também escrevemos muito mais – escrevemos fantasia, terror, dramas históricos, ficção científica, histórias pulp... Tudo o que se possa imaginar. Então o Nordeste é tudo isso. A literatura do Nordeste é um universo gigante a ser explorado", explicou.
Além de escritora e professora, Isabor também pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Literatura da UFPB. O trabalho acadêmico em obras postas, autores consagrados, também auxiliam no processo criativo da escritora paraibana, que tem com duas das principais referências latinas de Julio Cortazar e Adolfo Bioy Casares.
"Minha prosa conversa muito com a deles, mas também com a de brasileiros de diversas vertentes, como nossa 'conterrânea' Maria Valéria Rezende, e com estrangeiros como Franz Kafka e o contemporânea Haruki Murakami", concluiu.

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